A foto do perfil nas redes sociais mostra a que veio. De cara, a frase “Vacina para Todos. Viva o SUS. Viva a Ciência” indica o anseio de uma médica que está na linha de frente no combate à pandemia do novo Coronavírus. Maria Cristina Guarienti, médica intensivista do Hospital da Universidade Estadual de Ponta Grossa (HU-UEPG), sabe bem o porquê de clamar por vacina até em suas redes sociais. Atuante em um hospital referência no tratamento de pacientes com Covid-19, ela divide a rotina entre salvar vidas e cuidar de sua família.
Cris, como é chamada por quem a conhece, é formada em medicina há mais de 10 anos e há 4 atua no HU-UEPG. Seu primeiro contato com o Hospital foi durante a residência em clínica médica, quando acompanhava os ambulatórios. Em 2017, Cris entrou para o Programa de Residência em Medicina Intensiva. “Fui a primeira residente. Tive a sorte de conhecer e aprender com os melhores profissionais da medicina, enfermagem, fisioterapia, psicologia. Tenho muito orgulho de, hoje, continuar fazendo parte desse time de gigantes”, relembra.
O começo da pandemia em Ponta Grossa foi totalmente diferente para Cris. “Eu estava afastada, pois minha filha tinha 30 dias nesta época. Acompanhava tudo de longe – abertura da UTI 3, criação dos protocolos e outras ações. Ao mesmo tempo que eu queria muito estar ajudando, eu tinha muito medo, principalmente pela minha família”. O primeiro caso chegou, a UTI 3 encheu e os 10 primeiros leitos foram insuficientes. A partir daí, veio a UTI 4, o convite para atuar como rotineira e depois a necessidade de abrir a UTI 5. Neste momento já era impossível para Cris não se envolver. “A minha especialidade era a mais requisitada e eu já não podia me dar ao luxo de continuar em casa. Voltei para a rotina da UTI, perdida, assustada, mas em pouco tempo me adaptei ao novo normal”.
Os novos dias se dividiram entre plantões na UTI 4, no terceiro andar. “Acreditávamos que tudo isso seria passageiro, só alguns meses de pico, mas infelizmente nos enganamos”. Entre os momentos marcantes que viveu, Cris enfatiza que o pior foi ter se contaminado e, consequente, levado o vírus para sua família. A médica já havia recebido a primeira dose da vacina e os sintomas foram leves. Seu marido apresentou poucos sintomas e seus filhos não apresentaram nada. Mas sua mãe, que faz parte do grupo de risco, acabou sendo internada no HU. “Eu sempre tive medo de contaminá-la, foram os piores dias da minha vida. Larguei tudo para cuidar dela, e ela precisou de internamento hospitalar. Graças a Deus e a colegas maravilhosos, passamos por tudo sem maiores consequências”. Depois de alguns dias no oxigênio e muita fisioterapia, a mãe de Cris recebeu alta. “Nestes dias tive a certeza de ter ao meu lado pessoas fantásticas, mas também algumas decepções que ficaram pelo meio do caminho”.
As relações com Cris no trabalho chegaram a níveis profundos, como de família, de acordo com a fisioterapeuta Thalita Karoline Sidoski. As duas se conhecem desde 2018, durante a residência em intensivismo. “Ficava admirada como aquela medica se dedicava aos seus pacientes e dava atenção aos seus familiares”, conta Thalita. O tempo passou e a parceria aumentou entre as profissionais. “Nos sentíamos em casa por estamos juntas e até nos chamávamos de “Dupla”. Em 2020 tivemos a chance de trabalharmos juntas novamente. Que alegria foi saber que todos os pacientes estavam sobre o cuidado daquela médica tão competente e dedicada”. A admiração por Cris não é sem motivo, segundo Thalita, “porque tudo que precisamos é só falar com a “mãe Cris”, pois ela dá um jeito de ajudar! São tantas histórias, tantas risadas, que levarei para sempre!”.
A médica intensivista, Mayza Mayumi Yamashita, conheceu Cris durante o período de residência e considera a colega como uma das grandes incentivadoras para o início da carreira na medicina intensiva. “A Cris é uma profissional dedicada e extremamente competente, amiga e divertida, mãe admirável, mulher forte e determinada, foi e ainda é como uma irmã mais velha para mim”. Durante o período de residência, as duas foram companheiras na discussão de casos clínicos. “Ela me norteava em relação a aplicação dos protocolos na prática médica, foi meu ombro amigo e parceira de risadas e conversas aleatórias durante o café da manhã dentro do hospital”, relembra Mayza. Em meio à pandemia, com períodos de exaustão mental e de angústia, o vínculo de amizade e confiança se fortaleceu. “Discutimos as melhores opções terapêuticas, alinhamos condutas e damos o nosso melhor diariamente pelos nossos pacientes. Tenho grande admiração por ela e sou muito grata por ter ela na minha vida como amiga e conselheira”, finaliza.
Um apelo à ciência
Depois de um ano no combate à pandemia e no tratamento de pacientes com Covid-19, Cris ressalta que as UTIs continuam lotadas e a faixa etária dos pacientes graves está diminuindo. “Por trás de cada profissional existe uma família que também corre riscos, que também está exausta, principalmente pela nossa ausência e doação neste momento”. A médica destaca o esforço dos profissionais e faz um apelo. “Não paguem para ver, a vida de todo mundo importa! Nos respeitem, respeitem nossas famílias. Evitem aglomerações, usem a máscara corretamente, não esqueçam do distanciamento e do álcool em gel. Acreditem na ciência e vacinem-se!”.