O Dia Internacional das Mulheres, 8 de março, marca a importância das conquistas e lutas diárias em todos os espaços sociais. Na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), elas fazem ciência, lideram pesquisas e projetos, em diversas áreas do conhecimento, e estudam o papel da mulher no mercado de trabalho, no ambiente universitário e na sociedade. Conheça algumas delas, suas experiências e reflexões sobre o tema.
A professora de Direito Jeaneth Nunes explica que o mercado de trabalho ainda é um ambiente desigual, com relação às condições dadas para as mulheres. “As mulheres continuam a cumprir as maiores jornadas de trabalho e ganham significativamente menos que os homens. A luta das mulheres, historicamente, tinha como bandeira a igualdade, a busca por melhores condições de trabalho e melhores salários”.
“Outra questão importante é o desempenho das mulheres como assalariadas, que por vezes, interrompe-se pela necessidade de dedicação aos seus filhos”, enfatiza a professora Lenir. “Estão de forma intensa na esfera da reprodução, cuidando, educando, protegendo seus filhos, netos, idosos, quando não, cuidando de filhos e netos de outras mulheres. Constitucionalmente, homens e mulheres são iguais perante a lei, mas, ao mesmo tempo, a desigualdade persiste”.
Vivência no âmbito universitário
A coordenadora também relata que quando ingressou no departamento, já como professora, ouviu diversas frases preconceituosas. “Eu já ouvi de um colega: ‘tem que parar de entrar mulher neste departamento, daqui a pouco teremos que pintar o bloco de rosa’. Nem respondi, eu sabia da minha trajetória e que havia estudado muito para chegar lá. Eu estava feliz pelo que tinha conquistado e já era o suficiente”, declara.
Neste ano, a docente de Agronomia Maristella Dalla Pria completou 25 anos como servidora efetiva da UEPG. Com a bagagem adquirida ao longo do tempo e por tudo que vivenciou na Universidade, ela acredita que ainda é preciso ampliar os espaços para as mulheres na ciência brasileira. “Há preconceito e machismo em diversos segmentos da sociedade, um incômodo quanto à presença das mulheres na ciência. As mulheres enfrentam diversos obstáculos, mas acredito que nós temos muito a contribuir para a pesquisa científica no Brasil”, comenta.
Do departamento de História, a professora Georgiane Garabelly Vásquez indica que na sua área de atuação há muitas mulheres trabalhando, porém, muitos desafios ainda precisam ser superados. “As ciências humanas, por exemplo, sempre tiveram um número maior de cientistas mulheres. Contudo, nem sempre elas ocuparam lugar de destaque. Nas humanas, também se estruturam formas de opressão que passavam principalmente pela sobrecarga de trabalho doméstico/familiar em oposição ao mercado de trabalho remunerado e competitivo. É por isso que precisamos reorganizar a estrutura de cuidados e tirar dos ombros das mulheres o peso desproporcional que isso tem”, expressa.
A diretora acadêmica do Hospital Universitário (HU-UEPG), Fabiana Bucholdz Teixeira Alves, que também coordena a Residência Multiprofissional em Neonatologia do HU e atua na coordenação de profissionais da linha de frente na luta contra a Covid-19, destaca que a instituição exerce reconhecimento e valorização do seu trabalho.
“Tenho muito respeito, amor e admiração pela UEPG. Na instituição, eu construí e continuo construindo minha carreira na área de saúde, de agente administrativa, técnica, professora colaboradora e efetiva, atualmente, no curso de Odontologia”. A docente conta que sempre foi valorizada pela sua capacidade profissional e agradece pelas oportunidades que recebeu na instituição. “Tenho uma trajetória de 30 anos de UEPG e faria o mesmo trajeto novamente, pois a área acadêmica me proporciona muitas realizações, uma área de trabalho muito privilegiada na visão da possibilidade de promover mudanças e melhoras no ensino. Represento com muito orgulho a mulher na área de saúde, sendo valorizada no mercado de trabalho nos dias atuais e fico feliz ao ver o sucesso dos meus alunos de graduação e pós-graduação na profissão”, declara.
Visibilidade à luta
Pós-doutoranda pela UEPG, Rafaela Lopes Falaschi é uma das fundadoras de uma rede de mulheres na ciência, projeto que iniciou em 2016, a partir de conversas sobre o tema no ambiente acadêmico. Após vivenciar algumas situações de preconceito e machismo, ela resolveu criar um grupo no Facebook para que mulheres cientistas pudessem compartilhar suas experiências. “O grupo que era para ser pequeno, para trocarmos relatos e artigos, reuniu em apenas um mês 1.500 pessoas interessadas no assunto”, relembra.
Rafaela percebeu que existiam poucos veículos de comunicação sobre a participação feminina na Ciência. Foi a partir dessa observação que surgiu a revista on-line Mulheres na Ciência. A bióloga destaca que o principal objetivo da revista é dar visibilidade às histórias de pesquisadoras e valorizá-las. “Existe um monte de pesquisadoras maravilhosas nos dias de hoje, mas no passado elas também existiram, só que elas não apareciam nos livros porque a história sempre foi contada por homens. Queremos resgatar os feitos dessas mulheres e apresentar na forma de divulgação científica”, relata.
O Dia Internacional da Mulher é uma data que deve ser marcada não por comemorações, mas sim, por luta e protesto contra a desigualdade de gênero, como finaliza a professora Jeaneth: “As mulheres têm que cada vez mais lutar pelo direito de serem ouvidas, de votar e serem votadas, enfim, pelo direito de não serem invisíveis. Apesar de sermos maioria na sociedade, pouco se avançou na igualdade efetiva das mulheres e na superação da desigualdade de gênero. As mulheres continuam sendo vítimas de violência cotidiana e continuam a morrer simplesmente porque são mulheres, e infelizmente, esse ainda é um retrato que precisa ser lembrado neste 8 de março de 2021”.
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