Texto de autoria de Nery Aparecido Assunção, escritor, historiador, funcionário da Prefeitura de Tibagi, diretor do Museu Histórico Desembargador Edmundo Mercer Júnior. Produzido no âmbito do projeto Crônica dos Campos Gerais, da Academia de Letras dos Campos Gerais (https://cronicascamposgerais.blogspot.com/).
PERSONAGEM TIBAGIANO
Quando escrevi essa crônica “Nho Orico” ainda era vivo.
Saindo logo de manhã, pelas ruas de Tibagi, segue em direção à rodoviária, com os braços cruzados para trás, estilo e pose de nobre, caminha lentamente, a figura folclórica do Nhô Orico. Chega à rodoviária, olha a saída dos ônibus, observa as pessoas que desembarcam e, lentamente, senta-se em um banco da rodoviária, olha os passageiros que descem do ônibus.
Em época outrora, Nhô Orico ajudava a levar as bagagens dos tibagianos que chegavam de viagens. O que passa pela sua cabeça?
O que pensa ao olhar a transformação dos tempos balançando sua perna no banquinho?
Na quietude do tempo, levanta-se e segue caminhando pela rua Almeida Taques, olhando cuidadosamente ao cruzar as travessas. Na escuta de um barulho de automóvel ele toma cuidado e após não haver mais perigo atravessa a rua.
Chegando à Praça Matriz, olha o movimento, pessoas o cumprimentam. Responde ele bom dia ou “bueno”. Para pessoas que estima, ele pede “bença madrinha” e beija a mão da protetora. Chega à padaria do senhor Nivan, toma um café, se alimenta de um sanduíche, sempre oferecidos por algum cidadão que o estima. Sempre agradece dizendo “Deus que Ajude”, fica por alguns minutos e sai da padaria, cumprimenta os taxistas.
Aproxima-se da agência bancária, olha o movimento da porta giratória.
Atravessa a rua, lembra-se do seu quadro pintado pela artista Margarida que ficava em exposição no antigo banco, nos dias de hoje em exposição no Museu Histórico.
Ao passar em frente à Igreja Matriz olha e faz seu agradecimento católico e segue em direção do Museu. Lentamente ele sobe a escada e sorrateiramente se aproxima, fica por alguns minutos olhando algumas fotografias, Nhô Orico reconhecia as pessoas nas fotos usando esse termo: “Ah! Eu me lembro sim”.
Sai do museu com destino à lanchonete Varandão, ao cruzar com as pessoas, algumas lhe perguntam: e o Palmeiras, Nhô Orico? Solta ele uma gargalhada. Senta-se em um banco em frente à biblioteca por alguns minutos. Levanta-se e segue em direção à lanchonete, olha o movimento, passa silenciosamente a murmurar: “eu já chego lá”. Logo chega ao seu destino, a lanchonete Varandão, senta-se em uma cadeira, olha alguns lances na televisão, por ali faz a refeição, tira um cochilo momentâneo. Logo em seguida retira-se e volta para casa. Saudoso Nhô Orico deixou saudade! Doador de sangue, salvou diversas vidas, cidadão Benemérito de Tibagi – seu nome era Eurico Pastorino Ribeiro Taques.