Em dezembro de 2011, Ponta Grossa ganhou sua primeira microcervejaria, a Brauerei Schultz. Em dez anos de atuação, a empresa comandada pelo casal Herus e Edlaine Schultz, saiu de uma produção de 80 litros, que era destinada aos amigos, para uma produção de 30 mil litros mensais, com 46 rótulos diferentes – alguns eleitos os melhores do país. Mas, as cervejas que marcaram muitos momentos dos ponta-grossenses e abasteceram bares da cidade, em breve não estarão mais disponíveis. Em dezembro, a Brauerei Schultz fecha as portas em Ponta Grossa para começar uma nova história na cidade de Sevierville, no estado norte-americano do Tennessee.
Apesar do sucesso no empreendimento e reconhecimento nacional por meio de concursos, o casal decidiu mudar de país, principalmente, por questões burocráticas. “Nós pagamos hoje 56% de impostos, então, como somos pequenos, produzimos pouco pagando uma carga tributária muito elevada, e isso acaba inviabilizando, em muitas situações, o crescimento do empresário. Gostaríamos que não fosse dessa forma, de ter mais gente trabalhando, de contratar mais pessoas, ajudar outras famílias, gerar emprego e renda. As grandes cervejarias pagam uma tributação menor e produzem bilhões de litros, então conseguem fazer girar, têm poder de compra em matéria-prima, coisa que a gente não consegue”, comenta Herus.
A nova fábrica já está sendo construída e os empresários esperam encontrar um caminho menos burocrático para poder crescer. “A partir do início do ano a gente já se muda para iniciar uma nova etapa por lá. Tem um maior número de cervejarias, a concorrência é muito maior, mas por outro lado acaba sendo facilitada a questão de distribuição, venda e a carga tributaria é menor”, explica o empresário. O novo projeto é construído em parceria com mais um casal, Audrei e Rani Dabul, que moram nos Estados Unidos.
Uma década de bons momentos
A ideia de produzir cervejas surgiu após uma visita a Oktoberfest, em Blumenau. Após isso, o casal começou a buscar conhecimento, fazer cursos e desenvolver as próprias receitas, que no início eram consumidas pelos amigos. “Em 2011 que apareceu a oportunidade para comprarmos um equipamento maior. E sempre era éramos eu e Edlaine que fazíamos tudo, produção, limpeza, entrega, tudo”, relembra Herus.
Com o tempo os clientes foram aumentando, inclusive, empresários do ramo que começaram a comprar as cervejas para fornecer em bares da cidade. “A gente começou com a produção de 80 litros, depois passou para 300 litros por produção, fazíamos em media de 1500 a 2 mil litros por mês no início. Encerramos essa história com uma produção mensal de 30 mil litros”, conta o mestre cervejeiro.
Entre os melhores
Atualmente, a Brauerei conta com 46 cervejas diferentes, a grande maioria é sazonal, como a Witxirica, produzida no inverno, época de mexerica e poncã; a Blackberry Witbier, produzida nos meses de novembro e dezembro, quando acontece a safra de amora, e a Nova Russia Imperial Stoth que ficou um ano maturando no tanque, antes de ser lançada no inverno deste ano.
A microcervejaria também tem as cervejas ‘de linha’, que estão disponíveis o ano todo. “Temos a nossa Munich Helles, eleita a melhor do país ano passado, essa cerveja foi uma das primeiras produzidas pela Brauerei Schultz e foi a escolhida para ser nosso carro-chefe. Ela com certeza é uma de nossas queridinhas. Tem a Larger, que foi eleita a melhor do Brasil este ano, a frente da Brahma duplo malte, inclusive, entre outras”, pontua Herus. Falando em premiações, foram nove no Concurso Brasileiro de Cervejas, maior premiação nacional do ramo.
Despedida
O bar da Brauerei Schultz, localizado na Rua Francisco Kalinoski, 177 – Contorno, fica aberto até janeiro, quando os empresários realizam uma festa para marcar o fim das atividades. “Encerramos de forma tranquila, sabemos que o que a gente fez nesses dez anos sempre foi algo feito com carinho, com dedicação, boas cervejas, focado em atender bem todos os clientes, mostrar um produto realmente diferente”, afirma o mestre cervejeiro.
Com a despedida marcada, o casal é grato a todos que ajudaram a construir essa história. “Sempre é preciso saber quando uma etapa chega ao final. Se insistirmos em permanecer nela mais do que o tempo necessário, perdemos a alegria e o sentido das outras etapas que precisamos viver. Que todos esses anos fiquem gravados na memória de cada um, como bons e agradáveis momentos”, finaliza Herus.
Fotos: Arquivo pessoal