A Prefeitura de Curitiba vai criar um espaço cultural em homenagem ao escritor Dalton Trevisan. A iniciativa é fruto de uma parceria que será firmada entre o prefeito Eduardo Pimentel e a Construtora Hugo Peretti, que adquiriu o terreno onde está localizada a residência em que o escritor viveu por quase 70 anos, no bairro Alto da XV.
O protocolo de intenções será assinado nesta quinta-feira (12/6), às 11h, durante a abertura da exposição 100 anos: Dalton Trevisan entre traços e linhas, no Solar da Glória. Organizada pela Fundação Cultural de Curitiba, a mostra reúne ilustrações de 38 artistas curitibanos em homenagem ao centenário do autor, e integra uma série de ações programadas ao longo do ano para celebrar a memória e o legado do maior contista brasileiro.
Dalton, que faleceu em dezembro passado, completaria 100 anos neste sábado (14/6). A exposição fica em cartaz até setembro, com entrada gratuita, de terça a sábado, e é uma das iniciativas da FCC para homenagear o escritor curitibano ao longo do ano.
Além da mostra, as 16 Casas da Leitura da Prefeitura promovem neste mês do aniversário uma programação especial dedicada ao autor, com rodas de leitura e diversas atividades.
Em setembro, durante o Festival da Palavra, será lançado um e-book com contos de Dalton Trevisan, selecionados pela crítica literária e escritora Luci Colin, também curadora do festival. A publicação será disponibilizada gratuitamente na plataforma Curitiba Lê Digital.
Restauro e memória
O protocolo que será assinado entre a construtora e a Prefeitura prevê o restauro da última residência do escritor curitibano e sua transformação em um espaço cultural dedicado à sua vida e obra. O imóvel, localizado na esquina das ruas Amintas de Barros e Ubaldino do Amaral, foi onde Dalton Trevisan viveu por 68 dos seus 99 anos.
Após o restauro realizado pela construtora, que irá erguer no terreno um condomínio residencial, a casa será repassada à Fundação Cultural de Curitiba, responsável pela implantação e gestão do espaço que será aberto ao público.
“É uma honra e um dever para Curitiba prestar essa homenagem a um dos maiores nomes da literatura brasileira com um espaço dedicado ao seu legado. Dalton Trevisan é parte da identidade cultural da nossa cidade. Esta parceria garante que a casa onde ele viveu, criou personagens e escreveu suas histórias seja não apenas preservada, como determina a legislação, mas também transformada em um espaço acessível à população”, afirmou o prefeito Eduardo Pimentel.
Unidade de Interesse de Preservação
Construída no fim da década de 1920, a casa é tombada como Unidade de Interesse de Preservação (UIP) pelo município e, por lei, deve ser restaurada e mantida. “Esse protocolo assegura que o imóvel se tornará um espaço cultural aberto ao público. Após o restauro e o repasse à Prefeitura, a FCC definirá a melhor finalidade para ele, seja como biblioteca ou outro tipo de uso cultural. O importante é que será acessível para todos”, destacou o presidente da FCC, Marino Galvão Júnior.
A previsão é que o Centro Cultural Dalton Trevisan seja inaugurado após a conclusão das obras do condomínio e do restauro da casa, que passará a integrar o circuito de espaços culturais de Curitiba, tornando-se um novo ponto de referência para leitores, pesquisadores e admiradores da literatura brasileira.
Outras passagens
Antes de se mudar para a mítica residência no Alto da XV, Dalton Trevisan morou na Rua Emiliano Perneta, 492, onde nasceu. Ali o imóvel também era tombado como UIP e foi preservado, restaurado e hoje é um restaurante.
Em 2022, passou a viver no Edifício São Bernardo, na Alameda Doutor Muricy, o mesmo onde residiram grandes nomes da literatura paranaense como Paulo Leminski, Alice Ruiz e Helena Kolody. Ali viveu seus últimos anos.
Mesmo sempre discreto e recluso, conhecido como o Vampiro de Curitiba, o escritor que não queria ser notado, Dalton Trevisan construiu uma das trajetórias mais respeitadas da literatura brasileira.
Considerado o maior contista do país, publicou cerca de 50 obras entre contos e novelas. Seu único romance, A Polaquinha, está entre os mais lidos nas Casas da Leitura da cidade, que disponibilizam mais de 90% de sua produção para empréstimo gratuito.
Nascido em Curitiba, em 1925, Trevisan formou-se em Direito pela Universidade Federal do Paraná e teve participação ativa na cena literária local desde jovem. Foi repórter policial, crítico de cinema e, entre 1946 e 1948, editou a revista Joaquim, que marcou época ao publicar nomes como Mário de Andrade e Vinícius de Moraes. Seus primeiros livros, como Sonata ao Luar (1945) e Sete Anos de Pastor (1948), nasceram desse período.
Ao longo da carreira, foi reconhecido com os principais prêmios literários em língua portuguesa, entre eles quatro Jabutis, o Prêmio Camões e o Prêmio Machado de Assis. Mesmo com tantas conquistas, manteve-se fiel a uma vida reservada, sem entrevistas ou aparições públicas, deixando como legado uma obra marcada por precisão, sensibilidade e um olhar implacável sobre a condição humana.
Sucesso no teatro
Nos anos 1990, a cena teatral curitibana testemunhou um de seus maiores êxitos. O Vampiro e a Polaquinha, peça inspirada nos contos de Dalton Trevisan, ficou em cartaz por oito anos, com cerca de 800 apresentações e mais de 100 mil espectadores. A estreia foi em 1992, inaugurando o Teatro Novelas Curitibanas, da Fundação Cultural de Curitiba, e a montagem permaneceu em cartaz até 2001.
da assessoria