Durante entrevista ao programa Manhã Total, apresentado por João Barbiero, na Rádio Lagoa Dourada FM (105,9 para Ponta Grossa e região e 90,9 para Telêmaco Borba), nesta quinta (27), a nutricionista Adriane Colaça alerta para os perigos do consumo de alimentos ultraprocessados e o personal trainer Lúcio Mauro aborda os riscos do sedentarismo e o benefício da atividade física para o desenvolvimento de crianças e adolescentes.
Adriane observa que os pais são, muitas vezes, diretamente responsáveis pela obesidade dos filhos, por ela ser reflexo do ambiente em que essa criança cresce e dos alimentos que são oferecidos a ela no dia a dia. Mauro pontua que, na correria do dia a dia, os pais recorrem aos alimentos ultraprocessados em vez de fornecer uma alimentação rica em frutas e vegetais, por exemplo.
“O pai e a mãe são diretamente responsáveis pela escolha alimentar da criança. Se o pai e a mãe não comem vegetais, frutas, verduras, nenhum alimento saudável, onde essa criança vai aprender essa rotina, esse hábito?”, questiona a nutricionista.
Segundo Adriane, os ultraprocessados contêm compostos que “viciam” nosso paladar e, assim, os naturais não têm como competir pela preferência da criança. “Ele já foi elaborado e estudado para te deixar viciado naquela crocância, naquele sabor, naquela intensidade de sabor. É muito difícil essa briga de forças”, acrescenta. Ela analisa que o marketing da alimentação ultraprocessada é muito eficaz e imbatível, porque entra no âmago emocional da criança e fica impregnado.
“O ultraprocessado não deve fazer parte da dispensa de ninguém”, sentencia Adriane. Exemplos de ultraprocessados seriam as bolachas recheadas, salgadinhos, queijinho petit-suisse, pão bisnaguinha, achocolatados. No dia a dia da crianças, os pais podem oferecer um iogurte, desde que sem muito corante; frutas e verduras, feijão, arroz, carne e um purê de batata ou batata assada, sugere.
A indústria alimentícia, conforme a nutricionista, tem buscado meios de burlar a nova legislação, que exige que dados nutricionais – como taxas de gordura saturada, açúcar e sódio. “Para fugir dessa rotulagem e desacreditar o próprio produto, a indústria substituiu o açúcar por adoçantes artificiais. Aí não está descrito no rótulo e a pessoa continua comprando, como se fosse saudável”, diz.
Nas prateleiras dos supermercados, Adriane salienta que a informação crucial para se analisar no rótulo é a composição, os ingredientes usados na fabricação daquele alimento. “Quanto menos ingredientes tiver, mais próximo do seu estado in natura ele é, mais saudável será esse alimento para quem está consumindo. Não adianta ficar restrito a calorias por porção. 300kcal de um junkie food ou de um fast food são muito diferentes de 300kcal de um prato de arroz, feijão e bife”, orienta.
Outro aspecto para avaliar na descrição dos ingredientes nos rótulos: ela é decrescente, isto é, os ingredientes que aparecem por primeiro na composição estão presentes em maior quantidade. “Se a composição já começa com açúcar, foge desse”, frisa.
Intolerância alimentar
Adriane acredita que há um discurso que criou um “terror” em torno do consumo de glúten e lactose, por exemplo. “Esse terror da intolerância ao glúten e lactose é uma lenda. Pouquíssimas pessoas têm intolerância a glúten e a lactose. Quem mais tem essas intolerâncias são os asiáticos. Todos os demais têm uma boa digestão de lactose. Vamos parar com o terrorismo nutricional e fazer o básico bem feito. Bota na mesa, para a criança, um prato de macarrão com carne moída, salada, cenoura, beterraba, faz um suco de vegetal misturado com uma fruta cítrica, para melhorar esse aporte de nutrientes”, recomenda. Outras sugestões da nutricionista para o lanche são o pão de queijo, ou uma panqueca, com a massa batida a mão, com ovo, farinha de aveia e farinha comum.
A nutricionista conta que, quando recebe uma criança ou pré-adolescente no consultório, a dieta não é prescrita para elas, mas para a família. “O ambiente está doente e precisamos consertá-lo. Não consigo fazer uma abordagem individualizada na criança se o pai e a mãe não mudarem os hábitos, não mudarem a conduta. Eles têm um poder de persuasão muito grande sobre a criança, são eles que disponibilizam à criança esse alimento e que estimulam essa criança a comer”, reforça.
“Muitas vezes, a mãe ou o pai quer que o filho esteja saudável, mas não vê que quem está passando exemplo errado são eles, pois não têm regularidade em uma prática esportiva, têm hábitos alimentares que contaminam a casa inteira”, complementa o personal.
A vida saudável, pontua Adriane, não deve ser associada à restrição. “Se a restrição está intensa na sua vida, tem alguma coisa errada, temos um outro distúrbio chamado ortorexia. São dois extremos, o excesso dessa comida limpa e saudável também é uma doença”, frisa.
Estímulo à atividade
Outro fator que contribui para a obesidade infantil é o sedentarismo, tendo em vista que muitas crianças passar a maior parte do tempo diante de telas (TV, celulares, tablets). Segundo o personal trainer Lúcio Mauro, é cada vez mais frequente que, quando a criança chora, o adulto responsável por ela se adianta em colocar um celular e um salgadinho em suas mãos para acalmá-la. “E balinha, às vezes, a criança não tem nem um ano e já está tomando suquinho artificial ou balinha”, complementa a nutricionista.
O personal recomenda aos pais que aproveitem qualquer espaço aberto disponível e todo o tempo livre para incentivar os filhos com jogos e brincadeiras que, muitas vezes, eles nem conhecem, porque vêm caindo no desuso, como jogar queimada, bete-ombro, alerta, esconde-esconde, pular corda, salto em distância. “Isso faz com que exista uma queima calórica, o desenvolvimento de agilidade, força, equilíbrio e raciocínio”, salienta Mauro.
Ele critica uma prática comum nas escolas: quando a aula de educação física se restringe ao professor fazer a chamada e soltar uma bola para os meninos e outra para as meninas. O personal destaca a importância de estimulá-los, durante a fase de crescimento, com atividades físicas adequadas, como a ginástica estético-postural, para a correção da postura. “Muitas crianças hoje passam muito tempo em frente do computador, sentados com postura errada”, enfatiza.
Mais informações nas redes sociais do personal trainer: @luciomauro.personal ou pelo WhatsApp (42) 99844-0531.
As redes sociais da nutricionista são @adricolacanutri.
Confira a entrevista da nutricionista e do personal na íntegra: