Embora a educação pública de Ponta Grossa esteja acima da média nacional, essa questão ainda divide opiniões. Na visão de alguns, a educação pública local já atingiu um patamar de excelência. Na visão de outros, a realidade é bem diferente. Confira a opinião de quatro profissionais da área sobre o assunto
Por Enrique Bayer
Se fosse realizado um exercício estatístico, certamente seria constatado que “educação de qualidade” é uma das maiores preocupações dos moradores de Ponta Grossa. Um dos parâmetros usados em todo o território nacional para medir a qualidade desse segmento é o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB).
Ainda que criticado, o IDEB, criado em 2007, é o principal parâmetro para esse tipo de medição e reúne os resultados do fluxo escolar e das médias de desempenho nas avaliações. O cálculo é realizado a partir dos dados sobre aprovação escolar obtidos no Censo Escolar e das médias de desempenho no Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb).
Em 2019, último dado disponível, a meta para Ponta Grossa era uma nota de 5.4. O município alcançou 4.8. Ainda que a nota esteja abaixo do esperado, é o melhor resultado histórico da cidade desde 2005, quando o IDEB começou a ser medido. Na rede municipal de ensino, no entanto, a nota alcançou 6.5 em 2019. Para efeitos de comparação, a nota paranaense chegou a 6.4 e, no recorte nacional, a nota é 5.9.
Em Ponta Grossa, esse é o terceiro aumento consecutivo: entre 2013 e 2015, a nota passou de 5.5 para 5.8; entre 2015 e 2017, o índice chegou a 6.3; e, na última medição, chegou a 6.5. A educação, porém, vai além dos números. A questão, portanto, é: Ponta Grossa oferece educação pública de qualidade? Será que esses números são confirmados pela experiência real dos educadores? Confira na página ao lado a opinião de quatro profissionais da área.
REALIDADE PRECÁRIA
“Não oferece [educação pública de qualidade]. Para que Ponta Grossa realmente tenha uma educação de qualidade, é preciso implementar uma política pública que envolva todo o ecossistema educacional. Infelizmente, não é ainda a nossa realidade. A realidade é de professores desvalorizados e desmotivados.
É preciso consolidar uma rede de relacionamentos que, por meio da colaboração, descubra novos caminhos para a educação. Isso significa envolver nessa teia todos os ‘stakeholders’ da educação. Significa que é preciso promover o diálogo democrático com a sociedade e viabilizar a execução financeira do planejamento estratégico pré-definido.
Na escola, é necessário haver gestores competentes. Não podemos mais ter diretores indicados por motivações políticas – eles devem ser concursados, experientes e tecnicamente qualificados para cargos de liderança.
Os professores precisam ser bem formados, motivados e preparados para a realidade da educação do século 21, que tem a revisão dos tempos e espaços, e o protagonismo de seus estudantes como alguns de seus alicerces”
Soraia Regina da Silva, professora
REFERÊNCIA NO ESTADO
“Eu acredito que Ponta Grossa tem, sim, uma educação pública de qualidade. A nossa educação municipal é referência no estado, com um ensino integral de resultados. E, em nossas escolas estaduais, temos observado os alunos se destacando.
Outro ponto a ser exaltado é o grande investimento do município e do estado em capacitação profissional em cursos técnicos. Esses excelentes investimentos refletem no mercado de trabalho e na Agência do Trabalhador, que passa a ter ótimos profissionais capacitados para as vagas de emprego. Investir na educação é um dever do poder público e, quando isso acontece, colhemos resultados como os nossos, pois o mercado fica com quem se qualifica.
Mesmo sabendo que temos uma educação de qualidade em nossa cidade, ainda há a necessidade de políticas públicas que beneficiem educandos e uma conscientização, por parte dos empresários e da população em geral, com respeito à educação continuada e que permita maior inclusão no mercado de trabalho. Vejo que seria possível uma ação conjunta entre estado, município e União para equalizarmos uma educação pública com maior excelência e eficácia”
Nilton Cesar Bahls Gomes, professor e diretor da Agência do Trabalhador
GRANDE DESAFIO
“Primeiro seria importante definir de qual qualidade estamos falando. Para alguns, a qualidade está centrada em índices e em rankings. Para outros, a qualidade se expressa em qualidade social, que é bem mais difícil de mensurar.
A qualidade social refere-se à formação integral das pessoas, ao desenvolvimento de capacidades não só intelectuais, mas também de atitudes, de exercício da cidadania, de visão crítica sobre o mundo, da construção de sujeitos com autonomia de pensamento.
Então, sob alguns aspectos, eu diria que, sim, Ponta Grossa oferece educação pública de qualidade. A rede municipal melhorou nos últimos anos e ampliou a infraestrutura de escolas e CMEIs [Centros Municipais de Educação Infantil], tem dado atenção para a formação continuada de seus professores e dá atendimento às necessidades básicas das crianças.
Acredito que a escola pública, de forma geral, enfrenta muitas dificuldades dado o contexto social em que vivemos. Há todo um conjunto de fatores externos à escola, questões sociais, políticas e ideológicas que interferem nos resultados, mas pode-se observar que há uma busca contínua pela qualidade de ensino. Um grande desafio”
Graciete Tozetto Goes, professora do departamento de Pedagogia da UEPG
BUSCA CONSTANTE
“Acredito que a rede pública de Ponta Grossa vive na busca constante por uma educação de qualidade. Constato isso pelos meus 30 anos dedicados a ela, mas também, e principalmente, por ter acompanhado a sua trajetória repleta de desafios e conquistas. Conquistas de ambientes educativos pensados para os estudantes, por um espaço democrático e planejado em prol da educação, e pela formação continuada dos profissionais da educação.
O recente momento que ainda estamos superando foi prova disso. Os professores se reinventaram e compartilharam inúmeras maneiras de manter a escola e as aprendizagens vivas.
Nós, educadores, sabemos que a busca por uma educação de qualidade é, antes de mais nada, um direito adquirido das crianças e adolescentes que atendemos diariamente. Assim sendo, cabe-nos atender as crianças e adolescentes desse século. Competências como letramento digital e competências socioemocionais são destaques para esse novo profissional.
O papel da família nesse contexto também faz toda a diferença. Afinal, uma educação de qualidade se faz com uma parceria entre a família e a escola, com criatividade, inovação e amor. Essa é a educação de qualidade em que eu acredito”
Carmen Souza Pinto, professora, pós-graduada em Métodos e Técnicas em Educação