Sábado, 20 de Abril de 2024

D’P Saúde: Adeus, calvície. Com o transplante capilar, homens e mulheres estão recuperando a autoestima e a confiança

2022-04-03 às 16:21

por Michelle de Geus

“É dos carecas que elas gostam mais”, diz o ditado popular, mas, na prática, a calvície está entre as principais queixas dos homens quando o assunto é aparência. A perda gradual e progressiva dos cabelos afeta a autoestima e aumenta a insegurança do público masculino, além de favorecer o aparecimento do câncer de pele. Perucas e penteados estão entre as artimanhas geralmente usadas para esconder a calvície, quase sempre sem sucesso. Desde a década de 40, o transplante capilar tem sido uma das soluções mais buscadas, e as técnicas atuais do procedimento prometem um resultado ainda mais harmonioso e natural.

Segundo o médico dermatologista Lucas Telles, especialista em transplante capilar, que atende em Ponta Grossa, o procedimento baseia-se na redistribuição dos fios do couro cabeludo para cobrir as áreas falhas. Para entender como essa intervenção é possível, é preciso ter em mente que a calvície não afeta o couro cabelo de maneira uniforme. “A calvície costuma poupar os cabelos da nuca e das laterais da cabeça, que podem ser transplantados para outras regiões e continuar crescendo normalmente”, explica. Em outras palavras, o que o médico faz é retirar os folículos capilares, uma espécie de bolsa onde se localiza a raiz do fio de cabelo, e transplantá-los para outras partes do couro cabeludo. O corpo humano possui cerca de cinco milhões de folículos capilares, o que torna o procedimento completamente viável.

 

            Duração e preço

De acordo com o médico, o transplante capilar pode ser realizado em uma única sessão ou dividido em várias intervenções. Cada caso deve ser analisado separadamente por um médico especializado. “Com um bom planejamento, o procedimento é feito apenas uma vez, mas calvícies mais extensas podem precisar de mais de uma sessão”, detalha. Os valores variam segundo a duração da sessão e os preços estipulados pelas clínicas, mas, no Brasil, a média fica entre R$ 20 mil e R$ 40 mil.

Embora, na maioria dos casos, seja necessária uma única sessão para realizar o transplante, o resultado final demora a aparecer. “Entre seis e oito meses, a maioria dos cabelos já cresceu, mas o resultado final acontece mesmo entre 12 e 14 meses”, aponta Telles, explicando que isso se deve à maneira como o procedimento é realizado, que exige que os fios de cabelo comecem a nascer desde a raiz.

 

            Técnicas

O médico ressalta que as técnicas de transplante capilar evoluíram muito ao longo dos anos e tornaram o procedimento menos invasivo e mais seguro. “Atualmente, há duas técnicas de transplante capilar. Ambas diferem basicamente na forma como são extraídos os folículos que serão transplantados”, afirma. A primeira técnica surgiu há mais de 30 anos e consiste na retirada de uma faixa de couro cabeludo da nuca, de onde posteriormente serão extraídas as raízes para o transplante. “Nesse procedimento são dados pontos na área doadora e os folículos capilares são separados no microscópio antes de serem implantados”, comenta, destacando que esse procedimento é mais invasivo e mais desconfortável para os pacientes.

A técnica mais recente e mais utilizada é a Extração de Unidade Folicular (FUE, na sigla em inglês), que se caracteriza pela retirada das raízes uma a uma, sem a necessidade de pontos. “Atualmente, utilizamos somente a técnica FUE, que pode ser realizada com anestesia local, sendo um procedimento muito menos invasivo”, compara. Por se tratar de um procedimento simples, as únicas contraindicações são para pacientes que possuem doenças que não estejam sendo tratadas, como pressão alta descompensada, diabetes, infarto e alterações de coagulação do sangue. “Se o procedimento for bem monitorado e realizado em clínicas sérias, é considerado de baixo risco”, garante.

 

“Se o procedimento for bem monitorado e realizado em clínicas sérias, é considerado de baixo risco” – Lucas Telles, médico dermatologista

 

            Indicação

O transplante capilar é indicado para tratar grandes regiões de calvície e também pequenas áreas falhas, como as famosas “entradas”. Uma entrada é um processo natural e gradual que faz com que o cabelo avance para a parte de trás da cabeça, criando a aparência de uma testa mais alta. Nos homens, costumam começar nas têmporas e aumentam ao longo dos anos, fazendo com que o cabelo cresça em formato de “M”.

“O procedimento pode ser feito em ambos os casos. A diferença é que, para cobrir áreas mais extensas, precisamos que a área doadora seja suficiente. Ou seja, o paciente precisa ter bastante cabelo nas laterais e na nuca”, ressalta Telles, acrescentando que, caso o paciente não tenha muitos folículos capilares nessas regiões ou tenha cabelos muito finos, um tratamento medicamentoso pode ajudar na preparação para a cirurgia.

 

            Momento ideal

Conforme o médico, o momento ideal para procurar atendimento é nos primeiros sinais de calvície. “A maioria dos pacientes precisará de um tratamento medicamentoso para manter os cabelos que ainda não caíram. O transplante repõe os cabelos que caíram, mas não cuida dos cabelos que ainda estão presentes”, observa. Esse tratamento geralmente leva entre quatro e seis meses para só então o médico avaliar a necessidade de um transplante capilar. “Assim que o quadro estabilizar ou definirmos o risco dessa calvície evoluir, o transplante já será bem indicado para cobrir as falhas”, completa.

 

            Resultado natural

Recentemente, houve um aumento na procura por transplantes capilares, relata a médica dermatologista Lorena Teixeira, que também atende na cidade. “A calvície sempre foi um estigma, principalmente entre a população masculina, que também busca recuperar a beleza e jovialidade. Atualmente, com procedimentos que visam a naturalidade e que são de baixo risco e rápida recuperação, a procura aumentou”, revela.

Lorena acredita que as técnicas mais modernas e o resultado com aspecto mais natural estão entre os principais motivos que levam os pacientes aos consultórios. “Com a evolução da técnica cirúrgica e um bom planejamento, conseguimos recuperar a fisionomia do paciente e restaurar a sua autoestima com resultados muito naturais. Um bom transplante capilar, hoje, passa despercebido devido à sua naturalidade”, aponta.

 

            Função protetora

“A melhora na autoestima é o ponto mais marcante”, comenta a médica sobre as justificativas dadas pelos pacientes que procuram o procedimento. “Muitos deles iniciam academia, perdem peso, fazem outros tratamentos estéticos após o transplante, porque realmente se sentem bem consigo mesmos”, conta. No entanto, Lorena destaca que o procedimento oferece outros benefícios, como a proteção do couro cabeludo. “Devido à exposição solar, o couro cabeludo é um dos principais locais de câncer de pele. O cabelo vai muito além da aparência física e tem uma função protetora que também é importante”, lembra.

 

“Com a evolução da técnica cirúrgica e um bom planejamento, conseguimos recuperar a fisionomia do paciente e restaurar a sua autoestima com resultados muito naturais” – Lorena Teixeira, médica dermatologista

 

            Mulheres também podem

Nem todos sabem, mas as mulheres também podem ter calvície, e o tratamento é igualmente indicado para elas. “O procedimento é indicado para mulheres com duas finalidades: reduzir o tamanho de testa ou tratar a calvície feminina, que se apresenta através de um raleamento na região central”, sublinha Lorena, notando que, assim como no caso dos homens, a parte central da cabeça é a região mais afetada pela calvície. A diferença é que, em vez de perder completamente os cabelos, as mulheres costumam ver os fios ficarem cada vez mais ralos.

Quando realizado em mulheres, o transplante capilar sofre ligeiras modificações. Lorena explica que, quando se emprega a técnica FUE em homens, os cabelos da área doadora precisam ser raspados. “Como em mulheres isso não é possível, surgiu uma técnica bastante recente chamada Non-Shaven FUE, que permite a retirada dos folículos capilares um a um, mas sem a necessidade de raspar os cabelos”, diferencia.

 

            “Resultado magnífico”, diz paciente

Ao perceber o início das entradas e a dificuldade em arrumar o cabelo, o empresário Elimar Senra, sócio-proprietário da barbearia Senõr Eli, decidiu passar por um transplante capilar. “Resolvi fazer o procedimento porque as entradas no cabelo me incomodavam, o penteado nunca ficava do jeito que eu queria, e com isso me deixava com baixa autoestima”, lembra.

Elimar realizou o transplante em fevereiro de 2021 e confessa que, no início, ficou em dúvida quanto ao resultado. “No primeiro mês, eu fiquei um pouco inseguro. Os fios que são transplantados são mortos e caem em pouco tempo, mas, assim que isso acontece, começa a aparecer o resultado definitivo”, relata, acrescentando que, durante essa fase, foi preciso ter paciência para esperar o cabelo voltar a crescer. “Demorou três meses para eu começar a ver alguma diferença. No quinto mês era muito visível que as falhas já estavam sendo cobertas e, no oitavo mês, estava do jeito que eu queria”, completa.

Hoje, o empresário garante que está satisfeito com o procedimento. “O resultado está sendo magnífico, porque estou sempre de bom humor e com a autoestima elevada. Os meus penteados ficam do jeito que eu quero e, com isso, fico mais confortável com a minha aparência”, conclui.

 

            CAUSAS DA CALVÍCIE E TRATAMENTOS

A calvície se caracteriza pela perda gradual e progressiva de cabelos e tem como principal causa a herança genética. Fatores externos podem acelerar a condição, como hormônios anabolizantes, estresse, carência de vitaminas, alimentação incorreta, higiene e uso inadequado de produtos no couro cabeludo.

            Em relação ao tratamento, o transplante capilar é a única opção para áreas de calvície lisas, onde os poros já estão completamente fechados. Para regiões onde a perda capilar ocorre devido ao afinamento, mas os cabelos ainda estão vivos, tratamentos medicamentosos ou não cirúrgicos em consultório podem funcionar.

 

Conteúdo publicado originalmente na Revista D’Ponta #289 Março/Abril de 2022.