Ainda ontem errei
No acúmulo de papéis, empilhados em notável desordem sobre a escrivaninha: meus erros. A frase incompleta, a pontuação errônea ou despercebida, um verbo conjugado, outro desacompanhado. Um atrevimento… um erro proposital, um atentado gramatical. Nada bom o suficiente, nada aprazível à inevitável crítica e aos olhos do corretor. Uma série de equívocos, imperfeições sutis que visibilizam e afirmam a única certeza que temos na vida: somos falhos.
Mas… o que são os erros?
Enquanto o lápis definhava no papel, a escrita bordada transformava-se cada vez mais em um amontoado de garatujas. Era a mente falando pelos dedos. O pensamento acelerado, a dúvida, a incerteza… o medo de errar. Logo a agitação cessava, o lápis rolava sobre a mesa e a escrita terminava na incompletude de meia página. Era mais uma folha destinada àquela pilha.
O medo de errar tolhe as oportunidades, engaveta bons projetos, destina incerteza às ações. Mas… o que são os erros? Talvez sejam apenas a parte mais natural de nossa jornada.
A noite chega, sento-me diante da pilha de papéis, reviso uma ou outra página e ali percebo… Erro é desconhecimento. Ora! Não se pode exigir que uma criança em tenra idade resolva equações matemáticas complexas! E o que somos nós senão crianças perante a vida?! Que experimentam cada dia e cada momento com os olhos cheios de brilho e curiosidade ante o novo, e, acima de tudo, aprendem diariamente!
Inevitavelmente cometemos uma série de equívocos dos quais, posteriormente, depreendemos o aprendizado. E quando aprendemos a reconhecer esta condição de incompletude nos distanciamos cada vez mais da nossa condição de ignorância. Além disso, reduzimos os julgamentos, minimizamos a cobrança interna, e no lugar do medo surge a vontade de explorar, conhecer e redescobrir.
Ao contemplar a infinitude de textos inacabados, redescubro quem sou e vislumbro quem fui. Não condeno mais os meus erros, mas busco entendê-los, cada qual a sua maneira, no seu conhecimento e desconhecimento, experiência e inexperiência.
Ainda ontem errei… E, sorrindo, tomei a borracha entre os dedos, corrigindo num toque suave o pequeno deslize. Amanhã, talvez, ao contemplar a folha novamente, descubra algo completamente novo, mude de ideia, encontre outro erro perdido com o qual aprenderei a ser a melhor versão de mim.
Ainda ontem errei…. Ainda hoje aprenderei.