Sábado, 16 de Novembro de 2024

Coluna Lettera: ‘Guerra e Paz’, por Francielly da Rosa

2022-03-13 às 11:10

Guerra e Paz

Floresce no jardim da esperança as flores augustas de março. Clareiam ao longe as chamas de um novo amanhã. O futuro em breve nos alcança, porém, no âmago de cada dia, ainda sente-se as reminiscências de um passado inculto, difuso e insistente.

Assim, vemos o futuro apresentar-se entre mesclas do passado.

Os olhos faíscam lembranças, e o doce aroma do porvir cobre-se por espessa nuvem de pólvora. As labaredas internas transcendem os peitos, fervilhando a sede de poder, e chicoteia, incende, até que, impiedosamente, alcance os tranquilos páramos. Então, as chamas esperançosas do amanhã confundem-se com as de outrora, assumindo posição dogmática.

Ouve-se ao longe, no refúgio dos escombros, a melodia dolorida daqueles que ficaram para trás. Longe… longe… longe! O choro, a reza, o suspiro… estrondo!

Aqui, o sol desaparece ternamente, os pássaros escondem-se, o silêncio permeia a vizinhança. Quanta paz há neste lugar! Ah! Paz! Habituo-me a esse silêncio, essa calmaria, ainda que uma ou outra notícia abalem, em maior ou menor grau, esse ambiente cômodo.

Por um momento, esqueço-me que esse mundo maravilhoso, pincelado divinamente de azul e verde em toda a sua extensão, desconhece, em algumas regiões, o sentimento de paz. Ah! Quanta tristeza! Quando penso que lá a esperança definha, cada dia cobre-se de medo, dói! Dói cada vida que se perde querendo tanto viver, lamenta-se o desamparo que caem sobre os inocentes, fazendo-os perecer.

Tanto ansiamos pelo futuro, contudo, a cada dia, parece que retrocedemos ao Velho Mundo. Pelo visto ainda não aprendemos a lição, e o mundo nos faz revisar, dolorosamente, aquilo que outrora deixamos cair em esquecimento, ignoramos. Não se pode esquecer o passado, tampouco apagá-lo, quem sabe se déssemos a ele a devida importância, notaríamos que alguns infelizes governantes assumem posturas de uma direção antiga, de um passado obscuro, e é por isso que os velhos erros à casa tornam!

Hoje, nos resta desejar que, um dia, a palavra guerra volte a remeter a um passado distante, porém, consciente, de intenso aprendizado; que se façam as mudanças necessárias, de postura e de consciência; que a mão estenda-se em gesto de acolhida, invés de recuar pronta para desferir golpes, e, que acima de tudo. os sonhos floresçam novamente.

Coluna Lettera

por Francielly da Rosa

Francielly da Rosa é graduada em Letras Português e Inglês pela Universidade Estadual de Ponta Grossa. Atualmente, é mestranda do Programa de Pós-graduação em Estudos da Linguagem, com ênfase em estudos literários, também na UEPG. Ela é escritora, cronista e coautora do livro "Crônicas dos Campos Gerais". Descobre, entre as palavras que lê e escreve, a motivação que sustenta seu viver. Escreve crônicas, contos, poesias e, às vezes, se aventura no gênero romance. Além disso, participa de projetos de incentivo à leitura e de outras atividades culturais. Possui diversas crônicas premiadas e publicadas em jornais e sites locais. Em virtude de seu trabalho como escritora, recebeu duas moções de aplauso da Câmara Municipal de Ponta Grossa. Também foi premiada no Festival Literário de São Caetano do Sul, na categoria miniconto, sendo a única representante da cidade de Ponta Grossa.