“A tranquilidade nos traz as palavras mais doces… Em um ambiente de paz repousam os pensamentos mais puros… Ah! Mas há sempre uma pedrinha no sapato! E duro mesmo é quando a pedra mora ao lado!”
Ainda que tenha muito a dizer, às vezes, sinto que as palavras escapam entre os dedos, para depois surgirem em momentos inesperados. Em busca de encontrá-las, distancio-me das paredes que me cercam, e encontro no céu de fim de tarde meu refúgio. Os raios de sol veneram as árvores, baixando-se lentamente. A luz que toca as folhas verdejantes assemelha-se a uma fina camada de ouro, realçando o aspecto garboso das folhagens. As nuvens rareiam, e o azul claro do céu se desfaz em tonalidades mais escuras, às vezes, encoberto pelas nuvens cinzentas de chuva, que, impiedosamente, ofuscam o brilho e calor do sol. A brisa gélida a arrepiar a pele, avermelhando a cútis, anuncia o cair da noite. Pouco a pouco, toda a paisagem é tomada por um tom sépia que se estende por todo o entardecer.
Aprecio o sossego desse pequeno canto da cidade, onde os pássaros cantam a melodia leve e doce do porvir, mas até mesmo o lugar mais puro e tranquilo sofre pequenas perturbações, e é nesse momento que me fogem as palavras.
Passo dias abstraindo os sons ao derredor, habituo-me ao sonido ecoante dos carros que transitam na BR perto daqui, ou, ao ladrar dos cães, mas rejeito o estardalhaço proposital oriundo do comportamento espalhafatoso de alguns broncos. Em um dia, a música alta estende-se até o nascer do sol, junto a algazarra incansável; noutro, as portas, provavelmente com algum defeito, só fecham aos socos e pontapés, num estrondo que ecoa por toda a vizinhança.
Em um dia de coragem insana, em resposta ao alvoroço, dirigi-me até o recinto, em tentativa de restabelecer a tranquilidade, e, apesar da concordância inicial, os esforços foram inúteis, pois, outros dias seguiram carentes de respeito e empatia. Neste entrementes, palavras escapam, outras surgem conflituosas. Às vezes, numa brecha silenciosa aconchego-me, e, junto ao cenário natural, encontro a oportunidade perfeita para tecer um texto ou dois.
Repouso a cabeça no travesseiro e aguardo o enfado de mais um dia, até que, vez ou outra, seja surpreendida pelo silêncio ensurdecedor, e, surpresa, respire aliviada.
A tranquilidade nos traz as palavras mais doces… Em um ambiente de paz repousam os pensamentos mais puros… Ah! Mas há sempre uma pedrinha no sapato! E duro mesmo é quando a pedra mora ao lado!