Sexta-feira, 03 de Maio de 2024

Carta de médicos da UPA Santa Paula detalha colapso no sistema de saúde de Ponta Grossa; leia na íntegra

2021-06-14 às 18:03

Nesta segunda-feira, 14, passou a circular nas redes sociais uma carta supostamente escrita pelo Corpo Clínico da UPA Santa Paula. No texto, os profissionais de saúde relatam dificuldades no atendimento a pacientes por falta de estrutura. A carta não leva assinatura de nenhum profissional ou responsável (conforme imagem abaixo), porém fontes consultadas pelo D’Ponta News, que preferiram manter o anonimato, afirmam que o documento é real e foi enviado hoje para o Ministério Público, além do Conselho Regional de Medicina e também para a Prefeitura de Ponta Grossa.

Conforme é detalhado na carta, a UPA Santa Paula tem funcionado como UTI, apesar de não ter condições. “Pacientes graves que demandam cuidados intensivos e que, idealmente, seriam transferidos em pouco tempo para uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI), permanecem durante dias em nossa unidade devido a falta de leitos. Em razão desta demanda, a UPA tem funcionado como UTI, apesar de não ser dotada dos equipamentos necessários para prestar o devido atendimento, como gasômetro, hemodiálise, tomografia, médicos especialistas e rotineiro, por exemplo.

Outro ponto da carta seriam os problemas na rede de oxigênio da Unidade. “A UPA conta apenas com um compressor odontológico para manter a vida dos pacientes intubados e chega a atender simultaneamente até doze pacientes em ventilação mecânica cujas vidas dependem de um aparelho inadequado para este fim.”

Segundo o documento, constata-se o ‘completo colapso’ do sistema de saúde de Ponta Grossa e que a Fundação Municipal de Saúde não estaria garantindo condições mínimas de atendimento. “Nós, como médicos da única Unidade de Pronto Atendimento com portas abertas para o atendimento de queixas respiratórias na cidade de Ponta Grossa, consideramos que a Secretaria Municipal de Saúde não está garantindo as condições mínimas necessárias para o atendimento da população, além de parecer omissa às diversas notificações realizadas pelo corpo clínico ao longo dos últimos meses, não apresentando soluções eficazes para a problemática exposta.”

A redação do D’Ponta News entrou em contato com a Prefeitura Municipal para confirmar o recebimento do documento, além de posicionamento sobre os assuntos expostos. Leia a íntegra da nota enviada (atualizado às 19h30).

No mês de março, quando Ponta Grossa chegou ao maior pico da doença, a FMS ampliou o número de cilindros para fornecer oxigênio, substituiu as válvulas da central de oxigênio para aumentar a  oferta  aos pacientes, e neste mesmo período iniciou um processo de dispensa de licitação para locação da Usina Elétrica de Oxigênio, a qual está sendo instalada a partir de hoje (14) na UPA Santa Paula. 
Além disso, a FMS aumentou o contrato de fornecimento de cilindro de oxigênio, disponibilizou novos respiradores, que foram doados pela Casa da Indústria, forneceu alimentação enteral para pacientes intubados, através do Hospital Municipal Amadeu Puppi, até que a empresa gestora da UPA Santa Paula conseguisse um contrato para fornecimento do mesmo. Ainda, a FMS disponibilizou um nutricionista e dois fisioterapeutas do quadro próprio para acompanhamento dos pacientes internados, além  de um profissional pneumologista para orientação da equipe quanto ao acompanhamento de pacientes intubados em estado grave. 
A FMS lembra que este  serviço não se trata de um Hospital ou UTI, e entende que os pacientes deveriam ficar menos tempo na estrutura, mas, infelizmente, em um momento de pandemia, em que os leitos hospitalares estão indisponíveis pelo Estado, o município ofereceu o que era possível sem medir esforços. É nítido e notório a insatisfação, o cansaço físico da equipe, bem como a alteração  do escopo  e fluxo de atendimento da UPA, porém  essa é a única porta disponível no município e que segue atendendo a população com sintomas respiratórios.
O cenário que a UPA Santa Paula está vivendo é o mesmo  que o encontrado em todas as cidades do Paraná, nas quais as equipes passaram a atender como UTI, todas trabalhando acima da capacidade, e realizando atendimentos assemelhados aos de hospitais.

De acordo com o boletim da COVID-19, divulgado pela Fundação Municipal da Saúde de Ponta Grossa nesta segunda-feira (14), foram confirmados 129 novos casos e nove mortes em decorrência da doença. No total, são 42.655 casos confirmados, sendo 25.797 recuperados, 15.702 em isolamento domiciliar, 40 internados em enfermaria e 80 internados em UTI. A FMS já confirmou 1.014 mortes e outros 21 óbitos ainda estão em investigação. Confira o boletim completo clicando aqui.

O último boletim do HU-UEPG, divulgado na manhã desta segunda-feira, 14, aponta 100% de ocupação em todos os setores, e 300% de ocupação nos leitos de emergência do Pronto Atendimento.

 

Confira o texto na íntegra.

Carta do Corpo Clínico da Unidade de Pronto Atendimento — UPA Santa Paula — Ponta Grossa/PR

Em decorrência do aumento significativo das contaminações pelo novo coronavirus no Município de Ponta Grossa/PR e na região dos Campos Gerais, bem como o total esgotamento dos recursos em razão da ocupação de todos os leitos destinados ao atendimento de pacientes com COVID, a situação da UPA Santa Paula é extremamente crítica. Pacientes graves que demandam cuidados intensivos e que, idealmente, seriam transferidos em pouco tempo para uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI), permanecem durante dias em nossa unidade devido a falta de leitos. Em razão desta demanda, a UPA tem funcionado como UTI, apesar de não ser dotada dos equipamentos necessários para prestar o devido atendimento, como gasômetro, hemodiálise, tomografia, médicos especialistas e rotineiro, por exemplo.

Além disso, há meses nossa unidade vem apresentando problemas com a rede de oxigênio, sendo solicitado diversas vezes pelos médicos plantonistas que o problema seja sanado, porém, até o momento, não tivemos uma solução satisfatória. A UPA conta apenas com um compressor odontológico para manter a vida dos pacientes intubados e chega a atender simultaneamente até doze pacientes em ventilação mecânica cujas vidas dependem de um aparelho inadequado para este fim. Além disso, este compressor, que já vinha apresentando problemas há semanas, parou de funcionar há alguns dias, não sendo consertado de forma eficaz até então.

Nesse momento há na UPA diversos pacientes em condições clínicas graves e que necessitam de intubação, porém não há condições estruturais para que a manutenção desses pacientes em um respirador seja segura.

O sistema de saúde da cidade de Ponta Grossa encontra-se em situação crítica há meses, mas apresenta piora progressiva e entrou novamente em completo colapso. O Corpo Clínico da UPA Santa Paula já expôs a gravidade da situação diversas vezes às autoridades, não sendo conivente com o descaso à saúde da população. Nós, como médicos da única Unidade de Pronto Atendimento com portas abertas para o atendimento de queixas respiratórias na cidade de Ponta Grossa, consideramos que a Secretaria Municipal de Saúde não está garantindo as condições mínimas necessárias para o atendimento da população, além de parecer omissa às diversas notificações realizadas pelo corpo clínico ao longo dos últimos meses, não apresentando soluções eficazes para a problemática exposta.

Informamos então que, nesse momento, a Unidade não tem condições de manter o suporte aos pacientes graves, bem como de receber novos pacientes, até que a estrutura necessária para atender a demanda seja restabelecida. Estamos empreendendo todos os nossos esforços para atender a população da melhor forma possível, cumprindo com nosso juramento e tomando todas as providências possíveis para que cada paciente seja devidamente atendido, dentro das nossas possibilidades.

Ponta Grossa/PR, 14 de junho de 2021

Corpo Clínico da Unidade de Pronto Atendimento de Ponta Grossa (Unidade Santa Paula)

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