Sábado, 21 de Setembro de 2024

Atenção redobrada na quarentena: 70% dos casos de abuso infantil acontecem dentro de casa

2020-03-27 às 10:44

Apenas durante o ano de 2019, aproximadamente 140 crianças e adolescentes foram vítimas de violência sexual em Ponta Grossa. Os dados são do Conselho Tutelar do município e levam em conta apenas os casos que foram denunciados para as autoridades. Pais, mães, padrastos, parentes próximos ou amigos da família são responsáveis por 70% dos casos de abuso sexual, segundo levantamento do Governo Federal. O estudo também mostrou que a violência costuma ser cometida dentro da casa do abusador ou da vítima.  

Com a orientação da Organização Mundial da Saúde para que as pessoas permaneçam em suas casas para evitar a transmissão comunitária do coronavírus, as crianças podem estar mais expostas a este tipo de violência. “Ainda não temos dados para afirmar, mas o convívio maior com o suposto agressor tende a aumentar o número de crianças vítimas de violência sexual”, alerta Cleide Lavarotti, supervisora do Núcleo de Estudos da Defesa dos Direitos da Infância e Juventude (Neddij) e coordenadora do Núcleo de Estudos, Pesquisa, Extensão e Assessoria Sobre Infância E Adolescência (Nepia).

“Neste momento, é importante que toda a sociedade aumente a supervisão e que os adultos estabeleçam um canal de diálogo mais aberto com as crianças. Também é fundamental que elas tenham alguém de confiança para quem contar”, orienta. Ela acrescenta que essa pessoa pode ser um familiar próximo, um vizinho ou conhecido a quem a criança possa recorrer para se proteger.

No limite do estresse

Outra tendência é que os casos de violência física contra crianças e adolescentes também aumente durante esse período de isolamento social, alerta Cleide. “Pais e filhos vão passar mais tempo convivendo juntos no mesmo ambiente e sabemos que isso nem sempre é fácil. Além disso, existe o estresse e a insegurança de não saber o que vai acontecer e quando as coisas vão voltar ao normal”, frisa. 

Para Cleide, a situação exige paciente e soluções para diminuir a tensão e o impacto emocional da quarentena. “Todo mundo está buscando alternativas para ficar em casa em segurança e com qualidade de vida. É momento atípico, mas vai passar vai e vamos sair mais fortalecidos”, acredita.

Olhos e ouvidos atentos

A delegada responsável pelo “Núcleo de Proteção de Crimes contra Criança e Adolescente, Ana Paula Cunha Carvalho, não acredita que o número de menores de idade vítimas de violência sexual vai aumentar. “Com mais adultos dentro de casa, aumenta também a supervisão sobre a criança. O agressor acaba não tendo oportunidade de ficar sozinho com a vítima”, explica.

Por outro lado, Ana Paula prevê um aumento nos casos de violência física. “É importante fazer esse alerta para que as pessoas fiquem com os olhos mais abertos. Se qualquer vizinho ouvir uma discussão mais acalorada, um choro mais exagerado, perceber que é uma situação grave e que a criança está pedindo socorro, deve fazer a denúncia”, pede.

Você não está sozinho

“As crianças e os adolescentes não estão sozinhos”, reforça Ana Paula. “Aqui na 13º SDP nós estramos trabalhando com horário reduzido, em regime de plantão. Isso não significa que a população não pode fazer uma denúncia, pelo contrário, ela deve ser feita. Para nós, uma situação de agressão contra uma criança ou adolescente, seja física ou sexual, é prioridade absoluta”, enfatiza. 

Onde denunciar

DISQUE 100: é um serviço de denúncia nacional que funciona 24 horas por dia, incluindo sábados e domingos, sendo que as ligações gratuitas podem ser feitas de todo o Brasil por qualquer telefone (fixo ou celular)

CONSELHO TUTELAR: a criança, familiares ou vizinhos podem ligar para proteger a criança/adolescente. Os conselheiros estão de plantão – 99144 6127 / 99144 1343 / 99155 4110

DISQUE 190: a vítima ou testemunha pode ligar para a Polícia Militar que tem o dever de socorrer casos de violência doméstica e fazer os devidos encaminhamentos (hospitais, delegacias, etc.)

DADOS DE VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES, DOS CONSELHOS TUTELARES DE PONTA GROSSA-PR, 2016/2018

 CONSELHO TUTELAR NORTECONSELHO TUTELAR LESTECONSELHO TUTELAR OESTETOTAL
201646169103318
20173147162240
2018455844147
2019355549139
TOTAL157329358844

FONTE:  Relatórios de Atendimentos dos Conselhos tutelares de Ponta Grossa (Leste, Oeste e Norte)  ORG: Tayná Schnepper Barche (2020)