Como nascem os leitores
Aquele lugar parecia verdadeiramente um pedaço do céu na Terra. Lembro-me da sensação do encantamento e da calma que repousava sobre nós. Lá tudo era real, os livros ganhavam vida, as fantasias e sonhos se realizavam, as tintas coloriam os papéis e também as almas infantes. A infância tem mesmo esse doce sabor de tudo o que é bom, porém, lá era especial, pois, sentíamo-nos em casa.
Os livros nas prateleiras tinham algo excepcional e indescritível. Num ímpeto, tomávamos à mão um exemplar, folheando as páginas vagarosamente, depois nos acomodávamos nas almofadas que preenchiam o chão da sala, e, ali, permanecíamos extasiados.
As palavras soavam como doces melodias, pairando sobre nossas cabeças como pequenos pássaros. De repente, víamo-nos sobre alvas e macias nuvens, enquanto pequenos pontos luminosos nasciam das páginas, percorriam o ambiente, até repousarem no coração de alguma criança, fazendo despertar um pequeno leitor.
As paredes da sala de leitura revestiam-se com a ternura e brilho infantil, e, todos, mesmo aqueles que não sabiam ler, sentiam-se acolhidos pela amabilidade das palavras da querida Lucélia Clarindo — coordenadora daquele pequeno grupo, conhecido como ‘Bando da Leitura’. Se existem diferentes formas de se tornar leitor, essa é a mais doce que experimentei!
Há leitores que nascem em casa, através do incentivo dos familiares, outros em bibliotecas, escolas, ruas etc. A verdade é que todos somos leitores, ainda que não tenhamos o hábito, pois, desde a tenra idade, aprendemos a ler o mundo, seja em imagens ou palavras.
Trago estas saudosas memórias, e, hoje, emociono-me ao ver outras crianças experimentarem a magia daquela pequena, mas, ao mesmo tempo, tão grande sala de leitura. Por um instante retorno aos meus oito anos, vejo-me diante daquele pequeno grupo, com os olhos maravilhados e a ânsia em desbravar o mundo através das páginas dos livros que encontrávamos lá.
Naquele tempo, não compreendia a importância daquele projeto, que, além de incentivar o hábito da leitura através de atividades lúdicas, construiu valores, além de viabilizar o acesso à literatura para muitas crianças que não tinham essa oportunidade.
Assim como as flores colorem a primavera, o Bando da Leitura coloriu e significou as páginas do livro de minha vida, fomentando em mim a vontade de fazer das palavras abrigo, barco com o qual navegarei e explorarei o mundo, levando sempre comigo esta belíssima história!