Sábado, 20 de Abril de 2024

D’P Paraná: Beto Preto, o combatente da saúde

2022-04-01 às 16:35

por Michelle de Geus

            No dia 11 de março de 2020, o estado do Paraná registrava o primeiro caso confirmado de infecção pelo novo Coronavírus. Morador de Curitiba, o paciente, um homem de 54 anos, havia retornado de uma viagem pela Espanha, Portugal e Holanda há poucos dias. Ao sentir sintomas leves, que incluíam febre e dor de garganta, ele buscou um hospital da rede privada, onde foi colhida uma amostra para exame. No dia seguinte, este e outros cinco casos seriam oficialmente confirmados pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesa). Desde então, mais de 2,3 milhões de paranaenses já foram diagnosticados com COVID-19.

De acordo com o secretário estadual da Saúde, Beto Preto, transparência e cautela foram as principais estratégias do Governo do Paraná para lidar com a pandemia ao longo desses dois anos. “Tenho repetido um binômio neste período, que é, de certa forma, a nossa filosofia para esse enfrentamento: transparência total das nossas ações e cautela”, afirma, acrescentando que essa é a mentalidade que vem guiando o combate à COVID-19 no estado. “Transparência para mostrar à população as nossas ações e levar as informações – nem sempre positivas –, mas também a cautela para tomar as melhores decisões, baseadas sempre na ciência e com responsabilidade”, acrescenta.

 

            Preparação

A pandemia pegou o mundo de surpresa, mas o Paraná teve tempo para se preparar, afirma Preto. A doença, reconhecida pela primeira vez na China em dezembro de 2019, assustava a Europa e já circulava em algumas regiões do Brasil antes de ser diagnosticada no estado. Prevendo a chegada do vírus e a gravidade da contaminação, o secretário relata que o combate à COVID-19 começou antes mesmo de os primeiros casos serem confirmados. Ele lembra que o Governo do Paraná criou um Comitê Gestor de Enfrentamento da COVID-19, que reúne diversas áreas, para tomadas de decisão, e um Centro de Operações de Emergências (COE), para monitorar o avanço da doença.

Já no início, a pandemia exigiu um olhar para o Paraná por inteiro e atenção igualitária para os 399 municípios, destaca o secretário. “As ações da Saúde do Paraná não foram para este ou aquele município: foram para todos os municípios do estado, desde a capital, que tem a maior população, até as menores cidades. Essa é a regionalização proposta pelo governador Ratinho Júnior”, aponta.

Em dois anos, foram investidos R$ 1,6 bilhão na estrutura de saúde e criada uma rede de atendimento, nunca antes vista na história do estado, para dar suporte aos paranaenses. Somente o Tesouro do estado empenhou R$ 685 milhões diretamente (43% do total). O restante veio de repasses da União, doações e outras fontes de arrecadação. “O desafio foi e está sendo permanente, pois tivemos que repensar toda a estrutura de saúde para fazer esse enfrentamento”, avalia Preto.

“O desafio está sendo permanente, pois tivemos que repensar toda a estrutura de saúde para fazer esse enfrentamento”

            Estratégias

Além de reorganizar a estrutura hospitalar, a Sesa ampliou o número de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e enfermaria, criando espaços exclusivos para o atendimento de casos suspeitos ou confirmados de COVID-19. “Em poucos meses, o Paraná mais que dobrou a rede existente, somando aos 1.200 mil leitos gerais mais 2 mil leitos só para o tratamento de COVID”, relata o secretário. Com a chegada da variante Delta e o aumento expressivo de casos na chamada “segunda onda”, em março de 2021 os serviços de saúde voltaram a ficar sobrecarregados e foi necessário abrir mais leitos. O Paraná somou, em junho daquele ano, 4.987 leitos exclusivos para a COVID-19, com pelo menos 90% de ocupação.

O estado também investiu na compra de respiradores e monitores, agindo com transparência e agilidade e realizando transações com preços bem abaixo do registrado em outros estados. Além disso, o Paraná, conforme o secretário, é o estado que mais testou proporcionalmente, permitindo identificar focos de propagação do vírus e agir rapidamente para conter a disseminação da doença.

 

            Aliados

            Como o Governo Estadual optou por não abrir hospitais de campanha, a parceria entre hospitais públicos e privados também foi fundamental no combate à pandemia, observa Preto. “A rede hospitalar no Paraná é muito boa, e a nossa estratégia foi justamente fortalecer aquilo que já existia. Então fizemos essa parceria. Colocamos recursos, financiamos leitos, enviamos equipamentos, respiradores”, detalha. Com o apoio dos hospitais filantrópicos e privados, o Paraná chegou a quase 5 mil leitos de UTI e enfermaria. O Governo do Estado também finalizou as obras e antecipou a entrega dos hospitais de Telêmaco Borba, Guarapuava e Ivaiporã para atender pacientes infectados.

O secretário acrescenta que órgãos como Assembleia Legislativa, Tribunal de Justiça, Tribunal de Contas e Ministério Público também contribuíram com recursos para a compra de equipamentos, assim como a iniciativa privada, que doou respiradores, máscaras e outros insumos. “Tivemos muitas ajudas e, em nome do Governo do Estado, quero agradecer a todos que estiveram do lado da Secretaria de Estado da Saúde.”

 

“Cada dia era uma angústia”, diz Beto Preto

            Secretário contraiu a COVID-19 no início do ano passado

            Em fevereiro de 2021, Beto Preto contraiu a COVID-19, precisou ser hospitalizado e passou quase dez dias internado no Centro Hospitalar de Reabilitação Ana Carolina Moura Xavier. “Posso dizer que cada dia era uma angústia de saber como a doença ia evoluir. Vi pessoas que estavam no leito ao lado e no dia seguinte tinham sido intubadas”, recorda. O caso de Preto evoluiu bem e ele ficou apenas na enfermaria. “Mas mexe com qualquer ser humano. Perdi amigos… Enfim, todo mundo tem uma experiência para contar.”

 

            Momentos difíceis

            Na visão de Preto, o momento mais crítico da pandemia foi a perda de vidas humanas. As duas primeiras mortes causadas pela COVID-19 no estado foram confirmadas no dia 27 de março de 2020. Nos dois anos seguintes, mais de 42 mil paranaenses perderiam a batalha contra a doença. “E, onde as pessoas morrem, infelizmente, não há que se falar em vitórias”, observa.

O secretário cita outros momentos difíceis, como a época em que houve uma escalada na demanda hospitalar e o estado passou por uma escassez de medicamentos anestésicos para sedação de pacientes intubados. “Vivemos momentos dramáticos, com as pessoas em leitos de UTI, sabendo que elas poderiam acordar a qualquer momento”, recorda. Naquele período, ao menos 6 mil pessoas estavam internadas entre as unidades exclusivas, prontos atendimentos e serviços privados, e os estoques se aproximavam de zero. “Conseguimos contornar isso, mas foi um momento muito difícil, e não tivemos nenhuma intercorrência nesse sentido”, aponta.

 

            Decisões duras, mas necessárias

Momentos difíceis demandam decisões difíceis. E com a pandemia foi igual. “A pandemia exigiu de todos. Muitas áreas foram penalizadas, não só a saúde”, comenta Preto. O secretário lembra que precisou tomar decisões difíceis, mas necessárias, para evitar o espalhamento do vírus e preservar vidas. “As nossas crianças ficaram sem aulas presenciais; o comércio baixou as portas; as pessoas ficaram aprisionadas. Mas isso foi necessário para o controle sanitário. Mexer com a vida das pessoas nessa escala é muito complicado, é muito duro, porque o convívio social praticamente foi extinto”, analisa, salientando que, graças ao esforço coletivo, hoje o cenário é muito mais otimista.

 

            Os verdadeiros heróis

Na avaliação do secretário, o maior impacto da pandemia recaiu justamente sobre os profissionais de saúde. “Eles foram e estão sendo espetaculares. Eles é que seguraram o bastão. Foram levados à exaustão, colocando a própria vida em risco para ajudar e salvar a vida das pessoas”, reconhece, destacando a importância de médicos, enfermeiros, técnicos e equipes administrativas. “Não canso de dizer que não adianta ter a porta aberta do hospital ou o melhor equipamento. Se não tiver o profissional de saúde lá dentro tocando o dia a dia, o sistema afunda”, opina, enfatizando que os profissionais da linha de frente são os “verdadeiros heróis” e “merecem o reconhecimento da sociedade”. “Ficam o meu respeito e a minha gratidão pelo que todos fizeram e estão fazendo até hoje”, acrescenta.

Preto também reconhece o papel de outro “herói” no enfrentamento à pandemia: o Sistema Único de Saúde (SUS). Segundo ele, as ações de combate traçadas pela Sesa para garantir assistência médica aos paranaenses não seriam possíveis sem o SUS. “O SUS, quando chamado, mostrou a sua capacidade de atender, e essa pandemia está mostrando que o sistema precisa ser cada vez mais valorizado e reconhecido. O SUS deixou clara a sua força, a sua capacidade atuação e de resposta”, destaca.

 

“Os profissionais de saúde foram e estão sendo espetaculares. Eles é que seguraram o bastão”

            Sensível e humano

Na avaliação de Preto, em comparação com outros estados, o Paraná se destacou no combate à pandemia. “Agimos com equilíbrio, dialogamos com a sociedade, dando transparência às nossas ações, levando as informações de maneira permanente, fossem elas boas ou não”, descreve, destacando que o governador Ratinho Júnior deu totais condições de trabalho para a Sesa, autorizou recursos, ampliou a estrutura de leitos, adquiriu equipamentos e priorizou o orçamento da saúde. “O governador é um jovem de 40 anos com uma capacidade gerencial e administrativa excepcional. É um gestor sensível e humano nas suas decisões”, complementa.

De acordo com o secretário, Ratinho se preocupou em minimizar o impacto da pandemia, não apenas na saúde, mas em todas as áreas. “Isso inclui programas sociais, de apoio financeiro e fiscal, garantindo assim que nesse período o estado atuasse de maneira ainda mais solidária”, avalia Preto, frisando que o governador ouviu cientistas e especialistas para embasar as suas decisões e deu toda a estrutura necessária para que a Sesa pudesse colocar em prática o seu plano de enfrentamento à doença.

 

            Vacinação

“A nossa maior arma hoje é a vacina. Ela está permitindo que as pessoas não tenham casos graves da doença”, afirma o secretário. As primeiras doses de vacinas contra a COVID-19 foram aplicadas no Paraná em janeiro de 2021, logo após serem aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Inicialmente, as doses chegaram em pequenas quantidades e foram destinadas para grupos prioritários formados por profissionais de saúde e idosos. Hoje, 92% da população paranaense está imunizada com a primeira dose da vacina, com mais de 9,6 milhões de pessoas vacinadas. Cerca de 81% dos paranaenses completaram o esquema vacinal e a segunda dose foi aplicada em 8,4 milhões de pessoas. “Estamos entre os quatro estados com a melhor cobertura e em terceiro na imunização infantil”, comemora.

Com o avanço da vacinação, as mortes causadas pela COVID-19 tiveram uma redução de mais de 90% no Paraná. A chegada da variante Ômicron, no início de 2022, fez os números voltarem a subir, causando uma “terceira onda” da doença. “Porém, mesmo com o aumento da contaminação, os índices de internações e mortalidade da doença se mantiveram estáveis, comprovando a eficácia das vacinas”, analisa. No início deste ano, também foram aprovadas as vacinas contra a COVID-19 para crianças de cinco a 11 anos de idade. Em apenas um mês de campanha, mais de 40% do público-alvo foi imunizado com a primeira dose.

“A situação da pandemia está melhorando, mas ainda não acabou”, alerta Preto, fazendo um apelo para que a população complete o esquema vacinal. “Temos visto um sentimento de insegurança com a primeira dose, um grande número de fake news circulando, além de preocupação com reações adversas. Esses três pontos têm feito com que muitos paranaenses não se vacinem”, revela. “Mas peço que busquem a sua dose. Neste momento, precisamos de todos vacinados. Somente a vacina vai nos levar a um caminho seguro e nos ajudar a sair mais rapidamente desse cenário.”

“O governador Ratinho Júnior se preocupou em minimizar o impacto da pandemia, não apenas na saúde, mas em todas as áreas”

 

            Novas batalhas

            Quando foi convidado por Ratinho a assumir a Sesa, Preto tinha como objetivo a regionalização. “Isso quer dizer que o nosso foco era levar a assistência médica para mais perto das pessoas e fazer com que os paranaenses fossem atendidos no seu município ou região”, explica. Durante a pandemia, todas as atenções se voltaram para a COVID-19, mas a secretaria continuou a executar outros programas da saúde, repassando recursos e fazendo investimentos para que as pessoas não precisassem se deslocar por 500 quilômetros para, por exemplo, operar uma hérnia inguinal.

No entanto, o secretário admite que, embora as outras doenças e problemas não tenham deixado de existir, a pandemia tirou as pessoas da rotina e do cuidado com a saúde. “A atenção primária, aquela do postinho, diminuiu bastante a sua atuação e teremos que retomar isso com mais força. A nossa vacinação, em geral, também baixou, justamente porque houve uma redução dessa procura”, aponta. “Mas a saúde não para. Sempre temos demandas, temos ações, e precisamos cuidar dos paranaenses”, conclui.

            Entre a política e a medicina

Nascido em 1968, Carlos Alberto Gebrim Preto é neto de pioneiros do município de Apucarana, sua cidade natal. Ele se formou em Medicina pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) e especializou-se em Medicina Nuclear pelo Instituto Rio Preto. Em 2012, foi eleito prefeito de Apucarana com 44,71% dos votos válidos. Nas eleições seguintes, em 2016, recebeu o dobro de votos e se reelegeu com um percentual de 86,11%, que lhe conferiu o título de prefeito mais bem votado do país em cidades de médio porte. Desde 2019 ocupa o cargo de secretário estadual da Saúde.

 

Conteúdo publicado originalmente na Revista D’Ponta #289 Março/Abril de 2022.