As relações humanas e militares entre os soldados brasileiros da Força Expedicionária Brasileira – FEB, que lutaram na Segunda Guerra Mundial e os homens da resistência italiana, os partigiani, fazem parte do novo livro do pesquisador e jornalista, Helton Costa, que se dedica há mais de 15 anos, aos estudos sobre a participação do Brasil naquele conflito.
“Camarada Pracinha, amigo partigiani: anotações brasileiras sobre a Resistência Italiana na II Guerra Mundial” (Matilda, 2021) traz um panorama da convivência entre os dois grupos, de 1944 a 1945, tanto do ponto de vista humano, quanto do ponto de vista bélico, por meio de bibliografias, biografias, fotos e documentos secretos que hoje estão desclassificados e disponíveis de forma pública. “Aquele momento histórico foi o encontro de dois mundos e mesmo de ideologias distintas, como os comunistas e os liberais, que no Brasil viviam em conflito e que na Itália, sobreviviam, lutavam e morriam ombro a ombro. Creio que o livro consegue captar esses momentos e os relata pelas vistas de quem os vivenciou: os próprios combatentes”.
Pesquisa em arquivos secretos
Para obter informações, além das memórias dos combatentes em livros e entrevistas, o Arquivo Histórico do Exército precisou ser consultado. Os documentos, na época da guerra, eram secretos e hoje não são mais. Lá foram encontrados relatórios americanos, traduzidos para o português, para abastecer os vários setores da FEB, em especial, os de Contra-Informação e de Inteligência nos regimentos, companhias e batalhões.
Por sua vez, esses setores também lançavam operações conjuntas com os partigiani e produziam balanços sobre as mesmas. Porém, quando a guerra chegou ao fim, em maio de 1945, logo nos primeiros dias os americanos requisitaram que os brasileiros observassem as atividades dos combatentes da Resistência. “O medo era que a ideologia comunista assumisse o poder em território italiano, pelas armas ou pelo poder das palavras. É interessante notar, nos documentos consultados, que o Serviço de Contra-Informação fazia o trabalho meio ‘por cima’, com vista grossa, tanto pela falta de pessoal, quanto porque só queriam mesmo voltar para casa o mais rápido possível, sem ficar monitorando a parte política no tabuleiro italiano”.
Amor e guerra
Amizades, amores e pequenas desavenças por motivos banais e bebedeiras, também compunham aquele cenário do front. “Dá para notar as amizades e os bons sentimentos que brotavam em meio à guerra. Tivemos, inclusive, casos de romances entre soldados brasileiros e mulheres combatentes italianas. Eles e elas eram jovens e o amor não encontrou fronteiras. Foram paixões rápidas, amores de guerra”, explica Helton.
Mas, nem tudo corria na paz. Volta e meia o pessoal se estranhava. “Teve um caso diferente, de um partigiani que estava em patrulha, junto com os soldados da FEB, e assassinou um alemão já ferido e fora de combate. O ‘finalizou’, como dizem. Os Pracinhas queriam agredir o partigiani e o tenente que estava junto teve que mandar ele para a retaguarda. Na cabeça dos brasileiros, era covardia matar uma pessoa daquele jeito, já dominada. Para aqueles Pracinhas, a guerra tinha suas regras. E tinha mesmo”, conta o escritor.
Sobre o livro
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Valor: R$ 49,40+frete ou R$ 25,19 (e-book)
Sobre o autor
Helton Costa é jornalista, doutor em Comunicação com estágio pós-doutoral em História e autor de “Confissões do front: soldados do Mato Grosso do Sul na II Guerra Mundial (2013)”, “Crônicas de sangue: jornalistas brasileiros na II Guerra Mundial (2019)” e “Dias de quartel e guerra: memórias do Pracinha Mário Novelli (2021)”. Helton é o diretor e realizador do documentário “V de Vitória: histórias brasileiras”, premiado em 2019 como o melhor trabalho sobre a FEB e melhor documentário, no ‘Militum 2019 – III Festival de Cinema de História Militar’. Ele também é um dos fundadores da página V de Vitória no Facebook (@vdevitoriabr) e do site Jornalismo de Guerra (www.jornalismodeguerra.com).
da assessoria