Quinta-feira, 25 de Abril de 2024

D’P Cultura: Giana Althaus, uma artista de seu tempo!

2022-04-17 às 14:26

por Enrique Bayer

Bombada nas redes sociais, onde já acumula quase três milhões de seguidores entre Instagram e TikTok, a cantora e musicista Giana Althaus mostra que artistas do século XXI precisam ser multitarefa

 

Um cover, na bateria, de “Basta Você me Ligar”, dos Barões da Pisadinha, foi tudo que a cantora e musicista paranaense Giana Althaus precisou para provar que a combinação de talento e dedicação geralmente resulta em sucesso. Depois de postar o vídeo com a sua versão nas redes sociais, Giana foi repostada por Neymar. Desde então, a vida da jovem de 21 anos nascida em Curitiba, mas ponta-grossense de coração, nunca mais foi a mesma.

Antes de postar o vídeo que a catapultou para o sucesso, Giana tinha meros 70 seguidores no TikTok, a maioria familiares e amigos. “Um colega meu, o Bruno, me perguntou: ‘Por que você não posta vídeos? Você tem muito potencial’. Aquilo ficou na minha cabeça”, lembra a artista. No dia seguinte, sem imaginar a fama que viria, Giana postou exatamente o cover de “Basta Você me Ligar”. “Foi essa conversa com ele que me encorajou. Se ele não tivesse falado para postar o vídeo, eu nunca teria me dado conta de que é uma coisa rápida e fácil”, reconhece.

Agora, com mais de dois milhões de seguidores no TikTok e mais de 790 mil seguidores no Instagram, ela aproveita o sucesso de “Vai e Vem”, a sua primeira música autoral cantada em português, e planeja um álbum de música autoral. “Eu sempre tive o sonho de ser uma cantora reconhecida, mas não achava o caminho. No meu caso e no caso de muita gente, o negócio é fazer. Não pode ter vergonha. Tem que gravar e postar. Se você não postar, ninguém vai te ver, e, para você ser visto, você tem que se dar a permissão de as pessoas te verem”, explica.

Para fazer sucesso, Giana surfou na onda… do sucesso. Quando ela viralizou, a música dos Barões da Pisadinha estava entre as mais ouvidas do país. Um cover naturalmente atrairia o público. Ser uma mulher tocando bateria também foi, segundo ela, um chamariz de cliques. “Mulher tocando forró na bateria? Eu nunca tinha visto um vídeo. Então eu falei: ‘Pô, vou fazer uma coisa diferente’”, recorda.

Para ela, a constância nas redes sociais também foi, e ainda é, um fator determinante para o sucesso. “Ninguém quer ver um vídeo seu e ‘Tchau, obrigado’. O que você faz a mais? É por isso que eu cresço. Eu faço coisas diferentes. Eu toco violão, depois faço uma dança, depois faço uma coisa engraçada com a minha mãe… É isso que o povo gosta de ver”, avalia.

“No meu caso e no caso de muita gente, o negócio é fazer. Não pode ter vergonha. Tem que gravar e postar”

 

Talento natural

A fama, já consolidada, é recente. O envolvimento com a música, no entanto, vem de longa data. Aos seis anos de idade, as aulas de teclado já faziam parte da rotina da pequena Giana. Ela, inclusive, chegou a se apresentar publicamente em um recital do colégio. Naquela época, no entanto, ela considerava o instrumento “chato” e parou.

Anos depois, foi o violão que a colocou de volta nos trilhos da música, dos quais jamais sairia novamente. Ali, nas aulas com o violão, aos dez anos de idade, a professora e a mãe perceberam que o talento era natural, e a voz da menina chamou a atenção. “Eu estava em uma aula, tocando violão e cantando baixinho, acompanhando a melodia”, relembra. A professora pediu que Giana parasse e chamou a mãe, Maiza. Quando a filha voltou a cantar, a mãe soube que ali havia talento. “Ela ficou com cara de ‘Meu Deus, o que está acontecendo?’ Naquele dia, a minha professora disse que eu era afinada, e, com aquela idade, eu nem sabia o que significava ser afinada”, conta.

 

Multi-instrumentista

Desde então, o canto tem sido aprimorado com aulas que prosseguem até hoje, e a técnica evoluiu não só no uso das cordas vocais: Giana toca bateria, cajón, bongô, caixa, tamborim e outros instrumentos de percussão. Além disso, o violão, a guitarra, o teclado, o piano, a gaita de boca, o ukelele e o cavaquinho também fazem parte do repertório da artista. Ela conta que a curiosidade sempre foi uma grande aliada. “Eu pegava o instrumento e ficava ‘Gente, como que toca isso aqui? Vou levar para casa’. E aí, até eu devolver, eu já tinha aprendido”, aponta.

De tanto aprender, a artista já sabia tocar vários instrumentos desde a primeira aparição no YouTube, onde começou a postar vídeos que foram para além do círculo de amigos. Apesar de saber agora que “o negócio é fazer”, ela conta que o cover que deu o pontapé na carreira já era “meio produzidinho” e mostrava a habilidade da jovem com mais de um instrumento. “Eu gravei violão, depois gravei cajón… Então, eu acho que, desde lá, eu já estava querendo saber como é esse mundo [de ser multi-instrumentista]”, afirma.

“Ninguém quer ver um vídeo seu e ‘Tchau, obrigado’. O que você faz a mais? É por isso que eu cresço. Eu faço coisas diferentes”

 

Ao lado dos ídolos

Mas tocar muitos instrumentos não impede que Giana forme uma equipe em torno dela. No clipe de “Vai e Vem”, estão creditados Leticia Futata (montagem, produção e direção), Vinícius de Lima (fotografia), J.P. Foltran (gaffer), Sofia Romani (direção de arte), Iago Mauad (cores), Gabriella Savagin (maquiagem) e Thays Ribeiro (figurino).

A produção da música ficou por conta de Matheus Stiirmer. A composição é uma parceria entre Giana, Carol Biazin, Juan Marcus e Daniel Ferreira. A mixagem é responsabilidade de Pedro Peixoto, e a masterização, de Fili Filizzola.

Estar em evidência foi o que possibilitou a Giana trabalhar com profissionais que ela admira. É o caso de Carol Biazin, que, por coincidência, também é paranaense, natural de Ivaiporã. Biazin lançou, em novembro de 2020, o álbum Beijo de Judas, com participações de Luísa Sonza, Gloria Groove, Vitão e Dilsinho. “Eu vi que a Carol me seguia e chamei ela no Instagram, com muita vergonha – a Giana também tem vergonha, pessoal. Foi uma mensagem toda ‘ensaiada’. Ela me respondeu e já começamos a conversar no WhatsApp. É muito legal poder conversar e trabalhar com essas pessoas que eu admiro”, afirma.

 

Álbum

Com as portas do mercado da música já abertas, Giana conta que um álbum com música autoral é um sonho que está nos planos. “Acho que o trabalho mais lindo que um artista pode fazer é um álbum”, garante. “Eu não posso falar muito, porque não vai ter surpresa quando eu lançar, mas eu queria que trouxesse todos os lados da Giana. Eu queria muito que trouxesse tudo aquilo que fez a Giana ser o que a Giana é hoje”, revela.

Questionada sobre experimentar outros gêneros além do pop e do R&B, nos quais se diz “mais confortável por causa da voz”, a cantora observa que “tudo é treino”. “Nada impede de um dia eu começar a cantar rock”, exemplifica.

 

Fama

Paralelo à música, Giana cursa Direito na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e confessa que a conciliação entre os estudos e a carreira musical está cada vez mais difícil. Apesar do sucesso na arte, a aluna Giana, agora no quinto e último ano do curso, sonha com a graduação. “Quando eu não tinha ‘dado certo’ na música, eu acreditava que seguiria carreira no Direito, mas hoje eu não consigo me imaginar em outra área que não seja a música. Eu não consigo me ver feliz em outra coisa que não seja em cima de um palco”, confessa. “Eu vou ser advogada, mas vou ser uma cantora advogada”, brinca.

Os estudos não foram os únicos afetados pelo sucesso na música. A carreira musical também interfere nas saídas de Giana. Ela conta que é frequentemente parada na rua, mas garante que isso não é um problema. “Eu adoro que me pare na rua e peça para tirar foto. Eu gosto do carinho, eu gosto do reconhecimento”, admite.

Nos bares, a situação é mais caótica. Nesses locais, segundo ela, é que está a maior parte do público que a acompanha nas redes sociais. “Sempre tem alguém me vendo ou me procurando. Eu ia falar que não posso sair de chinelo e meia para ir ao mercado, mas eu vou de chinelo e meia ao mercado, não importa quem me pare”, brinca.

Seja no mercadinho da esquina ou Brasil afora, Giana passa por situações curiosas que só a fama pode proporcionar. Em um show em Campinas (SP), a artista encontrou uma fã do Rio Grande do Norte que tinha viajado especialmente para vê-la. Aos prantos, a garota teve a oportunidade do abraço, e Giana, incrédula, precisou que o namorado da menina confirmasse a veracidade da história. Ali, a artista foi tomada por um sentimento de gratidão. Brincando, ela conta que não sabia o que fazer. “Eu fiquei na dúvida entre abraçar, chorar junto ou ajudar a menina com a passagem de volta. É longe demais.”

“Amigos e familiares dizem que eu não mudei [com o sucesso], e eu fico muito feliz, porque não quero mudar a minha essência”

 

Família

E, se os fãs vão até lugares distantes para demonstrar carinho, Giana pode dizer que a família foi o seu primeiro núcleo de fãs. O incentivo veio desde pequena, com a mãe acompanhando a descoberta do talento, por exemplo, mas vai além disso. Como ela começou a se interessar pela música ouvindo cantores americanos e britânicos, a fluência na língua inglesa sempre foi uma preocupação dos pais.

O mesmo aconteceu com o conhecimento musical e a aquisição de melhores instrumentos. “Quando veio o sucesso, para eles não foi uma surpresa. Foi tipo: ‘Ok, agora nós vamos investir ainda mais em você.’ Minha família está muito do meu lado. Eles são as melhores pessoas do mundo para trabalhar comigo e dar o apoio de que eu preciso”, declara.

E o apoio será cada vez mais necessário, já que a carga de trabalho tem aumentado. E, assim como em qualquer outro ramo, o trabalho com a música também gera momentos de estresse. “Felizmente, é uma coisa que eu posso juntar. Quando eu estou muito estressada com música, eu vou tocar uma música. Toco alguma coisa mais pesada na bateria e em cinco minutos já estou de boa”, ri.

 

Pernas bambas

Perguntada sobre estar satisfeita com a carreira no estágio atual, Giana diz que estar satisfeita agora é sinal de que alguma coisa está errada. Com o bom humor característico, mas com a ambição que a carreira musical reforçou, ela diz que sonha com o dia que a sua música seja cantada “por multidões em todos os estados do Brasil”.

Ela confessa que a sensação de cantar ao vivo é “de bambear a perna” e que é um “jogo com a mente”. Mas, ao mesmo tempo, recorda com alegria uma apresentação no Allianz Parque, em São Paulo (SP), para 40 mil pessoas. “Foi a melhor experiência da minha vida. Eu pensei: ‘Giana, isso aqui é o que você sonhou a sua vida inteira e você está realizando, aproveita o momento’.”

Apesar das vivências marcantes com a música, o sucesso não mudou o “jeito Giana de ser”, garante ela. “Os meus amigos e familiares dizem que eu não mudei, e eu fico muito feliz, porque não quero mudar a minha essência. A única coisa que mudou foi a minha postura em relação à música, que agora exige mais profissionalismo”, conclui.

 

Conteúdo publicado originalmente na Revista D’Ponta #289 Março/Abril de 2022.