O florescer da esperança
O céu azul revestia-se de uma grinalda de nuvens que se enfileiravam por toda sua extensão. O sol, em todo seu esplendor, brilhava como em nenhum outro dia havia feito. Era hora de receber a primeira dose da tão esperada vacina da COVID-19. A pandemia que assolou o mundo desde o ano de 2019 cobriu os dias com seu manto cinzento, fez das ruas e praças solidão necessária; era o mundo pedindo um tempo. Ansiou-se pelo sol que nos trouxesse esperança e, chegado o dia, o astro rei iluminou o céu majestosamente. Da janela do carro admirava a vista , as pessoas, aos poucos retomando suas vidas, os raios de esperança, enfim chegavam para desfazer as cinzas da angústia.
No caminho até o local de vacinação tive o privilégio de passar pela Avenida Visconde de Mauá, coroada pelos belíssimos ipês amarelos que lhe compõem. Que paisagem deslumbrante! Até mesmo o mais experiente poeta ficaria atônito diante de tamanha beleza. Recordei-me da infância, do florido quintal da casa de meus avôs, da inocência infantil quando arrancávamos uma florzinha para enfeitar nossos cabelos despenteados. Eram tempos doces, tempos de criança despreocupada, enérgica e ansiosa por um futuro repleto de novidades.
Fui tomada por este sentimento nostálgico e, naquele instante, soube o que fazer; emprestei, de Machado de Assis, a pena, com a qual escreveu tantas crônicas memoráveis, e eu, mera aprendiz, pretendi mentalmente escrever sobre aquela paisagem “ic(r)ônica” – permita-me a licença poética.
Ao longe as árvores floridas formavam um imenso tapete amarelo, digno de desfile, tapete feito para passos leves, para ser apreciado com calma, leveza e gentileza. Os ipês, tais quais crianças sorridentes, eram agitados pelo vento que assoviava melodia de paz, prevendo a chegada de novos dias, dias coloridos.
Por este caminho segui sentindo-me acalentada pela brisa e agraciada pelas incontáveis flores que dançavam parecendo nos aplaudir. Eram aplausos em comemoração a essa conquista. A cidade vibrava confiança, chegavam os ventos da mudança, num piscar já era setembro e, em breve, chegaria a primavera. Enfim a população veria a vida florescer, através de pequenas sementes depositadas no braço de cada um que aceitou recebê-las, sementes que vêm germinar esperança na nova estação que se inicia.
Francielly da Rosa é acadêmica do curso de Letras Português/Inglês na UEPG.