Qualquer reflexão que se faça sobre a humanidade e seus avanços nos últimos 60 anos, depois da II Guerra, inexoravelmente levará à conclusão de que foram tempos de bonança e de alguma brandura. Tempos de liberdade e de democracia na maior parte do mundo, por considerável tempo. Mesmo nos locais com regimes menos democráticos, houve alguma atenção e respeito ao que se entende por direitos humanos, com algumas tristes exceções e sempre com um comparativo no passado mais distante.
A ciência propiciou incremento de bens de conforto que sequer poderiam ser sonhados. Um comparativo entre a produção por hectare que se alcançava (não muito) antigamente e a que se alcança na atualidade indica um incremento fenomenal. Se alguém voltasse no tempo uns 40 anos e contasse a algum agricultor daquela época, seria chamado de mentiroso. Talvez fosse internado.
As vacinas nos imunizaram de uma gama de doenças que atemorizava nossos antepassados. O acesso à educação e à saúde, se por um lado ainda é um objetivo, por outro, e em comparação ao passado, teve consideráveis progressos. Mesmo as pessoas com menor poder aquisitivo têm acesso à internet e redes sociais, na sua maioria. Enfim, tempos de brandura e bonança.
E esse pensamento traz à tona uma frase que se tem dito amiúde: Homens fortes criam tempos fáceis e tempos fáceis geram homens fracos. Homens fracos criam tempos difíceis e tempos difíceis geram homens fortes.
Se o período de “facilidades” já dura 60 anos, por acaso nossa geração é feita de homens fracos? Certamente que não. E mais ainda. Admitir a fraqueza não irá nos causar nada que não seja ficarmos de joelhos aos prantos sem qualquer poder de reação ou mudança.
Não são as facilidades que nossos antepassados nos legaram a custa de suor, sangue e sacrifício que nos fazem fracos, mas a falta de disposição de enfrentarmos os problemas que essa quadra da existência nos impõe. E essa disposição está em nós. Apenas reclama que nos façamos fortes. Que paremos de achar que podemos ter qualquer opinião sobre qualquer assunto pautados em discussões de redes sociais sem nenhum conteúdo. Que abracemos nossas cruzes com coragem e que sigamos em frente.
Não se trata de sair para qualquer linha de frente. Não se trata de sair abraçando ou repelindo correntes ideológicas. A ideologia não é um fim. É um meio para alcançar determinados fins. Não nos enganemos. Não nos adianta discutir isolamento ou cloroquina enquanto esses importantes assuntos estiverem apenas servindo à discussão ideológica. Seremos apenas conduzidos. Um em tantos entre a massa (another brick in the wall). Os bons ou maus resultados, apenas um detalhe sem importância.
Daí que precisamos resgatar a sanidade. A capacidade de vermos as coisas por nós mesmos. Submeter nossa vontade e vencer as paixões. Aí sim poderemos mostrar às gerações futuras nossa força e poderemos criar melhores tempos para eles, tanto quanto dos nossos recebemos. Venceremos a pandemia. Venceremos as crises. Não sem sacrifícios. Não sem dificuldades. Mas com o ímpeto de quem sabe possuir a força e a inteligência necessária para seguir avante.
MARCOS BIGOLIN é juíz de Direito em Chapecó (SC). | Imagem: Reprodução Freepik