Terça-feira, 29 de Julho de 2025

UEPG lança aplicativo em parceria com UEL e UEM; entenda

2025-07-28 às 17:04
Foto: João Pizani

A Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) sediou, na última quarta-feira (23), a cerimônia de lançamento do aplicativo GlicoData, que permite ao usuário estimar o risco de desenvolver diabetes nos próximos cinco anos, e de quatro cartilhas educativas sobre prevenção de doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs). O evento aconteceu no Campus Uvaranas e também marcou a entrega oficial das cartilhas à Fundação Municipal de Saúde de Ponta Grossa. Os materiais foram produzidos pelo projeto Capacita DCNT, realizado em parceria com a Universidade Estadual de Londrina (UEL) e a Universidade Estadual de Maringá (UEM).

O projeto teve início em 2023, com financiamento do Ministério da Saúde e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), com foco na formação de gestores e profissionais da atenção primária à saúde, e busca fortalecer o enfrentamento das doenças crônicas que mais impactam a saúde da população, como obesidade, hipertensão e diabetes. Segundo o professor Erildo Vicente Muller, chefe do Departamento de Saúde Pública da UEPG, a capacitação contou com a participação de unidades de saúde dos municípios de Ponta Grossa, Londrina e Maringá. “A ideia é qualificar o atendimento para que a gente possa evitar o agravamento dos quadros e, consequentemente, reduzir internações e óbitos”, afirma.

De acordo com o professor Erildo, os materiais desenvolvidos pelo projeto servem como guias para apoiar o trabalho das equipes de saúde nas unidades básicas. “As cartilhas buscam auxiliar os profissionais no enfrentamento dos fatores de risco das doenças crônicas, que hoje são as principais causas de mortalidade na população”. As cartilhas abordam temas como saúde mental, alimentação saudável, atividade física e tabagismo. O projeto também apresentou o aplicativo GlicoData, desenvolvido por alunos e professores dos cursos de Medicina e Engenharia de Computação da UEPG. “O GlicoData é uma calculadora de risco de diabetes. A pessoa responde a algumas perguntas e o aplicativo estima o risco de ela desenvolver a doença nos próximos cinco anos, se é baixo, intermediário ou alto, além de oferecer orientações sobre hábitos saudáveis”, explica. Em breve, o aplicativo estará disponível gratuitamente para download nos sistemas Android e iOS.

Segundo o coordenador-geral do Capacita DCNT, professor Denilson de Castro Teixeira, do Departamento de Educação Física da UEL, o projeto busca qualificar não apenas os profissionais, mas também criar instrumentos que facilitem a comunicação com a população, em uma estratégia de tradução do conhecimento. Destinada a população adulta, as cartilhas foram elaboradas com linguagem acessível e ilustrações que representam diferentes perfis. “Tivemos o cuidado de incluir diversidade e produzir um conteúdo validado por especialistas da área da saúde. Embora o material seja lúdico e bonito, ele tem muito trabalho científico por trás”, explica. Foram impressas 20 mil unidades das cartilhas para distribuição nos três municípios envolvidos.

O vice-reitor da UEPG, professor Ivo Mottin Demiate, destaca a iniciativa como exemplo de articulação entre universidades públicas e os sistemas municipais de saúde. “Essa atenção em saúde primária é um papel dos municípios, e a Universidade, com esses projetos, possibilita ações de prevenção e informação à população, evitando que os casos se agravem e cheguem até o sistema hospitalar, o que teria um custo muito mais alto para o SUS e também para o paciente com complicações de saúde”, afirma. “Com os profissionais capacitados e com o software desenvolvido, conseguimos levar informação de qualidade e promover a qualidade de vida dessas pessoas. É um trabalho muito bonito e muito bem feito, que coloca Universidade e comunidade em contato íntimo”, acrescenta.

A presidente da Fundação Municipal de Saúde de Ponta Grossa, Lilian Brandalise, também destacou a importância do trabalho em conjunto com a Universidade. “Com a junção do saber da academia com o saber do serviço, quem se beneficia é a população”, afirmou. Segundo ela, doenças crônicas como diabetes e hipertensão exigem mudanças de comportamento que vão além da medicação. “A capacitação é muito benéfica porque a linha que foi estabelecida, de doenças crônicas, é uma prioridade nossa e as equipes precisam entender esse contexto para poderem atuar. As cartilhas estarão disponíveis para as equipes das unidades de saúde, que poderão definir a melhor forma de utilizá-las e fazer com que isso influencie nessa mudança de hábito das pessoas”, disse.

Profissionais de saúde que participaram do evento também reforçaram a relevância do projeto no contexto da atenção primária. Segundo a assistente social Maria Clara Rodrigues Istschuk, residente no programa multiprofissional em Saúde Coletiva da Fundação Municipal de Saúde, lidar com doenças crônicas faz parte da rotina das unidades de saúde, o que exige preparo constante. “Essas capacitações são essenciais porque precisamos debater, nos atualizar e nos alinhar profissionalmente sobre assuntos que são relevantes para a vida dos nossos pacientes”, comenta.

O enfermeiro Henrique Gabriel Zaleski, também residente do programa multiprofissional em Saúde Coletiva, ressaltou o papel do GlicoData e das cartilhas educativas como ferramentas de prevenção. “As doenças crônicas não transmissíveis têm um início muito silencioso, especialmente a diabetes, que quando instalada traz muitas complicações para o organismo. Com o uso do aplicativo e das cartilhas, conseguimos trabalhar fatores de risco antes mesmo da instalação da doença”, afirma.

Desenvolvimento do aplicativo

A estudante de Medicina da UEPG Suelen Queiroz, que participou da concepção e construção do aplicativo, conta que a ideia surgiu em uma conversa entre colegas na biblioteca da Universidade. “Tínhamos um sonho em comum de usar a tecnologia para fazer a diferença na saúde da comunidade. Nesse processo inicial, a professora Diolete Cerutti, da Engenharia de Computação, foi fundamental. Ela acreditou no projeto desde o começo e nos deu o apoio para tirarmos essa ideia do papel”, relata. A equipe também recebeu apoio de cientistas internacionais: “Tivemos a incrível oportunidade de entrar em contato com os cientistas Dianna Magliano e Jonathan Shaw, do Baker Heart and Diabetes Institute, da Austrália, que são referências mundiais na área”, conta Suelen.

Com orientação da professora do curso de Medicina da UEPG Camila Marinelli Martins, especialista em estatística, e sob coordenação do professor Erildo Vicente Muller, a equipe realizou a calibração estatística do aplicativo com base em dados de 8 mil pacientes do Plano Nacional de Saúde. “Enquanto outras ferramentas, como o Findrisc, não são ajustadas à realidade brasileira, o GlicoData foi calibrado com dados nacionais, o que representa um avanço importante. Não há outro aplicativo brasileiro focado na prevenção e controle da diabetes com esse nível de calibração estatística local, validação científica internacional e proteção formal via INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial)”.

O estudante de Engenharia da Computação da UEPG Davi Costa Ferreira da Luz lembra que o projeto começou há dois anos com uma versão mais simples, voltada exclusivamente a profissionais de saúde. “Desenvolvemos um aplicativo preliminar para coleta de dados, que rodou por cerca de um ano e nos permitiu reunir mais de 2 mil registros”, relata. Segundo ele, o desejo de expandir o acesso para o público em geral exigia investimentos. “Com o apoio do professor Denilson da UEL, conseguimos verba para refazer completamente o aplicativo, dessa vez com versões para Android e iOS, que poderão ser usadas por qualquer pessoa interessada”, complementa.

da assessoria