Sábado, 16 de Novembro de 2024

Coluna Lettera: ‘Nos olhos de minha mãe’, por Francielly da Rosa

2022-05-08 às 08:49
Portrait of a young beautiful woman playing with a newborn. Family concept photo, lifestyle

Nos olhos de minha mãe

Faça-se a luz! E assim se fez! E meus pequeninos olhos azuis, relutantes quanto a claridade externa, contrastaram-se no brilho de seus olhos marejados, de um tom castanho escuro vibrante. No calor de seus braços, ouvia o sereno acalanto, sob a doce vigília do teu olhar. Depois, o azul dos meus olhos tornou-se verde, e eu seguia acompanhando o brilho dos teus, que, tal qual espelho, refletia nos meus também.

Assisti teus olhos preocupados nas infindáveis visitas ao consultório médico e internações, que marcaram o que seriam os primeiros anos dourados de minha existência. Com o passar do tempo, esses pequenos olhos passaram a direcionar os passos imprecisos que lhe procuravam constantemente.

Lembro-me de descobrir em teus queridos olhos, sentimentos diversos, enquanto atentamente ouvia a narrativa de tua história. Trago à memória os incansáveis dias em que subíamos as ruas íngremes de terra e pedregulhos, fazendo o percurso de nossa residência até a casa de minha avó. E, se por acaso chovia, fazíamos disso festa, e íamos pulando de poça em poça.

Em cada momento vivido aprendi a ser exímia observadora, já que, frequentemente, faltavam palavras para exprimir o que sentia. Neste exercício de olhar atento e silencioso, pude observar o quão forte você era. Quando inúmeros personagens ocupavam-se da função de direcionar-lhe, em palavras venenosas, o desânimo, a inveja disfarçada de bem-querer, vi teus olhos tristonhos buscarem em seu âmago a força, força esta que, fugindo à vaidade e o orgulho, fez-te crescer e superar cada degrau nesta escada da vida, deixando-os boquiabertos.

Os anos te trouxeram renovação, alegria e confiança.

Pude vê-la desabrochar como as flores fazem na primavera, revestindo-se de formoso brilho que lhe confere verdadeiro ar de realeza.

Não foram apenas tuas palavras que me ensinaram tudo o que sei… Ainda que nada fosse dito, eu tudo saberia! Pois aprendi a ler o teu olhar.

Vejo nos olhos de minha mãe a esperança, o carinho, a força, e através deles conheci verdadeiramente o amor!

Vejo nos olhos de minha mãe a minha imagem refletida, e vejo-os, desde os primeiros anos de minha vida, revestirem-se de brilho quando encontram os meus.

Ainda que me faltem palavras, vê, mamãe… nestes pequenos olhos tudo o que gostaria de lhe falar, transbordando em lágrimas de amor e admiração; E lendo-os registrará em teus olhos iluminados todo o meu amor!

Faça-se a luz! E que ela se estenda por toda a tua caminhada, enquanto meus olhos puderem assistir os seus!

Coluna Lettera

por Francielly da Rosa

Francielly da Rosa é graduada em Letras Português e Inglês pela Universidade Estadual de Ponta Grossa. Atualmente, é mestranda do Programa de Pós-graduação em Estudos da Linguagem, com ênfase em estudos literários, também na UEPG. Ela é escritora, cronista e coautora do livro "Crônicas dos Campos Gerais". Descobre, entre as palavras que lê e escreve, a motivação que sustenta seu viver. Escreve crônicas, contos, poesias e, às vezes, se aventura no gênero romance. Além disso, participa de projetos de incentivo à leitura e de outras atividades culturais. Possui diversas crônicas premiadas e publicadas em jornais e sites locais. Em virtude de seu trabalho como escritora, recebeu duas moções de aplauso da Câmara Municipal de Ponta Grossa. Também foi premiada no Festival Literário de São Caetano do Sul, na categoria miniconto, sendo a única representante da cidade de Ponta Grossa.