Com o atual mosteiro cada vez mais invadido pelos ruídos da zona urbana, os monges da Abadia da Ressurreição estão contando as horas para se mudar para a nova sede do claustro, localizada no distrito de Itaiacoca
Por Michelle de Geus
Para viver uma vida consagrada a Deus e colocar os seus dons a serviço dos outros, cerca de 30 monges beneditinos vivem atualmente na Abadia da Ressurreição, em Ponta Grossa. Quando o mosteiro foi fundado, em 1981, o terreno localizado na Colônia Eurídice proporcionava o necessário afastamento do mundo e da sociedade, além de criar um ambiente de tranquilidade e introspeção mais propício para a vida monástica. No entanto, com o crescimento da cidade e o aumento populacional das últimas décadas, o caos da vida urbana começou a interferir na atmosfera de silêncio do local, fazendo com que os ideais do monasticismo começassem a se perder.
Por conta disso, desde 2014 os monges beneditinos iniciaram a construção de uma nova sede no distrito ponta-grossense de Itaiacoca, um pouco mais afastado da zona urbana. Segundo Dom Daniel Sousa, a proximidade com a cidade compromete o ideal de vida monástica, sendo possível até mesmo ouvir carros de som em momentos de oração. “Antes de tudo, escolhemos o distrito de Itaiacoca por ser mais distante da zona urbana. É um motivo prático, mas também espiritual. Os monges precisam se afastar para obter o silêncio interior e exterior, e, desse modo, poder oferecer um ambiente de oração aos visitantes. É necessário sair da agitação do mundo para estar imerso no universo de Deus”, explica.
Entretanto, Dom Daniel ressalta que o afastamento da cidade não foi o único motivo que levou os monges a escolherem o distrito de Itaiacoca. “A região onde se encontra o terreno de nova sede é uma área de preservação florestal. Do alto do monte sobre o qual está sendo construído o nosso mosteiro, é possível vislumbrar um tanto dessa realidade”, comenta. O local escolhido está situado a mais de mil metros de altitude, onde, segundo o religioso, será criado um ambiente de paz e profunda conexão com o divino.
Obras
Viabilizadas por meio de doações, as obras da nova sede da Abadia da Ressurreição, conforme Dom Daniel, seguem em ritmo acelerado e a construção da hospedaria já está finalizada, faltando apenas alguns acabamentos. No momento, os trabalhos se concentram em algumas partes mais específicas da Igreja Abacial, que está em vias de conclusão. “Graças a Deus, apesar da crise financeira causada pela COVID-19, não precisamos interromper o andamento das obras. No entanto, ela passou a se desenvolver um tanto mais lentamente em vista do aumento dos custos”, relata o monge. A próxima etapa é iniciar a construção das alas de habitação dos monges, parlatórios, biblioteca, claustro, refeitório, sala capitular, salas de aula e arquivo.
De acordo com Dom Daniel, trata-se de um projeto de longo prazo e a conclusão das obras depende, em grande parte, do trabalho e de doações. A mudança definitiva para o novo espaço, segundo ele, ainda não tem data prevista para ocorrer. Dom Daniel lembra que as primeiras propostas para a construção da nova sede foram apresentadas há 19 anos e, deste então, várias iniciativas foram criadas para arrecadar recursos. “Acreditamos que a venda do nosso atual mosteiro seria de grande ajuda para finalizarmos as nossas novas instalações”, avalia.
Fortaleza
A arquitetura da nova sede da Abadia da Ressurreição toma como base a arte românica, estilo surgido na Europa, no século XI, e que predominou principalmente nas construções de igrejas católicas e mosteiros, sendo caracterizado por arcos em 180 graus, pilares maciços e paredes espessas. “Apesar de ser um estilo sóbrio, não apresenta formas pesadas, duras e primitivas. Porém, é dotado de dignidade no campo eclesial, porque dentro do despojamento se vislumbra a Fortaleza de Deus, tal como acontece no serviço divino executado pelos monges”, detalha o religioso.
Fabricação de velas
Em abril deste ano, um incêndio destruiu a fábrica de velas do Mosteiro da Ressurreição, principal fonte de renda do local, inutilizando duas máquinas e uma grande quantidade de velas. O curto-circuito danificou a fiação elétrica e o telhado, além de materiais e utensílios. Logo após o término da Quaresma, os monges iniciaram uma campanha de arrecadação de fundos nas redes sociais em prol da reconstrução da fábrica. “Graças a Deus, por intermédio de muitas pessoas, mosteiros, grupos de oração, instituições e congregações religiosas, estamos prestes a encerrar essa campanha. Em breve, o setor acometido pelo incêndio será restaurado e voltaremos a atuar nessa área”, comemora Dom Daniel. A loja do mosteiro também vende pães de fabricação própria, CDs de canto gregoriano gravados pelos monges e outros artigos religiosos.
Conteúdo publicado originalmente na Revista D’Ponta #291 Agosto de 2022.