Sábado, 17 de Maio de 2025

Dívida de quase R$ 1 milhão ameaça encerramento de atividades da APACD

2022-09-30 às 17:24

A Associação Ponta-grossense de Assistência à Criança Deficiente (APACD) enfrenta dificuldades financeiras e corre o risco de fechar depois de 47 anos de atividade. O presidente da entidade, Bortolo Moro, em entrevista ao programa Manhã Total, apresentado por João Barbiero, na Rádio Lagoa Dourada FM (105,9 para Ponta Grossa e região e 90,9 para Telêmaco Borba), desta sexta (30), relatou como se pretende reverter a situação.

A instituição busca o apoio de empresas para quitar as dívidas. “O poder público não vai nos ajudar. Sinto muito falar isso, francamente, mas eles estão pensando só politicamente e não estão pensando socialmente”, lamenta.

A APACD espera reunir, em campanha, no mínimo, 100 empresas que possam fazer doações mensais de R$ 500, por um período de 12 meses. “Se, dentro desses 12 meses, com essa ajuda, não conseguirmos sair dessa situação, teremos que repensar o que fazer. Nossa salvação, hoje, são esses empresários”, diz.

Moro afirma que chegou à presidência da associação a convite do poder público, para resgatar a saúde financeira da instituição. O então controlador-geral do município, Lauro Costa, descobriu irregularidades que a ex-diretora vinha cometendo e o indicou para o cargo, sabendo de seu interesse pelo trabalho voluntário. “Estou lá desde outubro de 2019, tentando manter a instituição aberta e em pé. Por enquanto, estamos só abertos”, lamenta.

Os ex-gestores foram denunciados e foram adotadas todas as providências administrativas e judiciais cabíveis. No entanto, a dívida gerada à instituição ameaça seu fechamento, pois o rombo financeiro chega a quase R$ 1 milhão. Eles teriam deixado de fazer o recolhimento regular de fundo de garantia, imposto de renda e INSS. “Hoje, a maior dívida da APACD é com a Prefeitura de Ponta Grossa. Venho conversando com a Prefeitura há muito tempo, pedindo uma carência, mas temos a obrigação de pagar”, diz.

“Está bem perto de o Ministério Público determinar a punição desses dois”, comenta. O promotor responsável pelo processo, segundo Moro, tem tido uma “sintonia bem afinada” com a entidade, que tem contribuído com o Ministério Público no fornecimento da documentação que sobrou. “Muitos documentos que comprovavam a fraude sumiram, mas conseguimos resgatar alguns”, aponta.

A entidade está sendo obrigada a fazer devoluções de recursos de convênio com a Prefeitura. Essa devolução de recursos está sendo cobrada com juros e a entidade financiou essa dívida em 48 parcelas, das quais já foram pagas 28. “Eles não dão oportunidade de negociação, pois são extremamente legalistas e não têm sensibilidade”, critica Moro.

“Como houve essa improbidade e para nós mantermos a instituição recebendo essas parcelas, temos a obrigação de manter as certidões negativas. Conseguimos fazer isso durante 30 meses, aproximadamente, que é o tempo que estou à frente da instituição, mas chegamos a um momento que estamos completamente sem recursos, nem para pagar funcionários”, comenta.

Segundo o presidente da APACD, os problemas financeiros estão impedindo o atendimento pleno e adequado de 160 crianças com diferentes tipos de deficiência, entre paralisia cerebral severa e sequelas que comprometem os movimentos. E há uma fila de espera de outras 70. “São crianças totalmente dependentes, que vivem, praticamente, o tempo todo, em cadeiras de rodas e precisam de apoio para fazer tudo”, diz.

Oficialmente, a instituição atende crianças e adolescentes de até 18 anos. Entretanto, há pessoas atendidas pela APACD de 35 e até 40 anos. “As crianças só saem de lá em duas condições especiais: primeiro, quando falecem e, segundo, quando a família entende que não é mais necessária a presença da criança na instituição”, comenta.

Moro frisa que a regra não é seguida ao pé da letra porque não é a idade que vai determinar a condição dessa pessoa com deficiência. Completar 18 anos não vai dotá-la de mais recursos, pelo contrário, pode torná-la desassistida se a associação deixar de atendê-la porque atingiu essa idade limite. “Não temos como observar essa regra. Vamos deixar essas crianças onde? As famílias que deixam as crianças lá só tem aquela instituição para deixá-la para poderem se desenvolver economicamente, para trabalhar”, justifica.

Na APACD, atua uma equipe multidisciplinar que já chegou a ter 62 profissionais. Sem recursos para manter toda a equipe, 10 profissionais acabaram se desligando da instituição por demissão indireta. “Não pagamos o salário e eles fizeram uma ação de rescisão indireta e, daqui a pouquinho, começa a respingar essas [ações] trabalhistas”, acrescenta.

Essa equipe é composta de dentista, técnico de higiene dental, fisioterapeutas, médicos neuropediatras e ortopedistas, técnicos de prótese na oficina ortopédica, professoras, atendentes, cuidadores, enfermeiros, técnicos de enfermagem, nutrólogo, psicólogo, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, motorista e ajudante do motorista. A instituição também conta com um conselho diretor, que atua voluntariamente.

“Eles fazem um trabalho magnífico com essas crianças. O amor que eles aprenderam a entregar a essas crianças, porque é dependência total, no nosso caso, pois elas dependem de tudo para tudo. Essa equipe trabalha, cada qual na sua profissão, para que a criança tenha uma sobrevida, que não sabemos precisar até quando, com um pouco mais de dignidade”, explica.

A entidade atende a crianças de famílias sem condições financeiras de manter um cuidador em casa. “Eles também são dependentes da instituição e de nós estarmos lá trabalhando”, diz.

Serviço

A APACD está situada à Rua Paulo Frontin, 1190 – Órfãs. Telefone para contato: (42) 3224-4746.

Pessoas físicas que quiserem contribuir podem doar através do PIX:

CNPJ: 77.017.804/0001-28

Confira a entrevista do presidente da APACD na íntegra: