Sábado, 17 de Maio de 2025

Dia da Árvore: arborização de áreas urbanas vira tema de pesquisas na UEPG

2022-09-21 às 17:11

A antevéspera da chegada da Primavera no Hemisfério Sul marca também a celebração do Dia da Árvore, que costuma ter atividades de plantio e distribuição de mudas, a fim de estimular a preservação desse importante componente dos ecossistemas. Várias pesquisas desenvolvidas na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) estudam a arborização urbana e as espécies nativas da região.

Para falar sobre o tema, o programa Manhã Total, apresentado por João Barbiero, na Rádio Lagoa Dourada FM (105,9 para Ponta Grossa e região e 90,9 para Telêmaco Borba), desta quarta (21), recebeu a professora sênior do Programa de Pós-Graduação em Geografia (PPGEO)  da UEPG, Silvia Méri Carvalho, a professora Dulcina Queiroz, a mestranda Bárbara de Carvalho Macedo e também o aluno de Ciências Biológicas, Felipe Gabriel Mendes.

Silvia Méri Carvalho é professora sênior do Programa de Pós-Graduação (PPG) de Geografia da UEPG e coordena o Laboratório de Estudos Socioambientais do PPG. Os professores relacionados a esse laboratório pesquisam o meio ambiente e a interação sociedade-ambiente. “No caso, eu trabalho com arborização urbana”, destaca a doutora.

Dulcina Queiroz é doutora pelo PPGEO. Ela tinha acabado de se graduar na Universidade de Coimbra, em Portugal, quando migrou para o Brasil e, em Ponta Grossa, conheceu a professora Silvia, em 2011, e prosseguiu os estudos, fazendo o mestrado e o doutorado. “Entrei no PPGEO; na época, tinha uma vaga para alunos estrangeiros, me inscrevi para a vaga, meu projeto foi aceito e, desde o início, comecei a trabalhar com a professora Silvia no laboratório. O escopo do meu trabalho é voltado para áreas verdes urbanas”, explica.

No mestrado, Dulcina desenvolveu um mapeamento de áreas verdes em Ponta Grossa e esse estudo foi ampliado ao longo de quatro anos de doutorado.

Felipe Gabriel Mendes é formando do curso de Bacharelado em Biologia e seu trabalho de conclusão de curso (TCC) envolve as epífitas presentes na arborização de Ponta Grossa. Epífitas são as plantas que usam as árvores como suporte, sem retirar delas nutrientes e sem ter fixação ao solo. As mais comuns são as orquídeas, bromélias, musgos e samambaias.

Felipe cita, também, as tilândsias (Tillandsia L.), um gênero da família das bromélias, que se agarra a superfícies variadas – como cascas de árvores, barrancos, muros e, muito comumente em Ponta Grossa, até aos cabos de eletricidade. “Ela se espalha pelo vento, por isso chega tão alto”, diz.

O estudante acrescenta que orquídeas e bromélias são muito comuns, mas por terem efeito ornamental, as próprias pessoas as colocam nas árvores, diferente da tilândsia, que se deposita naturalmente. Segundo Felipe, a região dos Campos Gerais, que é de Mata Atlântica, é riquíssima em epífitas – o que inclui muitas espécies nativas de orquídeas. “As florestas tropicais, de maneira geral, possuem bastante epífitas e, aqui na Mata Atlântica, há várias nativas. Inclusive, a tilândsia é uma delas. Tem outras, como a orquídea que compramos no mercado, com a florzinha um pouco mais elaborada, mas existem várias espécies nativas, que passam despercebidas”, comenta.

As flores e as plantas, de um modo geral, são bem vistas como uma forma de presentear e uma demonstração de amizade, destaca a professora Silvia. “As pessoas, muitas vezes, presenteiam com mudas. Temos feito um trabalho de campo e, frequentemente, encontramos uma árvore que não é típica da nossa região, que chamamos de exótica, por não ser própria desse ambiente”, comenta.

Segundo a professora sênior do Programa de Pós-Graduação em Geografia da UEPG, muitas pessoas costumam importar espécies exóticas porque o primeiro aspecto que chama a atenção a uma flor ou planta é a estética e o embelezamento do ambiente. “Mas vai além do fator estético, o fator ecológico é importante também”, frisa.

Bárbara de Carvalho Macedo é mestranda do PPG em Geografia da UEPG e orientanda da professora Silvia. Sua pesquisa aborda a arborização em campi universitários. “Estou me especializando, nos meus projetos, na identificação das árvores urbanas e como organizar os dados coletados em campo”, conta.

Silvia ressalta que mapear as espécies de árvores é importante não só para o conhecimento, mas para a gestão. “No caso da Bárbara, ao fazer a pesquisa, ela faz um levantamento e a formação de um banco de dados e, através dele, o gestor universitário pode, justamente, trabalhar em cima disso, saber quantas árvores tem, onde elas estão, que árvores são, onde tem espaços que podem receber mais árvores, que tipos de árvores podem ser plantadas”, acrescenta.

A pesquisadora observa que é prejudicial para as árvores o costume que muita gente tem adotado de substituir o gramado por lajotas nos seus quintais. “Isso é muito ruim, porque a árvore precisa da água e da luz solar para realizar seu processo fotossintético e o que temos observado muito é que as pessoas plantam e cimentam em volta. Aí a árvore não tem espaço para que essa água penetre. A água precisa infiltrar no solo e quando você impermeabiliza, ou seja, coloca cimento, lajota, a árvore não consegue assimilar a água. Quando você tem uma superfície impermeabilizada, vai ter maior escoamento superficial do que infiltração”, detalha.

Além disso, essa água acaba nas galerias pluviais, que podem não dar conta do escoamento e, aí, surgem as inundações, porque há uma grande descarga de água na superfície. Alguns municípios já adotam, em seus códigos de posturas, recomendações a respeito da impermeabilização do solo na construção civil, como plano de contingência contra alagamentos e enchentes.

O recomendado, segundo a professora, é que se deixe pelo menos um metro quadrado, ao redor da árvore, de área gramada ou de terra mesmo, para que a água possa infiltrar. Também é importante analisar o tipo de raiz que a planta possui e evitar outro erro comum: colocar uma manilha ao redor da planta, sem considerar que ela vai crescer, porque, às vezes, o caule pode passar de um metro de diâmetro.

O Plano de Arborização Urbana surge, a partir de 2018, justamente, para munir o gestor público de informações necessárias para que sejam plantadas as espécies adequadas que não ocasionem transtornos como a quebra de calçadas ou impedir que tenham um crescimento desenfreado que possa interferir nas linhas de energia. “Antes disso, não havia essa informação organizada. Muitas pessoas e os próprios gestores públicos plantavam onde viam que estava faltando árvores. Mas precisa dessas informações e, para isso, a universidade tende a contribuir”, observa.

Dulcina considera que os Planos de Arborização Urbana não podem depender de quem ocupa os cargos de gestão pública, mas ser uma normativa fixa numa prefeitura. “O gestor vai mudando, mas o planejamento da cidade é um processo contínuo e inclui, teoricamente, muitas vezes, nos planos de arborização e de ornamento do território o contato com a população, que deve ser informada e estar ciente do que está sendo feito e do que está sendo projetado”, pontua a doutora do PPG em Geografia da UEPG.

Arborização Urbana em Ponta Grossa

A coordenadora do Laboratório de Estudos Socioambientais considera que o município de Ponta Grossa tem desenvolvido ações com vistas ao futuro, no que se refere à arborização. “Nosso Laboratório está numa parceria com a Prefeitura para fazer um inventário das árvores das ruas, porque hoje o Ministério Público está exigindo que todos os municípios do Paraná elaborem seus Planos Municipais de Arborização Urbana. Ponta Grossa está nesse caminho”, relata.

De acordo com a professora Silvia, a primeira etapa para a construção desse plano é saber o que já existe, com o inventário arbóreo. Depois, é feito um diagnóstico e todo um planejamento, que inclui se há necessidade ou não de podas, o tipo de espécies a serem plantadas, entre outros quesitos. Cerca de 200 municípios já apresentaram seus planos, mas a professora estima que menos de 10% já tenham sido aprovados e estão sendo devolvidos às Prefeituras para correções porque, muitas vezes, os municípios não têm conhecimento de informações técnicas. “Nossa função, enquanto universidade, é fornecer subsídios, fazer nossas pesquisas e trazer essa informação à tona”, realça.

Questionada sobre o que achou do Parque Ambiental ao se deparar com ele quando chegou de Portugal, Dulcina aponta que, no decorrer de sua pesquisa, percebeu que o conceito de “área verde” é bastante polêmico. “O mais unânime é considerarmos uma área verde não só pela quantidade de árvores, mas pela quantidade de vegetação, que não é só arbórea. Desde a grama, todo tipo de vegetação, seja herbácea ou arbustiva, contribui ambientalmente para o local. Temos uma área com pelo menos 70% de vegetação, independentemente do seu porte, podemos dizer que é uma área verde”, explica.

Uma relevante área verde mencionada por Dulcina é a Unidade de Conservação Boca da Ronda – que fica aos fundos dos imóveis das Avenidas Visconde de Taunay e João Manoel dos Santos Ribas. “Ambientalmente, é uma área que cumpre sua função, por ser uma área bem vegetada, mas nós trabalhamos com um conceito de áreas verdes que vai muito além da função ambiental. As áreas verdes têm uma função ambiental, desempenhada, em grande parte, pela vegetação, mas existem outras funções que estão associadas às áreas verdes, que não podemos separar: a função social e a estética, que consideramos na nossa pesquisa”, diz.

Ainda que cumpra a função ambiental, o Parque Boca da Ronda, ao se avaliar a função social e estética, as variáveis são mais baixas, porque não tem manutenção.

Silvia refuta, inclusive, a falácia de que “o Parque Ambiental não tem árvores”. “É interessante, porque tenho outra orientanda, que fez uma pesquisa, a Zíngara Rocio Santos Eurich, fez seu mestrado e doutorado com as praças de Ponta Grossa e, da área central, a que mais tem árvores é o Parque Ambiental”, afirma.

Felipe explica que muitas dessas árvores ainda estão em seus estágios iniciais de desenvolvimento, o que pode fazer com que não sejam tão notáveis. “O correto é que plantemos a árvore num determinado nível de desenvolvimento, até por conta do manejo dela, a poda que vamos fazer, para que ela se torne realmente algo que vai embelezar a cidade e trazer os benefícios ecológicos inerentes à árvore”, orienta.

Silva observa que o correto é priorizar espécies nativas em detrimento das exóticas. Uma pesquisa feita em oito bairros de Ponta Grossa constatou que há predomínio de árvores exóticas, especialmente estremosas e ligustros. Há uma preferência por elas pelo rápido crescimento.

O estudo enumerou 5.162 árvores entre as 10 espécies mais comuns na arborização de vias em Ponta Grossa, as estremosas e os ligustros representam quase 62% do total – elas somam 3.190 exemplares. Na lista, ainda aparecem, entre as exóticas, o fícus, o cinamomo (ou Santa Bárbara) e cássia (canudo-de-pito), que somam outros 834 espécimes (ou cerca de 16% do total). Contando com as demais espécies de árvores detectadas, chega-se ao resultado de 28.925.

Ou seja, entre as 10 espécies mais frequentes, menos de um quarto  é composto de espécies nativas da região, que se distribuem entre coqueiro-jerivá, sibipiruna, aroeira vermelha, ipê amarelo e goiabeira, que totalizam 1.436 exemplares dessas 5.162 árvores mapeadas.

“No bairro de Uvaranas, onde temos trabalhado agora com esse levantamento, muito ligustro, muita aroeira-salsa, que são espécies exóticas”, salienta.

Confira a entrevista na íntegra: