Guerra e Paz
Floresce no jardim da esperança as flores augustas de março. Clareiam ao longe as chamas de um novo amanhã. O futuro em breve nos alcança, porém, no âmago de cada dia, ainda sente-se as reminiscências de um passado inculto, difuso e insistente.
Assim, vemos o futuro apresentar-se entre mesclas do passado.
Os olhos faíscam lembranças, e o doce aroma do porvir cobre-se por espessa nuvem de pólvora. As labaredas internas transcendem os peitos, fervilhando a sede de poder, e chicoteia, incende, até que, impiedosamente, alcance os tranquilos páramos. Então, as chamas esperançosas do amanhã confundem-se com as de outrora, assumindo posição dogmática.
Ouve-se ao longe, no refúgio dos escombros, a melodia dolorida daqueles que ficaram para trás. Longe… longe… longe! O choro, a reza, o suspiro… estrondo!
Aqui, o sol desaparece ternamente, os pássaros escondem-se, o silêncio permeia a vizinhança. Quanta paz há neste lugar! Ah! Paz! Habituo-me a esse silêncio, essa calmaria, ainda que uma ou outra notícia abalem, em maior ou menor grau, esse ambiente cômodo.
Por um momento, esqueço-me que esse mundo maravilhoso, pincelado divinamente de azul e verde em toda a sua extensão, desconhece, em algumas regiões, o sentimento de paz. Ah! Quanta tristeza! Quando penso que lá a esperança definha, cada dia cobre-se de medo, dói! Dói cada vida que se perde querendo tanto viver, lamenta-se o desamparo que caem sobre os inocentes, fazendo-os perecer.
Tanto ansiamos pelo futuro, contudo, a cada dia, parece que retrocedemos ao Velho Mundo. Pelo visto ainda não aprendemos a lição, e o mundo nos faz revisar, dolorosamente, aquilo que outrora deixamos cair em esquecimento, ignoramos. Não se pode esquecer o passado, tampouco apagá-lo, quem sabe se déssemos a ele a devida importância, notaríamos que alguns infelizes governantes assumem posturas de uma direção antiga, de um passado obscuro, e é por isso que os velhos erros à casa tornam!
Hoje, nos resta desejar que, um dia, a palavra guerra volte a remeter a um passado distante, porém, consciente, de intenso aprendizado; que se façam as mudanças necessárias, de postura e de consciência; que a mão estenda-se em gesto de acolhida, invés de recuar pronta para desferir golpes, e, que acima de tudo. os sonhos floresçam novamente.