Texto de autoria de Mouzar Benedito da Silva, jornalista, residente em São Paulo. Produzido no âmbito do projeto Crônica dos Campos Gerais, da Academia de Letras dos Campos Gerais (https://cronicascamposgerais.blogspot.com/).
Ponta Grossa: cadê os bares?
Minha segunda passagem por Ponta Grossa foi em 1997, com a Célia, minha mulher. Quis refazer de ônibus a primeira viagem que fiz para o Sul uns vinte e poucos anos antes, de trem.
Na primeira viagem, ficava só uma noite em cada cidade e não deu para conhecer Vila Velha, que eu queria muito. Então desta vez decidimos parar no mínimo dois dias na cidade.
Ponta Grossa tinha crescido bastante. Melhorou? Em muitos aspectos, sim. Mas como ocorreu em quase tudo quanto é cidade brasileira, piorou em outros.
Na primeira viagem, me hospedei num hotel de tábuas, um sobrado, quase ao lado da estação. Deixei as coisas lá e fui direto para a praça principal, poucos minutos de caminhada. Era bonita, tinha uns bons bares e restaurantes e um cinema bom.
Depois de bebericar por ali, dar um passeio, resolvi ir ao cinema, estava passando o filme “A casa da noite eterna”. Assisti e voltei para o hotel. Se eu tivesse medo de assombração, não teria dormido, pois as tábuas estalavam de vez em quando. E eu tinha acabado de assistir a um filme de terror.
Bom, mas vamos ao que me frustrou, além da já esperada extinção do transporte ferroviário, que vinha sendo detonado no Brasil inteiro. A praça que eu achei tão bonita estava com ares decadentes, não dava gosto passear por ela. Bares… Ah, não vivo sem eles. Não achava um legal. Falei pra Célia: “Vamos pra praça onde fica a Universidade. Estudantes frequentam bares”. Fomos e havia bares sim, mas não gostamos deles.
Voltamos para o hotel e brinquei com o rapaz da recepção, perguntando se não tinha bons bares na cidade. E ele respondeu, indicando um concorrente: “Tem sim… O bar do hotel tal é muito bom”. Fomos lá, meio com o pé atrás. E não é que o bar era muito bom mesmo? Tinha um pianista tocando muito bem, e havia boas bebidas a preços bem baixos. “Compradas no Paraguai, por isso são tão baratas”, pensei. Será que eram falsificadas? Não eram. Rum cubano e uísque escocês a preços bem baratinhos.
Perguntei ao garçom que uísque me recomendava e ele foi seco: “Bala 12”. Uísque escocês com esse nome? Bom… Vamos ver. Pedi e ele veio com a garrafa servir. Em Ponta Grossa, Ballantine’s 12 anos era Bala 12. Gostei.