Por Michelle de Geus
O fim de um ciclo
As mulheres costumam parar de menstruar por volta dos 50 anos de idade e, junto com o último ciclo menstrual, aparecem os sintomas causados pela redução do estrogênio. Embora a menopausa seja uma fase desafiadora, há terapias e recursos preventivos que ajudam a atravessar esse período com mais tranquilidade e qualidade de vida
Encerrar ciclos nem sempre é uma tarefa fácil, e não poderia ser diferente com o fim do ciclo menstrual. A menopausa, por definição, é o nome da última menstruação que uma mulher tem na sua vida e marca o encerramento de sua fase reprodutiva. Esse é um processo natural que acontece quando os ovários, que são as glândulas responsáveis pela produção dos hormônios femininos, deixam de funcionar. Esse período começa um ano após a última menstruação e segue até o fim da vida, o que corresponde em média a 1/3 da existência da mulher. Os primeiros anos são marcados por sintomas como calorões, irritação, oscilações de humor, insônia e perda do apetite sexual.
A médica ginecologista Ana Paula Peixoto, especializada em menopausa, que atende em Ponta Grossa, explica que o que acontece biologicamente é que os óvulos, as células reprodutoras femininas, acabam. “As mulheres nascem com todos os óvulos que elas vão levar para a vida inteira. Eles ficam armazenados nos ovários e são liberados a cada menstruação”, aponta.
Em média, as mulheres brasileiras costumam entrar na menopausa entre os 49 e os 50 anos, mas é normal que ela ocorra dos 40 até os 60 anos. “Para o organismo, quanto mais tarde a mulher entrar na menopausa, melhor. Isso porque o estrogênio, um dos principais hormônios femininos, produzido pelos ovários, protege contra o câncer de intestino, osteoporose, Alzheimer e doenças cardíacas, além de ser fundamental para a disposição, elasticidade, pele, cabelo, raciocínio e memória”, explica. Quando a mulher entra na menopausa antes dos 40 anos, ocorre a chamada “menopausa precoce” e costuma ser necessário fazer reposição hormonal.
Transição
Ana Paula observa que a menopausa não acontece de uma hora para a outra, e que há um período chamado perimenopausa, ou transição menopausal, quando os ciclos menstruais começam a ficar irregulares. “No início, os ciclos ficam bem curtos e com fluxo intenso. Depois, os ciclos já começam a ficar um pouco mais longos, mas ainda com fluxo intenso, até que ficam mais longos e com fluxo pequeno. Depois de um ano da última menstruação, nós podemos dizer que a mulher entrou na menopausa”, define a ginecologista, acrescentando que essa fase costuma dura de três a cinco anos, sendo uma fase de muitos sintomas causados pela redução do estrogênio no organismo.
Sintomas
“Os sintomas mais clássicos são os calorões, que têm uma característica toda própria. É um calor que sobe da cintura para cima, mais comum à noite e que vem acompanhado de sudorese”, descreve a médica, lembrando que o estrogênio é um hormônio regulador do humor e que a sua falta pode causar irritabilidade, insônia e choro, além de intensificar doenças como depressão e ansiedade. “Na menopausa, a mulher também começa a ter mais dificuldade para perder peso, a gordura começa a se acumular na porção superior do abdômen e ela vai perdendo a cintura feminina. Também são comuns a redução da libido e o ressecamento vaginal, causando dificuldade no ato conjugal e tornando o sexo menos prazeroso”, observa. Dores no corpo ou nas juntas, dores de cabeça, zumbido no ouvido, perda de memória, dificuldade de concentração e falta de energia também estão entre os sintomas.
Reposição hormonal
A ginecologista explica que, durante a fase de transição, há hormônios reguladores que a mulher pode tomar para que a menstruação venha todo mês e que ajudam a prevenir os sintomas da menopausa. “Vale ressaltar que, quanto mais precoce a menopausa, mais sintomática ela costuma ser. Por outro lado, há mulheres que têm uma menopausa tranquila”, aponta, ressaltando que terapias chamadas “alternativas”, como a acupuntura, podem ajudar aquelas que não podem tomar hormônios por causa de diabetes, hipertensão, tabagismo, trombose e câncer de mama, ovário ou útero.
Massa óssea
De acordo com a ginecologista, também é indicado realizar periodicamente exames de densitometria óssea. “Os ossos sofrem muito com a falta do estrogênio. A osteoporose é uma doença que causa dores, prejudica muito a qualidade de vida, e, se não for tratada, pode levar a fraturas na coluna ou no colo do fêmur”, alerta, salientando que a preocupação com a massa óssea deve ser ainda maior em mulheres que entraram na menopausa e não podem fazer reposição hormonal.
Preparando-se
Para o médico ginecologista e obstetra Henrique Hoffmann, que também atende em Ponta Grossa, a menopausa é algo natural do corpo feminino, mas a predisposição genética e os hábitos de vida podem retardar o processo. “Não fumar, praticar atividades físicas regulares e manter uma dieta equilibrada podem evitar a menopausa precoce”, explica. Segundo ele, doenças autoimunes como lúpus, a retirada do útero ou dos ovários, e a gravidez ectópica (quando a gestação ocorre nas trompas) podem antecipar a menopausa. “Entretanto, não é verdade que o uso de anticoncepcionais, por exemplo, pode adiar a menopausa. Ela é um resultado fisiológico do passar dos anos e não pode ser adiada”, frisa, acrescentando que, embora a mulher não menstrue com o uso de anticoncepcionais, isso não impede que os óvulos continuem a morrer.
Como a menopausa é inevitável, Hoffmann acredita que a mulher pode se preparar física e psicologicamente para esse período conversando sobre os possíveis sintomas com o seu médico de confiança, mantendo um estilo de vida saudável e discutindo as possibilidades de tratamento. “Quando os primeiros sintomas da menopausa começam a aparecer, o ideal é contar com o apoio de uma equipe de saúde, que inclui nutricionista, psicólogo, educador físico e ginecologista ou endocrinologista com experiência na área”, aconselha, frisando que a menopausa é uma subespecialidade da ginecologia e que esse profissional domina as opções e combinações de terapia de reposição hormonal.
Impacto psicológico e sexual
O ginecologista aponta ainda que a menopausa também afeta o lado emocional e psicológico da mulher. “Há uma interferência da queda hormonal na produção dos neurotransmissores que produzem a sensação de bem-estar, e a insônia também pode levar a alterações do humor”, menciona. “Além disso, para algumas mulheres pode ser difícil lidar com as evidências físicas do natural processo de envelhecimento que o climatério deixa bem evidentes”, pontua, ressaltando que as medicações e mudanças nos hábitos de vida têm impacto muito positivo também nesses sintomas.
O médico observa ainda que, nessa fase da vida, o parceiro da mulher tem grande influência e pode contribuir para aliviar os sintomas e o estresse provocado pela menopausa. “Isso porque a menopausa, além de interferir nos aspectos psicológicos, tem impacto profundo na saúde sexual”, explica, sugerindo que o casal abra um espaço no relacionamento para conversar sobre o assunto, principalmente sobre a diminuição da libido e a diferença de apetite sexual, que fica mais evidente durante a menopausa. “O homem precisa lembrar que ele também vai passar por isso, que é a chamada andropausa, quando as glândulas sexuais masculinas produzem menos hormônio sexual, por volta dos 70 anos”, esclarece.
Marco importante
Aos 50 anos, Iolanda de Jesus começou a sentir os primeiros sintomas da menopausa, especialmente os calorões e a irritação. Ela conta que buscou auxílio médico para lidar com o desconforto nesse período e iniciou um tratamento de reposição hormonal. “Com certeza a menopausa é um marco importante na vida de toda mulher. Comigo foi bem tranquilo passar por esse período devido à reposição”, conta. Foram seis anos tomando medicamentos com orientação medida e hoje, aos 57 anos, Iolanda diz que está feliz e saudável.
Peixes: O consumo regular de espécies oleosas como salmão, atum e sardinha está ligado a uma menopausa mais tardia.
Legumes: É para comer todo dia. E dê prioridade às versões frescas. Vale vagem, ervilha, grão-de-bico, lentilha…
Nozes e castanhas: São fontes de gorduras boas e antioxidantes, que reduzem os danos às células dos ovários.
Ovos: Têm proteína e vitaminas, como a D, que atua na absorção de cálcio e, assim, ajuda a prevenir a osteoporose.
Fonte: Universidade de Leeds (Inglaterra)
Conteúdo publicado originalmente na Revista D’Ponta #292 Setembro de 2022.