Quarta-feira, 21 de Maio de 2025

“O mais importante de subir no pódio é o caminho até ele”, destaca paratleta ponta-grossense

2022-11-04 às 14:41

Com o desafio de vencer, ano após ano, os próprios recordes em quatro diferentes modalidades, o paratleta Trajano Ferreira Caldas Neto vem ganhando destaque no cenário esportivo nacional. Praticante de lançamento de dardo e de disco, arremesso de peso e corrida de cavalo, o paratleta ponta-grossense de 36 anos encontrou no esporte a motivação que precisava desde que perdeu a visão, aos 28 anos, em 2014.

Para Trajano, o mais importante, ao subir no pódio, é o resgate da auto-estima. “O pódio é muito rápido, você treina três anos, quatro, cinco ou mais, para subir lá dois, três minutos, tirar uma foto, fazer um vídeo e descer lá de cima. O mais importante de subir no pódio é o caminho até ele”, destaca.

Em participação no programa Manhã Total, apresentado por João Barbiero e Jonathan Jaworski, na Rádio Lagoa Dourada FM (105,9 para Ponta Grossa e região e 90,9 para Telêmaco Borba), nesta sexta (4), o paratleta destaca a contribuição que o esporte trouxe para sua vida.

Trajano hoje é estudante do último período de Administração e também cursa o 2º ano de Espanhol. O paratleta preside a Associação Ponta-Grossense de Emancipação das Pessoas com Deficiência (APEDEF) – antes conhecida como Associação Ponta-Grossense de Esportes para Deficientes Físicos. A associação abriga 20 pessoas, que moram em duas casas inclusivas, e envolve outros 35 paratletas, todos com algum tipo de deficiência (intelectuais, visuais, físicas).

Como praticante de atletismo, Trajano está inscrito no Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) e está iniciando no esporte paraequestre – que é a corrida de cavalos adaptada para pessoas com deficiência. No último final de semana, Trajano disputou uma prova de paraenduro e ficou em 2º lugar na competição, sediada em Itajaí (SC).

“O esporte é bem órfão [de apoiadores, patrocínios], principalmente o esporte paralímpico. Hoje, o esporte paralímpico traz mais resultados para o Brasil do que o olímpico. Adivinha qual aparece mais? O paralímpico [brasileiro] está entre os 10 do mundo e o olímpico, entre os 30”, compara.

Desde o início do ano, o ponta-grossense ocupa o 1º lugar no ranking nacional de lançamento de dardos para paratletas. No lançamento de disco, é o 6º lugar brasileiro. Ele explica que o disco é uma peça de cerca de dois quilos, para sua categoria, que se assemelha a dois pratos sobrepostos. O dardo é um bastão de 2,62m de comprimento, que pesa 800 gramas, com uma ponta afiada. No arremesso de peso, é usada uma bola de ferro de 7,26 quilos.

“Há oito anos, quando eu deitei para dormir e acordei sem enxergar, eu não praticava nenhum tipo de esporte. Academia, eu ia uma ou duas vezes por semana. Hoje, vou de segunda a sábado, só porque não está abrindo no domingo”, comenta. Até então, ele trabalhava na construção civil, como mestre de obras e tinha 23 funcionários registrados.

“No momento que eu perdi a visão, não diferente de qualquer outra pessoa, com qualquer perda ou limitação, caí naquele pensamento: ‘e agora, o que vou fazer? Como vai ser tudo isso?'”, relembra.

“Não gosto muito da palavra ‘deficiência’; prefiro ‘limitação’. Naquele momento, era um cara totalmente limitado, até descobrir o esporte, através da APADEVI [Associação de Pais e Amigos dos Deficientes Visuais]. Hoje, faço parte de outra instituição, mas, naquele momento, na APADEVI, conheci o esporte”, diz.

Trajano explica que sua deficiência visual é total, sem qualquer percepção de luz ou vultos. “Tenho alguns amigos que ainda têm essa percepção. Eu, não”, compara.

Segundo o paratleta, o ato de reclamar até faz parte do ser humano, mas o sentimento de impotência ao descobrir uma limitação física pode te afundar na depressão. “Algumas pessoas que possuem alguma limitação demoram de três a quatro anos para aceitar e isso leva à ansiedade, à depressão e tantas outras coisas. Demorei de dois a três meses. É importante falar que eu tive apoio dos meus pais, dos meus amigos e eles, naquele momento, queriam fazer tudo para mim. Comecei a pensar que eles deixariam de fazer as coisas deles para fazer as minhas. Automaticamente, se você não é a solução de um problema, você é parte dele. Tive que treinar meu psicológico para isso, mas eu parei com a empresa e resolvi investir no esporte”, conta.

Na ocasião em que descobriu a perda da visão, Trajano era casado e vivia com a esposa e os filhos. Ele frisa que a ex-mulher também foi um importante ponto de apoio naquele momento, mesmo que hoje eles estejam separados.

“Aprendi, nesses oito anos, que empreender não é só montar uma empresa e investir tudo o que você tem relacionado a ideias, cursos, nela. A primeira empresa que você tem que fazer funcionar vai ser você. Eu empreendi em mim”, analisa.

Destaque estadual e nacional

No lançamento de dardos,  Trajano está rankeado em 1º lugar na modalidade no Brasil. No lançamento de disco, é o 6º no ranking brasileiro. No arremesso de peso, é o 9º no ranking nacional. Por fim,  na corrida de cavalo 10km paraenduro é o 2º lugar no ranking paranaense.

O paratleta começou sua jornada esportiva depois que perdeu a visão, em 2014. Em 2017, participou da primeira competição, para a qual treinou ao longo de cinco meses. Desde lá, Trajano procura melhorar gradativamente seus resultados e, ano após ano, quebra os próprios recordes. “Todo ano estou rankeado entre os primeiros do Brasil, em todas as modalidades que eu faço”, diz.

 

Conheça mais sobre a trajetória do paratleta nas redes sociais: @trajanonetooficial.

Confira a entrevista do paratleta na íntegra: