Sexta-feira, 01 de Agosto de 2025

Paratleta medalhista no estadual mira vaga no Campeonato Brasileiro representando PG

Após vencer desafios pessoais e estruturais, jovem atleta se destaca no atletismo paralímpico e sonha com o pódio nacional
2025-07-31 às 11:11
Arquivo cedido

Por Camila Souza

Com apenas 15 anos e uma trajetória marcada por desafios, o paratleta Ponta-grossense, Júlio César Urbanski Gonçalves da Silva tem se destacado nas pistas de atletismo mesmo sem apoio técnico ou estrutura para treinar.

Estudante do Colégio Cívico-Militar Dr. Epaminondas Novaes Ribas, localizado na vila Palmeirinha, ele conquistou quatro medalhas de ouro, três delas em sua primeira competição estadual. Os resultados renderam a ele o índice necessário para disputar o Campeonato Brasileiro Paralímpico, mas a falta de treinos regulares neste ano, ameaça interromper seu avanço.

Ele venceu os 100, 200 e 400 metros rasos nos Jogos Escolares do Paraná realizados em Foz do Iguaçu neste ano. Pouco depois, mesmo com o pé machucado, conquistou mais um ouro em Ponta Grossa, durante uma prova da Terceira Copa Paradesportiva, realizada no último domingo (27) na pista de atletismo do Campus da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). As conquistas vieram após meses de paralisação. Júlio ficou seis meses afastado do esporte por falta de treinador e chegou a pensar em desistir.

Paixão por esporte

A relação de Júlio com o esporte vem desde a infância. Ele começou jogando futsal em um projeto da igreja, depois passou pela equipe da escola, tentou futebol no Operário com 10 anos e chegou a jogar basquete com crianças sem deficiência. Em uma dessas fases, o professor de Educação Física e diretor de paradesporto da cidade, Fabiano Gioppo, recebeu um vídeo de Júlio jogando basquete, enviado pelo professor Luiz Antônio, da escola onde o atleta estuda. Ao ver o material, Fabiano percebeu seu potencial e o convidou para uma conversa sobre esporte no Ginásio da Pessoa com Deficiência Jamal Farjallah Bazzi.

“Foi nesse encontro que falamos sobre basquete e tênis de mesa. Naquele momento, ele não se interessou pelo atletismo, mas depois conversei com a mãe dele e sugeri que ele experimentasse várias modalidades. Ele é um menino muito esperto e forte e acabou também começando no atletismo”, conta Gioppo.

Trajetória no atletismo

A trajetória do garoto no atletismo ganhou força em 2024 após a inserção no paradesporto. Júlio começou a participar de treinos realizados na pista de atletismo do Campus da UEPG através de um projeto do Centro de Referência Paralímpico, quando passou a treinar com acompanhamento técnico do professor Sideval Pinheiro. Mas, neste ano, tudo mudou. Sem continuidade no projeto por falta de apoio, ele ficou sem treinador.

“Eu fiquei sem professor, ele foi embora e quando eu soube da notícia chorei muito. Achei que era o fim pra mim no atletismo. Só comia, jogava e ia pra escola” lamenta o atleta Júlio César.

Treinos em casa e jogos estaduais

Sem técnico para o atletismo, Júlio ficou muito triste e desmotivado para praticar esportes. Sua mãe, Miriam Urbanski, relata o momento. “Ele ficou muito abatido quando soube que o professor não continuaria com ele este ano. E aí, como não tinha ninguém pra orientar, ele foi se afastando. Até pegou dengue, ficou muito debilitado”, cita a mãe.

Mas tudo mudou quando a família recebeu um convite da coordenadora da rede estadual de Ponta Grossa do setor de educação física, Clarissa Sielski, convocando Júlio para os Jogos Escolares do Paraná (JEPS) neste ano, para representar a cidade e o seu colégio. Júlio passou a ser orientado pela Miriam que assumiu os treinos de forma autodidata, buscando vídeos na internet, relembrando os exercícios de 2024 e tentando amenizar as dores do filho com alongamentos e pomadas. “Depois que a Clarissa entrou em contato, eu decidi que não ia deixar ele perder essa oportunidade. Peguei tudo que sabia, revi os treinos e fui ajudando como podia” revela a mãe.

Mesmo com uma lesão na coxa dias antes da competição em Foz, Júlio deu o seu melhor. Aplicou pomadas, fez alongamentos e correu com dores. Ainda assim, garantiu o primeiro lugar nas três provas. Na corrida de 100 metros, por pouco não perdeu a medalha.

“Um menino disparou na minha frente. Eu fiquei com medo, achei que ia perder, mas graças a Deus ele era de outra classificação e eu consegui o ouro. E em Ponta Grossa corri quando tinha recém virado o pé, mas fui lá e dei meu melhor de novo, pela minha cidade” relembra o atleta Júlio.

Júlio mira o brasileiro

A coordenadora do Centro de Referência em Ponta Grossa, Francielle Ribas Ader, também se emociona ao falar do garoto. Para ela, o que Júlio já fez em tão pouco tempo mostra que ele tem futuro no alto rendimento. “Desde a primeira passada já deu pra ver que ele era diferente. A gente precisava até puxar ele de volta pra descansar, porque ele queria correr o tempo todo. Isso é amor pelo que faz. É por isso que ele está colhendo esses frutos” afirma.

Francielle reforça que Júlio tem potencial para chegar muito longe, mas que para isso acontecer, ele precisa de apoio. Nos JEPS, ele conseguiu alcançar a média necessária para participar do campeonato brasileiro. Segundo ela, essa é a hora de empresários e apoiadores locais enxergarem o talento que está nascendo na cidade.

“Esse menino é seleção e eu falo com segurança. Ele é fruto de Ponta Grossa, é do nosso Centro de Referência, e tem potencial para vestir a camisa da seleção brasileira. Mas ele precisa de estrutura, de patrocínio, de apoio para continuar evoluindo” diz.

O Centro de Referência, vinculado ao Comitê Paralímpico Brasileiro, foi essencial no início da formação esportiva de Júlio. Mas com o fim do apoio de um dos parceiros institucionais, a modalidade de atletismo foi suspensa.

Centro de Referência

Quem quiser acompanhar o trabalho desenvolvido pelo Centro ou ajudar o Júlio César, pode acessar o perfil do Instagram (AQUI) ou ainda mandar uma mensagem para a Francielle no WhatsApp através do número (42) 9 9951-8112.

Assista a entrevista com o atleta de ouro de Ponta Grossa: