Terça-feira, 05 de Novembro de 2024

Artigo: ‘Só a vacina salva!’, por Everson Krum

2021-10-18 às 14:22

Desde março de 2020 a nossa vida mudou ou, como dizem, virou de cabeça para baixo. Com a pandemia da Covid-19 impactando a vida de todos, novos hábitos foram adotados e boas práticas foram alteradas. Quase dois anos depois, notamos os números da pandemia diminuírem e a vida voltar ao normal, pouco a pouco. Mas o que fez a pandemia recuar? A resposta é uma só: a vacina. Só a vacina salva!

Para provar meu argumento, vou realizar aqui um rápido esforço interpretativo baseado em evidências empíricas, em sua maioria dados dos órgãos sanitários e de saúde. Em 18 de abril de 2021, por exemplo, Ponta Grossa tinha apenas 14,3% dos cidadãos vacinados com duas doses, de acordo com o Boletim Oficial. Nesta mesma data havia 60 leitos de UTI Covid no Hospital Universitário (HU-UEPG), todos eles lotados. Naquele dia (18 de abril) tínhamos 11.899 pacientes em isolamento domiciliar e nove óbitos.

Seis meses depois, com a vacinação avançando, quais são os números? Em 17 de outubro, temos mais de 50% da população completamente imunizada (ou com dose única ou com duas doses). E o que isso nos trouxe em termos de índices de contaminação? Vamos aos números: atualmente são 23 leitos de UTI ocupados no HU-UEPG (quase completamente lotados).

Mas quando observamos o número de mortes, nota-se que a vacina salva! Seis meses depois, temos um a dois óbitos por dia, cerca de 100 novos casos diários e cerca de 519 pessoas em isolamento domiciliar. O que explica tamanha diminuição nos números? Apenas a vacinação e a perpetuação de novos hábitos, como o uso de máscara em ambientes coletivos e a limpeza das mãos, por exemplo.

Note que neste período ainda tivemos feriados prolongados, aumento do horário do funcionamento do comércio em geral, inverno (mesmo que não tão rígido), maiores aglomerações, circulação de novas variantes. Todos esses fatores se mostraram menos eficientes do que eram em abril quando poderiam, quando juntos, significar o colapso do sistema de saúde.

Ao compararmos com os índices de vacinação, fica óbvio qual era desde início a estratégia que deveria ter sido adotada. E aqui não se trata de ser engenheiro de obra pronta, pelo contrário, trata-se de seguir aquilo que preconiza a ciência! Desde o começo da pandemia o caminho sempre foi a ciência, especialmente aquela produzida com compromisso ético e social.

Atualmente dados preliminares começam a ser publicados e referendados em revistas científicas internacionais e mostram que os pacientes que estão sendo atendidos nos hospitais neste momento tem quadros menos graves. Esses pacientes teriam um perfil em que o vírus é menos agressivo, com melhores chances de recuperação, mostrando assim que na vida real que as vacinas cumprem seu papel.

E qual é o papel da vacinação coletiva? As vacinas não impedem a contaminação, mas protegem contra efeitos mais graves e óbitos. Por isso é tão nítida a necessidade de continuar a campanha de vacinação, com dose de reforço para os grupos que necessitam, além do distanciamento físico e higienização das mãos como procedimentos frequentes.

Basta lembrar que estudiosos dedicados ao tema sempre afirmaram qual era o caminho a ser seguido, a questão era ouvir e usar o bom senso. Além disso, o Brasil teve a oportunidade de copiar experiências positivas feitas no Hemisfério Norte já que por lá a pandemia os atingiu cerca de três meses antes – isso nos deu uma vantagem estratégica que não soubemos aproveitar.

Neste momento o fundamental é ouvir os especialistas nas áreas econômicas e de políticas públicas, para focar na retomada econômica, bem como tentar repetir experiências de outros países, adaptando à nossa realidade. Nossa sociedade precisa aprender com os erros, repetir os êxitos e pensarmos em conjunto, democraticamente, ouvindo críticas e ideias, sobre como iremos superar as dificuldades do pós-pandemia.

No horizonte já podemos (e devemos) enxergar os desafios que problemas como a crise energética, inflação, explosão de valor dos combustíveis, aumento da fome, avanço da desigualdade social, evasão escolar e a polarização política nos trazem. Acredito que as universidades terão papel fundamental para guiar nossa sociedade nesse caminho.

Everson Krum – Vice-reitor da UEPG, ex-diretor do HU-UEPG e docente do Curso de Farmácia