Terça-feira, 24 de Junho de 2025

Artigo: ‘A superlotação dos hospitais e UPAs’, por Everson Krum

2022-06-06 às 08:54

Temos acompanhado nos últimos dias, notícias preocupantes, emocionantes e desesperadoras sobre o aumento da procura por atendimentos em urgências e emergências e a falta de leitos qualificados e a ausência de vagas em hospitais. É importante destacar que o fenômeno não é restrito à nossa cidade pois atinge também outros municípios do Paraná, outros estados como nossa vizinha Santa Catarina que decretou estado de emergência na saúde, a cidade de Porto Alegre já passou por isso em maio, e a capital econômica do país, São Paulo, que enfrenta agora a superlotação das estruturas pré hospitalares, AMAs e UPAs, como o grande hospital do Mandaqui, na zona norte da cidade que atende pelo SUS, e que passa por sérias dificuldades devido ao aumento da procura por atendimento.

Alguns aspectos deste momento turbulento na saúde chamam a atenção, sendo a previsibilidade a a falta de planejamento os que mais incomodam. Muito foi alertado para a adequada preparação para este momento, foi avisado mais de uma vez que esta hora chegaria. Órgãos públicos renomados como a Fundação Osvaldo Cruz e outros institutos de pesquisa e ciência, há semanas, emitem boletins com destaque para o aumento da incidência de doenças respiratórias, possibilitando que as gestões públicas programassem ou ao menos tivessem planos de contingência prévios, para atender este momento, sem falar que é óbvio que no outono e inverno isso sempre acontece, há milhares de anos.

Além disso, há tempos estávamos na batalha pela diminuição dos efeitos catastróficos da pandemia de Covid e o retorno da normalidade sendo que os especialistas alertavam para a chegada deste momento de pós pandemia, então era questão de tempo para que a “represa” estourasse , que a porteira fosse aberta, isto é, aumento da procura por consultas e procedimentos eletivos que estiveram suspensos durante a crise de saúde, de pessoas que não buscaram ou interromperam tratamentos e que se juntam aos novos pacientes que adoecem agora, com destaque para saúde da mulher, com doenças ginecológicas eletivas, não obstétricas, para os homens e seus agravos, as doenças oftalmológicas e tantas outras doenças crônicas não transmissíveis que atingem a população e que temos marcadamente um vazio assistencial no SUS.

Somado às doenças e procedimentos eletivos represados, também houve a natural maior movimentação de pessoas e consequente acidentes de trânsito, aumento da violência, agudização de doenças crônicas e outras causas de sobrecarga aos sistemas de saúde, que agora são inevitáveis. Para piorar o cenário (que era previsível), tudo isso está acontecendo no outono-inverno do hemisfério sul, quando há maior incidência de algumas doenças típicas e consequente aumento da procura por atendimento. Mas pensem, podia ter sido planejado, era isso que queríamos da gestão pública, e que é feito na iniciativa privada.

O nosso cenário não é diferente de outras cidades, salvo exceções, mas algumas políticas públicas deveriam ser apartidárias, independente de correntes ideológicas, eleições e principalmente planejadas para o bem comum, algo que parece fictício e utópico mas não nos custa sonhar.

A necessidade de hospitalização é um dos fatores e aspectos que irá pressionar a saúde neste momento. Além do atendimento médico, as ações de enfermagem, as contribuições e trabalhos das agentes comunitárias, dos farmacêuticos, dentistas, assistentes sociais e outros profissionais da saúde, serão imprescindíveis para mudarmos o atual cenário assistencial.

A saída desta crise ocorrerá com ideias inovadoras e ousadas, o conservadorismo e tradicionalismo estão destinados ao insucesso. Ferramentas digitais, inteligência artificial, metodologias interativas de comunicação audiovisual e de dados, mudança da lógica da produção em escala e outras ideias serão fundamentais para mudar o atender tradicional.

Quem usa o SUS, e usa plano de saúde particular também, quer atendimento, humanização e o problema resolvido, não quer ter dor,incômodos, não quer preocupação, quer reestabelecidos seu bem estar e sua dignidade. Se houver erro o usuário sofre, reclama e pode até morrer!

É necessário pensar fora “da casinha”, além do convencional, é fundamental inovação, ousadia, vanguarda e dinamismo! A hora é agora.

Saúde tem pressa, o tempo urge!

por Prof. Everson Augusto Krum