Quatro lideranças que vivem o dia a dia da cidade e que também debatem o tema com representantes do município avaliam a questão da segurança pública em Ponta Grossa. E, você, sente-se seguro na cidade?
por Melissa Eichelbaun
O município de Ponta Grossa é o quarto mais populoso do Paraná, com 355 mil habitantes, segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Pesquisa (IBGE), e cresce a cada dia em número de empresas, investimentos e infraestrutura. Por conta disso, é um dos municípios que ficam em maior evidência no estado do Paraná. Como consequência desse desenvolvimento, um dos assuntos que mais preocupam os cidadãos é a segurança pública.
Somente no primeiro semestre de 2022, Ponta Grossa registrou 47 homicídios, conforme dados da Seção de Homicídios da Polícia Civil do município. O número impactou os moradores da cidade e acendeu um alerta para as forças de segurança. Em alguns casos, a Polícia Civil informa que chegou a registrar mais de uma morte violenta no mesmo dia.
De acordo com as investigações policiais, o principal motivo das mortes violentas no município tem sido uma disputa entre facções que comercializam drogas. A Polícia Civil tem combatido ostensivamente esse tipo de crime na cidade e realizado prisões de chefes do tráfico, o que abre margem para que outros indivíduos procurem assumir a venda de entorpecentes e iniciem novas disputas por território.
Reforço na segurança
O Ministério Público do Paraná (MPPR) em Ponta Grossa ajuizou duas ações civis públicas para que o estado aumente o efetivo de policiais civis e militares na comarca. De acordo com os documentos, o atual efetivo em atuação é insuficiente para atender a macrorregião, que integra 75 municípios. As ações foram ajuizadas na primeira semana de outubro deste ano.
Em uma das ações civis, o órgão requer que sejam designados 167 novos soldados para o 1º Batalhão de Polícia Militar (1o BPM) da cidade, ampliando assim o quadro da unidade para 536 policiais. Em outra ação, o pedido é para que seja duplicado o atual quadro de investigadores na 13ª Subdivisão Policial (13a SDP) e que seja incrementando o quadro de pessoal da Delegacia da Mulher.
Mapa da Violência
Preocupada com a segurança pública da cidade, a Câmara Municipal de Ponta Grossa (CMPG) aprovou em setembro deste ano o Projeto de Lei (PL) nº 089/2022, que institui o Mapa Municipal da Violência. O objetivo é auxiliar as forças de segurança com dados do nível de violência nos diferentes bairros da cidade. O Mapa Municipal da Violência deve conter o georreferenciamento (considerando bairros e distritos) das ocorrências de homicídios, feminicídios e suicídios, com detalhamento de informações raciais, de gênero e de idade.
Diante de um cenário como esse, faz-se necessário levantar a pergunta: Ponta Grossa é uma cidade segura? Na página ao lado, você confere a opinião de quatro lideranças do município sobre isso.
AVANÇOS CONSISTENTES
“Nós temos avançado de maneira consistente na segurança pública de Ponta Grossa através da integração das forças e do uso cada vez maior da tecnologia no combate ao crime. Hoje, podemos dizer que Ponta Grossa, entre as grandes cidades do Paraná, é uma das mais seguras. Obviamente, ainda temos aspectos nos quais avançar, mas que fazem parte de um processo natural de adequação às demandas que surgem com o desenvolvimento da cidade e com as transformações que acabam ocorrendo na medida em que nós reforçamos a atuação para conter as atividades criminosas. Com base nisso, temos ampliado a troca de informações de inteligência entre as forças de segurança e buscado desenvolver estratégias conjuntas através do Gabinete de Gestão Integrada Municipal, além de promover a troca de experiências entre as equipes por meio de treinamentos e capacitações constantes. Outro ponto importante é a ampliação do uso da tecnologia e de fontes de dados variadas no intuito de viabilizarmos medidas mais eficientes para a proteção da comunidade”
Tânia Sviercoski, secretária municipal de Segurança Pública
FALTA POLICIAMENTO
“Hoje eu não vejo que Ponta Grossa seja uma cidade segura, e os dados infelizmente vêm confirmar isso. Segundo levantamento do governo, vemos um aumento significativo de mortes violentas e intencionais em nosso município. No ano de 2021, houve um aumento de 31% em comparação com o ano anterior, enquanto o estado do Paraná teve uma redução de 5,7%. Ou seja, enquanto outros municípios apresentam queda nas mortes violentas, em Ponta Grossa só vem crescendo. Sinto-me insegura andando pela cidade e, por muitas vezes, tenho que me privar de ir a lugares de lazer ou no período noturno porque não há policiamento adequado. Por isso, toda a minha família também acaba se sentindo insegura e com medo. Acredito que está faltando policiamento e ainda uma melhor gestão do Governo Municipal, tanto no aumento do número de servidores quanto na distribuição das atividades e no treinamento das ações dos serviços de segurança. Eu vejo que cada vez mais não só os bairros, mas também a região central está registrando muito vandalismo e violência, e não vemos atitudes dos gestores municipais, não vemos mudanças com ações efetivas de segurança pública no município”
Evelyn Liber, enfermeira e idealizadora do projeto Brasil Sem Frestas
SEGURANÇA DESIGUAL
“Se comparada aos índices nacionais, vivemos em uma região mais segura, isso porque a criminalidade local está mais relacionada a questões patrimoniais e ao consumo de drogas. Temos cidades na região que, apesar de terem uma população menor, apresentam índices de violência percentualmente maiores do que aqui. Isso não quer dizer que Ponta Grossa seja uma cidade totalmente segura, mas os crimes de maior gravidade estão restritos a determinadas regiões da cidade. Quando eu circulo pelas regiões mais centrais ou próximas a centros comerciais, eu me sinto mais seguro, seja pelo policiamento preventivo ou ostensivo, pelo monitoramento desses locais ou pela circulação de pessoas. Contudo, à medida que nos afastamos dessas regiões, essa sensação vai diminuindo, o que faz com que nesses locais circule menos pessoas. Assim, alguns bairros da cidade e alguns pontos centrais menos urbanizados acabam sendo locais de maior insegurança, havendo, portanto, uma necessidade por parte da população de tomar maiores cuidados nesses locais devido à vulnerabilidade à qual acabam se expondo”
Rauli Gross, professor da UEPG e membro de conselhos de segurança
PODERES OMISSOS
“Na minha opinião, a nossa cidade é segura, sim, isto é, dentro das estruturas de nossas forças de segurança. Sinto-me seguro, sim, sigo todas as normas de segurança, principalmente pela minha experiência e pela convivência com os órgãos de segurança de nossa cidade. Aqui devemos fazer uma divisão. As forças de segurança fazem a sua parte, já os poderes municipais e estaduais deixam muito a desejar. Poderiam dar mais atenção à Guarda Municipal de Ponta Grossa, e o estado às polícias Militar e Civil. Menciono esses termos devido ao nosso maior problema, o qual reside na falta de representatividade política, tanto na esfera estadual quanto na federal, ambas nulas há muitos anos. Isto é, principalmente pela falta de contingentes, de veículos e de equipamentos para o combate ao crime”
Luís Carlos Almeida, presidente do Conselho Comunitário de Segurança de Ponta Grossa