Pela primeira vez no Festival Internacional de Londrina (FILO), o coletivo mexicano Lagartijas Tiradas al Sol traz para Londrina o espetáculo “Tijuana”, parte da série de trabalhos La Democracia en Mexico, que pretende abrir o debate sobre o significado desse regime político e suas contradições, incluindo a precarização e impactos econômicos, sociais e emocionais. A montagem será apresentada no Cine Teatro Ouro Verde, nesta quarta (28) e quinta-feira (29), às 20h30. Ingressos estão à venda pelo site www.filo.art.br ou na plataforma Sympla.
O que se espera da democracia é uma das questões apresentadas pela experiência do ator e diretor Lázaro Gabino Rodríguez que, durante seis meses, se transformou em Santiago Ramírez, morador de Tijuana – cidade na fronteira do México com Estados Unidos – e passou a ganhar um salário mínimo trabalhando em uma fábrica da região. O espetáculo “Tijuana” é o resultado do processo.
Essa experiência vivencial se transfigura no palco em um jogo de ficção e realidade, borrando as fronteiras entre verdade e invenção por meio de uma dramaturgia que bebe da linguagem documental, mostra suas vísceras e não esconde as engrenagens do processo criativo – tudo isso costurado por diários, fotografias e registros em vídeo.
Em “Tijuana”, o público poderá analisar quão próxima a experiência mexicana está da brasileira e qual o poder do teatro como uma ferramenta de transformação da realidade.
KARAÍBA – A força do protagonismo indígena
O espetáculo ‘Karaíba, do Rio de Janeiro, destaca a participação indígena no FILO 2023 nesta quarta (28) e quinta-feira (29), às 19 horas, no Espaço Villa Rica. Com equipe composta majoritariamente por artistas indígenas, “Karaíba” é uma odisseia sonora teatral voltada para todos os públicos que faz uma releitura da pré-história brasileira antes da chegada dos portugueses. Ingressos estão à venda pelo site www.filo.art.br ou na plataforma Sympla.
Baseada na obra homônima de Daniel Munduruku, a história mescla mitologia indígena e aventura. Idealizado pela produtora Juliana Gonçalves, a montagem repensa lacunas da pré-história brasileira e elucida o encontro com os europeus como parte da narrativa, não o início dela. Também atuando como historiadora, Juliana conta que a inspiração para a montagem surgiu em uma pesquisa sobre revisão histórica colonial durante a pandemia.
Partindo do protagonismo das narrativas indígenas, o público irá participar desse exercício de imaginação sobre como seriam os povos e a vida nestas terras antes da chegada dos portugueses há 523 anos. O canto, a dança, a poesia, a oralidade e a sonoridade compõem essa história cheia de ensinamentos e alianças.
“Karaíba” traz para o palco os atores indígenas Danilo Canindé, Jéssica Meireles, Ludimila D’Angelis e Yumo Apurinã. “A montagem é uma forma de resistência não só diante dos eventos trágicos recentes. A tragédia acontece desde o primeiro encontro e este espetáculo faz a gente repensar tudo aquilo que aprendemos na escola. O livro termina com os indígenas avistando as caravelas, mas a gente faz todo um apanhado dos últimos acontecimentos”, adiantou Juliana.
Para a realização da montagem, Juliana ressaltou que foi fundamental o apoio da Aldeia Maracanã, no Rio de Janeiro, que proporcionou o acesso a uma grande rede de artistas indígenas profissionais. “Fazia parte do nosso compromisso ético que os atores indígenas fossem protagonistas dessa história e foi surpreendente ter contato com tantos artistas indígenas aqui no Rio de Janeiro. É preciso nos atentarmos a isso e procurar ter acesso a essas redes em outros estados também”, observou.
BAGAGEM – Performance propõe debate sobre imigração
O artista plástico congolês Shambuyi Wetu chamou a atenção de quem passou pelo Calçadão na última terça-feira. Com sua bagagem, ele caminhou entre os transeuntes com o rosto coberto por um pedaço de ráfia (tecido feito de fibra têxtil de uma palmeira). A ação faz parte da performance “Bagagem”, que integra a programação do FILO 2023 e tem como proposta chamar a atenção para a condição dos imigrantes africanos pelo mundo.
A performance volta a acontecer nesta quarta-feira (28), às 11 horas, dentro do Terminal Central, e na quinta-feira (29), às 11h30, no Calçadão. E para quem quiser conhecer mais a história de Shambuyi Wetu e seu trabalho, nesta quarta-feira, às 16 horas, no Sesc Cadeião, ele também participa de bate-papo com o público em geral.
Ao propor uma visão crítica à invisibilidade dos imigrantes, Shambuyi Wetu interage com pessoas que encontra pelo caminho. Fala sobre sua experiência como imigrante, sobre a dificuldade em se inserir na sociedade e atuar em sua profissão. “É muito difícil conseguir isso. E também muito ruim quando se tem uma formação e não se pode exercê-la”, comentou o artista que, ao chegar no Brasil em 2014, trabalhou por um período na construção civil.
Sobre a sua motivação em abandonar Kinshasa, capital da República Democrática do Congo, e vir para o Brasil, sozinho, Shambuyi Wetu explicou que foi decorrente da falta de liberdade no país, devido à repressão. “Não podíamos falar ‘alto’ e isso me incomodava, assim como a instabilidade política e econômica”, contou o artista, que pretende voltar este ano ao Congo – pela primeira vez, desde que deixou o país – para visitar sua família.
Sob olhares curiosos, o artista foi acompanhado pelos espectadores que estiveram no Calçadão para conferir a performance. O estudante do curso de Jornalismo Pedro Bruschi Guedes, de 17 anos, esteve lá com um grupo de amigos. “Estou acompanhado a programação do FILO e fiquei curioso para ver essa performance. Achei interessante o trabalho dele e também o olhar das pessoas sobre isso. É diferente e algo raro de se ver acontecendo no Centro da cidade. É legal porque nos faz pensar sobre a situação dos imigrantes”, afirmou.
O FILO é realizado pela Associação dos Profissionais de Arte de Londrina (Aspa) e possui patrocínio da Prefeitura de Londrina, por meio do Programa Municipal de Incentivo à Cultura (Promic). São apoiadores: Universidade Estadual de Londrina – Casa de Cultura, Espaço Villa Rica, Fecomércio/Sesc, Kery Grill, Rádio UEL FM, EJ Rosa Amarela, Folha de Londrina, Laboratório de Cenografia e Cenotécnica, Sanepar/Governo do Estado do Paraná, Canto do Marl e Vila Triolé Cultural
Os ingressos custam R$ 40,00 (inteira) e R$ 20,00 (meia-entrada) e estão à venda pelo site www.filo.art.br ou na plataforma Sympla https://www.sympla.com.br/produtor/filo. Mais informações podem ser obtidas no site do festival www.filo.art.br.
da assessoria