Domingo, 17 de Novembro de 2024

Coluna Lettera: ‘Pontos e vírgulas’, por Francielly da Rosa

2021-09-26 às 11:12

Pontos e vírgulas

Muitos de nós somos instruídos na escola a utilizarmos vírgula como pausa para respirar, o que está completamente errado. O que seriam dos asmáticos e demais pessoas com problemas respiratórios nessas horas? Perdoem-me a brincadeira, mas há aqui algo interessante que gostaria de abordar. Falo de pontos e vírgulas metafóricos.

Provavelmente, vocês já ouviram alguém dizer: “Isso precisa de um ponto final!”, ou seja, situações que precisam ser encerradas e que vão desde o âmbito pessoal, como findar um relacionamento conflituoso, ao social, como, por exemplo, a frustração com a qual deparamos ao tomar conhecimento das notícias de corrupção que há anos vêm devastando o governo.

O que quero dizer é que, em alguns momentos, é necessário, para além de conhecer as regras gramaticais do emprego de vírgulas e pontos, sabermos quando os utilizamos em nossa vida. Metáfora interessante, não é mesmo? E complemento – aqui peço a devida licença ao exímio professor Edgar Talevi, conhecedor da gramática, pois atrevo-me a brincar um pouco com as regras em sagaz tentativa de exemplificar aquilo a que me proponho – fazem-se necessárias vírgulas que nos permitam mesmo que brevemente descansar as mentes abarrotadas de lamúria e desprazimento mentes que habitam corpos fustigados pela labuta diária e que almejam o ocaso que vem trazer o merecido descanso.

Caros leitores, creio que sentiram falta de algo no parágrafo anterior! Não? Ah! As  tantas vírgulas da vida! Pois assim sente sua mente quando não se permite uma pausa. O fato é: saber a hora certa de fazê-la. E o mesmo ocorre com pontos finais. Não se iniciam novos parágrafos sem antes pôr um ponto final! E isso seja no texto ou na vida.

Estava eu, embalando-me na rede, em minha casa, e pensando sobre isso. A dúvida em não saber qual o momento ideal para utilizar a vírgula ou pontuar e iniciar um novo parágrafo nos faz recorrer à boa e velha gramática, mas… e quanto à vida? A que gramática devo recorrer? No silêncio das incertezas, imersa na angústia do existir, pensava.

Quando era menina, costumava fazer isso também, embalar-me prazerosamente na rede da casa de meus avós. Era meu singelo cantinho do pensamento, no qual eu mesma me colocava. O motivo para tal? Não sei, talvez pela adrenalina de contemplar meus próprios pensamentos, entre um embalo e outro, ver as coisas do alto, sentir o frio na barriga, buscar novos ângulos, observando cada detalhe. Agora, adulta, as reflexões ganham outras perspectivas, mas o processo é o mesmo. A mulher que sou e a menina que fui se esbarram no balançar da rede,  cada qual envolta em pensamentos, sonhos, desejos e dúvidas.

Nos altos e baixos do balanço da rede e da vida, acima de tudo, é preciso que se considere que aquilo que enxergamos depende do ângulo pelo qual estamos olhando, pois, não se espera contemplar as estrelas quando os olhos estão voltados ao chão!

Olhar, ler, reler, estudar, eis o segredo para saber quando utilizar pontos e vírgulas! Recomendo a prática desse salutar exercício. E aqui, onde faço o ponto final desta crônica, sei que deixarei uma vírgula em sua consciência… E ponto.

Coluna Lettera

por Francielly da Rosa

Francielly da Rosa é graduada em Letras Português e Inglês pela Universidade Estadual de Ponta Grossa. Atualmente, é mestranda do Programa de Pós-graduação em Estudos da Linguagem, com ênfase em estudos literários, também na UEPG. Ela é escritora, cronista e coautora do livro "Crônicas dos Campos Gerais". Descobre, entre as palavras que lê e escreve, a motivação que sustenta seu viver. Escreve crônicas, contos, poesias e, às vezes, se aventura no gênero romance. Além disso, participa de projetos de incentivo à leitura e de outras atividades culturais. Possui diversas crônicas premiadas e publicadas em jornais e sites locais. Em virtude de seu trabalho como escritora, recebeu duas moções de aplauso da Câmara Municipal de Ponta Grossa. Também foi premiada no Festival Literário de São Caetano do Sul, na categoria miniconto, sendo a única representante da cidade de Ponta Grossa.