Sexta-feira, 26 de Abril de 2024

Artigo: ‘Por que parece que ficamos mais doentes à noite?’, por Everson Krum

2022-05-23 às 12:08

Muitos de nós, até com certo incômodo e desânimo, nos perguntamos, por que passamos o dia bem, as crianças brincam e participam normalmente de atividades durante o dia, e a partir do final da tarde e começo da noite ficamos doentes ou começamos a ter dor, febre e tosse?

Muitas vezes ao retornar para casa após o trabalho ou outra atividade, mães e responsáveis encontram crianças doentes ou os próprios adultos começam a manifestar sinais de doença, dores e incômodos, e então vão procurar atendimento, causando a superlotação em serviços de emergência. E vem a pergunta, por que à noite?

Parte disto tem uma explicação fisiológica, é o ciclo circadiano, nosso relógio biológico que funciona 24 horas por dia e tem muitos processos regulados, por exemplo, pela exposição à luz. Quando ficamos doentes, muitas vezes os sintomas começam a aparecer à noite devido à um hormônio chamado cortisol!

O cortisol é um hormônio corticosteroide da família dos esteroides, liberado pelas glândulas que ficam acima dos rins, as suprarrenais ou adrenais e que é mediador de diversos processos fisiológicos dentre eles, promover o estado de atenção e vigília para realização de trabalhos e tarefas difíceis, sendo muitas vezes chamado de hormônio do estresse. Tem função primordial para manter a pressão estável, ajuda a regular consumo de açúcar e diminuir o gasto de energia, para ser utilizado em momentos de perigo e estresse. São muito bem caracterizadas as doenças decorrentes da produção pelas adrenais de maior e menor quantidade de cortisol, assim como há uma gama de medicamentos derivados deste corticosteroide e com amplo uso na saúde.

Durante o dia, quando estamos acordados, nosso corpo está de prontidão e trabalhando na sua capacidade máxima, num estado de vigília que tem também nosso sistema imunológico pronto para reconhecer os mais diversos invasores. Isso tudo é devido à liberação de cortisol, em grandes quantidades pela manhã e que vão diminuindo até o final da tarde. No período noturno há menos hormônio circulando, permitindo descanso e relaxamento. Pessoas que trabalham à noite tem o ritmo invertido.

Com a chegada da tarde e noite, há menor quantidade e circulação de cortisol e começam os sintomas inflamatórios como febre, dor e crises brônquicas, aparecem sintomas de alergia como coceira, rinites e coriza e ainda por ficar deitado, o organismo tem mais dificuldade em eliminar as secreções formadas nas vias aéreas, piorando a tosse, ocorrendo obstrução nasal e dor de ouvido devido à pressão exercida pelas secreções no tímpano.

Agora que conhecemos um pouco mais do funcionamento do nosso organismo, que estamos entrando nas estações mais frias do ano, com maior aglomeração e circulação de vírus, é questão de tempo para observarmos (já ocorre) o aumento na procura por atendimento em saúde no período noturno.

Um dos responsáveis é o cortisol.

Prof Everson Augusto Krum
Doutor em Hematologia pela Escola Paulista de Medicina da UNIFESP