Sábado, 14 de Dezembro de 2024

Coluna Lettera: ‘O mal e o remédio’, por Francielly da Rosa

2021-11-10 às 20:39

O mal e o remédio

Ainda que o sol majestosamente ilumine os dias e nos traga em seus raios a esperança de um futuro melhor, às vezes, somos surpreendidos pela chegada repentina de grandes nuvens cinzentas que ofuscam do astro o brilho.

Neste espaço, em que me noto, vislumbro algo que me intriga, tal qual a chegada súbita da tempestade em dia de céu azul. Vejo-me descortinar um mundo onde os rostos ensolarados escondem o coração nebuloso de muitos, mas, vez ou outra, as máscaras caem, as atitudes revelam as más intenções, e assim descubro a verdadeira face das pessoas.

Creio que o ser humano não seja verdadeiramente mal, e, talvez, exista benevolência, ainda que no coração mais dilacerado pelas tormentas da vida. Refiro-me aqui ao mal em suas diferentes nuances, desde o maltratar por ações, palavras — sendo em minha opinião o pior tipo — e também o mal de forma ampla, como o que nos devasta socialmente em tempos de crise. Compreendo que, por fim, tudo se resume a um único conjunto, pois, se constituímos uma sociedade, e esta vai mal, então também somos responsáveis por isso.

Entre perspectivas e expectativas de mudança, buscamos o remédio para as mazelas do mundo, e, infelizmente, também somos postos à prova nisso. Assim como dizia o filósofo Paracelso: “O que diferencia o remédio do veneno é a dose!”. Alhures, restituímos o mal que hoje nos vitimiza, crendo estar nisso a correção necessária.

Valendo-nos do dito popular “Dos males, o menor!” temos a brecha perfeita para amparar nossas pequenas violações morais. Diariamente contamos mentiras para nos favorecer ou livrar da culpa de algo; roubamos, sejam objetos materiais ou a vez de outra pessoa na fila do banco; privamos a oportunidade do outro de crescimento profissional, se isto está em nossas mãos, por puro medo de concorrência. Por fim, clamamos por justiça e condenamos a corrupção, mas em pequenas ações diárias vamos nos corrompendo, e assim formamos as nuvens cinzentas que cobrem nossos dias ensolarados.

Concluo com isso que o remédio para todos os males que nos afligem é trabalhar em nossa reforma íntima, pois, só assim haverá a verdadeira mudança e conseguiremos construir uma sociedade melhor.

Coluna Lettera

por Francielly da Rosa

Francielly da Rosa é graduada em Letras Português e Inglês pela Universidade Estadual de Ponta Grossa. Atualmente, é mestranda do Programa de Pós-graduação em Estudos da Linguagem, com ênfase em estudos literários, também na UEPG. Ela é escritora, cronista e coautora do livro "Crônicas dos Campos Gerais". Descobre, entre as palavras que lê e escreve, a motivação que sustenta seu viver. Escreve crônicas, contos, poesias e, às vezes, se aventura no gênero romance. Além disso, participa de projetos de incentivo à leitura e de outras atividades culturais. Possui diversas crônicas premiadas e publicadas em jornais e sites locais. Em virtude de seu trabalho como escritora, recebeu duas moções de aplauso da Câmara Municipal de Ponta Grossa. Também foi premiada no Festival Literário de São Caetano do Sul, na categoria miniconto, sendo a única representante da cidade de Ponta Grossa.