Transformar a tristeza em alegria. Este é o principal objetivo do projeto Doando Amor que produz e doa perucas para mulheres em tratamento de câncer. A iniciativa foi idealizada pelos cabeleireiros ponta-grossenses Nádia Solange Neves de Castro Menezes e Wilson de Castro Menezes Neto. O trabalho voluntário nasceu sem pretensão de ser grande, mas a cada dia que passa tem alcançado mais pessoas e agora o casal buscar recursos para aumentar a produção e beneficiar ainda mais pacientes.
O projeto Doando Amor surgiu em 2017, quando Solange decidiu ajudar uma amiga da faculdade, que por causa de um câncer no ovário, tinha perdido os cabelos. “Eu estava prestes a me formar na faculdade e fazia tempo que ninguém da turma via essa nossa colega. Ela chegou na sala de turbante e muitas pessoas ficaram olhando com pena por ela estar doente”, lembra.
Solange, que já trabalhava como cabeleireira, resolveu confeccionar uma prótese para a colega. “Eu não tinha menor a ideia de como fazer uma peruca, mas consegui fazer e a prótese ficou muito bonita. Inclusive, na formatura, a nossa colega estava usando a peruca que eu fiz e era nítido como ela estava se sentindo diferente”, recorda.
Outras pessoas começaram a procurar a cabelereira em busca de uma prótese e, de lá para cá, o volume de pedidos começou a crescer mais do que o esperado. “Eu não tinha que ideia que o projeto iria tomar uma proporção tão grande e levei um susto com a quantidade de pessoas me procurando. Eu não sou ninguém, sou apenas uma pessoa que gosta de fazer o bem e não tem condição de aumentar a demanda”, lamenta.
Além de mulheres entram em contato diretamente, o projeto Doando Amor também atende organizações que desenvolvem trabalhos de ajuda voltados para mulheres com câncer. É o caso do grupo ‘Corrente do Bem’ que atua nas cidades de Castro, Ventania, e Piraí do Sul e da Rede Feminina de Combate ao Câncer de Carambeí. No mês passado, foram entregues sete perucas em Piraí do Sul e mais cinco devem ser entregues em Carambeí em breve. “O nosso objetivo é fazer a entrega de forma mais rápida e conseguir atender mais pessoas”, conta.
Vaquinha na internet
Para aumentar a produção e acabar com a fila de espera, Solange recorreu às plataformas de financiamento coletivo. O objetivo é arrecadar R$ 6 mil para adquirir duas máquinas de costura, uma zig-zag e uma reta. A estimativa é que a máquina de costura reta custe, aproximadamente, R$ 2,8 mil e a zig-zag, em média, R$3,2 mil.
Atualmente o projeto Doando Amor conta com apenas uma máquina de costura e não tem os melhores equipamentos à disposição. “O trabalho de confecção das perucas é demorado e detalhado. Por mais que a gente receba bastante doações de cabelos, o processo de produção, da forma que é hoje, não permite que nós sejamos tão rápidos como gostaríamos nas entregas”, justifica.
Além disso, Solange e o marido conciliam a confecção das perucas com o trabalho como cabeleireiros. A falta de tempo para se dedicar integralmente ao projeto faz com que uma peruca que poderia ser feita em apenas três dias acaba demorando um pouco mais. “Algumas pessoas ficam nervosas e até revoltadas por eu não tem perucas à pronta-entrega, mas eu não tenho condição de atender uma demanda tão grande”, lamenta.
As doações podem ser feitas através do link: http://vaka.me/1189838
Como é o processo de confecção das próteses
Solange destaca que o processo de confecção das perucas é minucioso e artesanal. “A peruca precisa ser bem feita para de fato representar o cabelo. Não é puxar a brasa para o nosso assado, mas nós fazemos com a máxima perfeição possível”, enfatiza.
Ela conta que em cada prótese são utilizados, em média, 10 metros de cabelo, todos vindo de doações. As mechas passam por um processo de separação, limpeza e preparação para posteriormente serem costuradas em uma base anatômica. Solange investe do próprio bolso e ela mesma compra esse item. “Nem sempre a pessoas podiam vir até mim para provar a peruca. Então eu encontrei na internet e eu mesma compro uma base que permite que a prótese se adapte a qualquer tamanho de cabeça”, relata.
Depois de pronta, cada peruca custa cerca de R$ 3,5 mil, mas é cedida sem custo nenhum para as pacientes com câncer durante todo o período do tratamento. O único compromisso é devolver a prótese quando ela não for mais necessária. “Nós já produzimos mais de 60 perucas, mas muitas delas não voltaram. Eu não vou durar para sempre e ideia é criar um projeto que, mais para frente outra pessoa possa dar continuidade”, enfatiza.
Transparência na doação dos cabelos e perucas
Solange ressalto que o trabalho é sério e todo o processo é 100% transparente. O projeto Doando Amor mantém uma página no Facebook para registrar todas as pessoas que doaram o cabelo e também aquelas que receberam a peruca. “O momento da entrega da prótese é muito emocionante, as mulheres ficam numa alegria contagiante. Nós queremos que quem dou saiba para onde está indo o cabelo e possa sentir a mesma alegria que nós sentimos nesse momento”, salienta.
A autoestima das mulheres é muito afetada pela perda dos cabelos, reforça Solange. “Muitas deles são abandonadas pelos companheiros, entra em depressão e perdem a identidade. É como se elas se olhassem no espelho e não se encontrassem mais”, sublinha.
Ver a alegria estampada no rosto das pacientes é o que motivo Solange a dedicar parte do seu tempo ao projeto. “Há maior felicidade em dar do que em receber. A partir do momento que o sorriso de outro te faz feliz não existe um motivo melhor para que você faca um trabalho”, garante.
Imagens: Reprodução/Facebook