Texto de autoria de Francielly da Rosa, professora da rede municipal de Ponta Grossa e estudante de Letras na UEPG. Produzido no âmbito do projeto Crônica dos Campos Gerais, da Academia de Letras dos Campos Gerais (https://cronicascamposgerais.blogspot.com/).
O entardecer nos campos de minha infância
Hoje peguei-me a admirar o findar do dia na Praça do Pôr do Sol; como é incrível! Nesta época do ano podemos contemplar os tons de vermelho pincelados divinamente, entrecortados por tons pastéis de roxo, alaranjado e azul. As nuvens, tais quais batidas suaves de pincel, alongam-se horizontalmente, até que a sua alvura perca-se na mistura das cores. Meus deleitosos olhos acompanham as árvores que compõem esta paisagem invernal, vez ou outra esbarrando em alguma casinha que as interrompe. Num lapso de tempo estou ali e já não estou mais, sou levada às memórias de infância quando, junto de meu avô, sentava no campo em frente à sua casa e assistia ao belíssimo espetáculo da natureza.
Todo entardecer traz o cheiro de meu avô e também suas palavras: “Vem frio por aí!”. Eu, na pequenez de minha idade, nunca entendi como alguém poderia saber que esfriaria pela coloração do céu, porém nunca questionei, já que, de fato, tudo acontecia como ele previa. Lembro-me das bochechas rosadas, os olhos faiscantes, a ponta do nariz beijada pelo vento frio, depois adentrávamos a casa e nos agasalhávamos, mas, apenas aquela paisagem mantinha o coração quentinho.
Desperto do devaneio, ao que as residências ofuscam-me a visão, e cruzo o Parque do Pôr do Sol, na Rua Visconde de Nácar. Em meio às minhas memórias, retomo as palavras da poetisa ponta-grossense Anita Philipovsky em seus consagrados versos Os poentes de minha terra. Vejo-me tal qual Anita (porém, eu, uma ínfima aprendiz), escrevo mentalmente versinhos que, de certo modo, consigam exprimir de minhas memórias o âmago, versos estes que foram primeiramente escritos com os olhos.
Continuo meu caminhar, mas minha mente plaina sobre os campos e as casas e vai buscar os raios de sol para aquecer-me o corpo, e vai buscar Anita para aquecer-me o coração. Que belo dia este! Que belo presente nos deu a Princesa dos Campos! Aviso-te, querida poetisa, que os poentes continuam tão belos que só! Tinhas razão! Creio que podes vê-los ou até mesmo pintá-los divinamente, as linhas de teus versos são onde chão e céu se encontram, então mescle teu lirismo e carisma na vivacidade do entardecer.
Penso comigo se quando Anita Philipovsky escreveu seus versos fazia frio, assim como meu avô dizia sobre os dias de céu colorido, e esta quimera me constrói; então me faço mistura de poesia, memória e experiência. Em se tratando de experência, hoje o céu estava vermelho, então leve um casaco porque vem frio por aí!