Segunda-feira, 18 de Novembro de 2024

Coluna Lettera: ‘Questão de tempo’, por Francielly da Rosa

2021-10-24 às 10:00

No silêncio do meu quarto, a solidão arrebata-me a psique, e ali, contemplo minha incompletude e pequenez. O tempo nos corrói, e nesta façanha que é a vida, emaranhamo-nos. Na quietude do cômodo, viajo, sonho, embarco em uma calma retrospectiva, então percebo que não sou quem era ontem, e amanhã serei outra pessoa.

Ali, naquele momento, faço planos, rabisco algo no papel, espreito o céu e sua mescla de cores divinas. Diariamente o mesmo espaço celeste consegue ser tão diferente e belo, abóbada celeste em que repousam nuvens alvas, berço daqueles que sonham, lar de olhos brilhantes e admirados. Imagino que lá de cima, eu, mero cisco, sou também observada. Ah! Quem sabe os mistérios que jazem no cosmos!

Observo o tempo passar… Como o tempo passa! O café esfria, os amores se renovam, as feridas se curam e renascemos, assim como o céu que todo dia se apaga, depois surge em cores extraordinárias. Ainda, à noite, podemos contemplar as pequenas luzes acesas, lares dos pirilampos, e refúgio dos poetas e sonhadores.

Em meio ao meu devaneio, volto a rabiscar, escrevo, apago, amasso a folha, começo novamente, processo que se assemelha à vida, se assim pensarmos, num grande ciclo de renovações. Envoltos na areia do tempo não nos damos conta da efemeridade de nossa existência, ou quando damos, às vezes, é tarde demais.

Nesse momento deparamos com a ansiedade diante de um futuro incerto e tornamo-nos seres reflexivos que, ante a solidão e o medo, refazem seus passos, de modo a cumprir tudo o que não foi feito até então. O tempo, que era tão longo, torna-se curto; anos passam num piscar de olhos, a vida desabrocha, perde suas preciosas pétalas e,  por vezes, restam apenas arrependimentos.

Em nossa inferioridade, abarrotados pela rotina, sempre almejando o que não temos, frequentemente, deixamos de nos ater ao agora e admirar as pequenas belezas da vida, que, se fossem citadas aqui, alongar-se-iam em infinitas possibilidades. Deixo para você, caro leitor, a tarefa de pensar sobre isso. Tudo é questão de tempo e de como você o aproveita.

Por isso, antes que o dia termine e os olhos se fechem para sempre e você não consiga  dizer o que sente, ouvir sua música favorita, admirar as cores do céu, ou provar uma nova comida, viva o hoje! Sorria hoje! Enquanto há chance, enquanto há tempo para desfrutar do prazer de viver e amar como se não houvesse amanhã, pois, o amanhã talvez não chegue… tudo é questão de tempo e ninguém sabe quanto tempo tem!

Coluna Lettera

por Francielly da Rosa

Francielly da Rosa é graduada em Letras Português e Inglês pela Universidade Estadual de Ponta Grossa. Atualmente, é mestranda do Programa de Pós-graduação em Estudos da Linguagem, com ênfase em estudos literários, também na UEPG. Ela é escritora, cronista e coautora do livro "Crônicas dos Campos Gerais". Descobre, entre as palavras que lê e escreve, a motivação que sustenta seu viver. Escreve crônicas, contos, poesias e, às vezes, se aventura no gênero romance. Além disso, participa de projetos de incentivo à leitura e de outras atividades culturais. Possui diversas crônicas premiadas e publicadas em jornais e sites locais. Em virtude de seu trabalho como escritora, recebeu duas moções de aplauso da Câmara Municipal de Ponta Grossa. Também foi premiada no Festival Literário de São Caetano do Sul, na categoria miniconto, sendo a única representante da cidade de Ponta Grossa.