Quinta-feira, 25 de Abril de 2024

Coluna Lettera: ‘Ainda ontem errei’, por Francielly da Rosa

2022-04-10 às 11:40

Ainda ontem errei

No acúmulo de papéis, empilhados em notável desordem sobre a escrivaninha: meus erros. A frase incompleta, a pontuação errônea ou despercebida, um verbo conjugado, outro desacompanhado. Um atrevimento… um erro proposital, um atentado gramatical. Nada bom o suficiente, nada aprazível à inevitável crítica e aos olhos do corretor. Uma série de equívocos, imperfeições sutis que visibilizam e afirmam a única certeza que temos na vida: somos falhos.

Mas… o que são os erros?

Enquanto o lápis definhava no papel, a escrita bordada transformava-se cada vez mais em um amontoado de garatujas. Era a mente falando pelos dedos. O pensamento acelerado, a dúvida, a incerteza… o medo de errar. Logo a agitação cessava, o lápis rolava sobre a mesa e a escrita terminava na incompletude de meia página. Era mais uma folha destinada àquela pilha.

O medo de errar tolhe as oportunidades, engaveta bons projetos, destina incerteza às ações. Mas… o que são os erros? Talvez sejam apenas a parte mais natural de nossa jornada.

A noite chega, sento-me diante da pilha de papéis, reviso uma ou outra página e ali percebo… Erro é desconhecimento. Ora! Não se pode exigir que uma criança  em tenra idade resolva equações matemáticas complexas! E o que somos nós senão crianças perante a vida?! Que experimentam cada dia e cada momento com os olhos cheios de brilho e curiosidade ante o novo, e, acima de tudo, aprendem diariamente!

Inevitavelmente cometemos uma série de equívocos dos quais, posteriormente, depreendemos o aprendizado. E quando aprendemos a reconhecer esta condição de incompletude nos distanciamos cada vez mais da nossa condição de ignorância. Além disso, reduzimos os julgamentos, minimizamos a cobrança interna, e no lugar do medo surge a vontade de explorar, conhecer e redescobrir.

Ao contemplar a infinitude de textos inacabados, redescubro quem sou e vislumbro quem fui. Não condeno mais os meus erros, mas busco entendê-los, cada qual a sua maneira, no seu conhecimento e desconhecimento, experiência e inexperiência.

Ainda ontem errei… E, sorrindo, tomei a borracha entre os dedos, corrigindo num toque suave o pequeno deslize. Amanhã, talvez, ao contemplar a folha novamente, descubra algo completamente novo, mude de ideia, encontre outro erro perdido com o qual aprenderei a ser a melhor versão de mim.

Ainda ontem errei…. Ainda hoje aprenderei.

Coluna Lettera

por Francielly da Rosa

Francielly da Rosa é graduada em Letras Português e Inglês pela Universidade Estadual de Ponta Grossa. Atualmente, é mestranda do Programa de Pós-graduação em Estudos da Linguagem, com ênfase em estudos literários, também na UEPG. Ela é escritora, cronista e coautora do livro "Crônicas dos Campos Gerais". Descobre, entre as palavras que lê e escreve, a motivação que sustenta seu viver. Escreve crônicas, contos, poesias e, às vezes, se aventura no gênero romance. Além disso, participa de projetos de incentivo à leitura e de outras atividades culturais. Possui diversas crônicas premiadas e publicadas em jornais e sites locais. Em virtude de seu trabalho como escritora, recebeu duas moções de aplauso da Câmara Municipal de Ponta Grossa. Também foi premiada no Festival Literário de São Caetano do Sul, na categoria miniconto, sendo a única representante da cidade de Ponta Grossa.