Novo livro de Miguel Sanches Neto aborda jornada desmistificadora e existencial por Portugal; autor também publica a sua poesia reunida
por Melissa Eichelbaun
Os amantes da arte do romance têm tudo para se apaixonar pelo novo livro do escritor e reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Miguel Sanches Neto. Sua mais nova obra dentro do gênero, o livro “O Último Endereço de Eça de Queiroz” (Companhia das Letras, 2022) trata com humor o grande autor português que empresta nome ao título, ousando tirar do pedestal um dos ficcionistas que mais assombram a literatura brasileira de lá do outro lado do Atlântico. O narrador assume o pseudônimo Rodrigo S. M., sequestrado de “A hora da Estrela”, de Clarice Lispector, e deixa para trás o seu passado ordinário. Decidido a cruzar o oceano em busca de, em suas palavras, “civilização”, ele parte para Portugal em uma jornada que se equilibra entre a ironia cáustica e a homenagem ao panteão de escritores da literatura lusa.
Sanches Neto explica que o livro nasceu de suas visitas a casas-museus e fundações dedicadas a escritores portugueses durante o período de um ano em que viveu em Portugal. “É uma ideia de 2015, que eu fui reelaborando ao longo dos anos, para mostrar um certo deslumbramento do brasileiro em relação ao Velho Mundo. O narrador quer se afastar do Brasil, conviver com a cultura portuguesa, mas esta fuga será uma viagem de grandes mentiras que ele cria sobre si mesmo e que o levará a uma experiência de autoconhecimento”, detalha, acrescentando que a obra é “uma espécie de guia dos lugares literários de Portugal, servindo como uma introdução àquele país tão presente em nossa maneira de ser”.
Poesia
Autor que transita por todos os gêneros literários, Sanches Neto também tem um lançamento na área de poesia: “A Ninguém e Poesia Reunida” (Patuá, 2021). “Esse livro é a reunião de todos os meus poemas, para marcar os 30 anos de estreia literária. É comum, nas datas cheias, que os poetas colecionem em um único volume a produção até o momento. Eu estreei em 1991, então em 2021 fiz 30 anos na condição de autor”, explica.
A obra também marca um momento de entressafra na produção de Sanches Neto – e de certo pessimismo com o mercado literário. “Vivo um momento em que não pretendo mais escrever literatura, o que reforçou a ideia de republicar livros esgotados e de publicar o livro inédito, que se chama ‘A Ninguém’, como se eu estivesse dedicando esta obra a um tipo de leitor, o de literatura com valor literário, que não existe mais no cenário nacional”, descreve.
Novidades
Sanches Neto adianta que tem mais um novo romance previsto para sair no próximo ano. “Esse novo romance foi escrito antes de ‘O último endereço de Eça de Queiroz’ e sairá pela editora Maralto. Chama-se ‘Inventar um avô’ e traz uma história sobre o desaparecimento de imigrantes pobres vindos da Espanha no começo do século XX”, detalha, acrescentando que a obra enfoca uma invisibilidade social que “decorre de uma pobreza material e linguística de grupos nômades que estavam sempre na nova fronteira agrícola de São Paulo, sem poder dar escola aos seus filhos, destinados ainda em criança ao trabalho rural”. “É um romance que dialoga com a história de minha família, embora seja ficção”, conclui.
