Em entrevista ao programa Manhã Total, apresentado por João Barbiero, na Rádio Lagoa Dourada FM (105,9 para Ponta Grossa e região e 90,9 para Telêmaco Borba), nesta quinta (18), o médico geriatra Cláudio Viana Silveira Filho destacou o caráter preventivo de sua especialidade e detalhou quais são os cinco pilares fundamentais para um envelhecimento bem-sucedido.
“A geriatria é a parte médica. Aa grande ciência que envolve o cuidado da saúde do idoso, nós chamamos de gerontologia – o estudo do idoso, como um todo, que envolve as diversas profissões: médico, fisioterapeuta, enfermeiro, psicólogo, nutricionista, dentista. Todos os profissionais de saúde que lidam com o cuidado da saúde do idoso são chamados de gerontólogos”, diferencia.
Segundo o especialista, a geriatria trata não apenas de quem já passou dos 60 anos, mas também de quem busca, antes mesmo de chegar à terceira idade, promover o envelhecimento bem-sucedido.
O médico afirma que a pergunta que mais ouve é sobre quando se deve procurar o geriatra. “Quando o pediatra te der alta, pode procurar o geriatra, porque o geriatra vai trabalhar contigo num contínuo de acompanhamento. Quanto mais cedo chegar no geriatra, mais conseguimos investir nesse envelhecimento bem-sucedido”, ressalta.
Viana lamenta que a rotina nos consultórios geriátricos, por outro lado, seja a de chegar o paciente já aos 70, 80 ou até 90 anos, depois de ter percorrido todas as outras especialidades ou, pior, sem ter procurado auxílio médico antes. “Às vezes, chega tarde demais, nos seus 70, 80, 90 anos e sem muita chance de investimento em promoção e prevenção de saúde”, completa.
Qualidade de vida
Conforme o geriatra, são cinco os pilares para assegurar um envelhecimento bem-sucedido: sono de qualidade, lazer, alimentação saudável, prática de atividades físicas e engajamento em atividades sociais. “Temos que cumprir obrigações financeiras, mas temos que achar – a grande dificuldade que todos temos – esse equilíbrio entre a vida financeira, o sono e o lazer. O lazer é outro dos pilares do envelhecimento bem-sucedido”, recomenda.
Mesmo que esse cálculo do tempo dedicado a cada um desses pilares do envelhecimento bem-sucedido venha tardiamente, aos 60 anos ainda é possível planejar como manter a qualidade de vida nos anos vindouros.
Para não perder a essa qualidade de vida e não se entristecer com o processo de envelhecimento e de perdas – das funções do corpo, inclusive – o médico recomenda resiliência. “Não é aceitar, mas ter a capacidade de se adaptar a essas novas condições”, diz.
Segundo o geriatra, manter um pensamento e uma atitude positiva perante a vida pode garantir mais saúde e qualidade de vida ao idoso. Ele faz uma comparação hipotética de duas pessoas com 60 anos: uma hipertensa ou diabética, que precisa de remédios para controlar esses doenças, e outra que não é doente nem toma medicação. De acordo com ele, se o que depende de medicação para controlar a pressão arterial e o diabetes tiver uma atitude positiva perante a vida, poderá ter mais qualidade de vida do que o outro, que não depende de medicação, mas encara o envelhecimento de forma negativa e pessimista.
“Não importa a carga de doença que você tenha, nem a quantidade de remédio que você toma, pois isso não vai determinar seu desfecho, o teu fim de vida. O que vai determinar, muitas vezes, o que impacta é a visão que você tem sobre a vida. Por isso, talvez, o que tem doenças vive até mais do que um que não tinha doença nenhuma, mas tem uma postura pessimista”.
Alimentação saudável
Outro pilar do envelhecimento bem-sucedido, de acordo com o geriatra, é a alimentação saudável. Ele ressalta a importância de reduzirmos o consumo de ultraprocessados. “Precisamos comer comida de verdade. Desempacotar menos e descascar mais”, afirma.
“Muita coisa muda no corpo pelo processo de envelhecimento. [O intestino preguiçoso] é considerado normal, mas o paciente precisa ter entendimento. Tudo aquilo que você sabe por que acontece fica mais fácil de lidar”, acrescenta.
Atividades físicas e socialização
Além de manter-se ativo fisicamente, é importante para um bom envelhecimento manter o engajamento em atividades sociais, conforme Viana. “Participar de atividade social, de atividade de voluntariado, se doar ao outro, contribuir, participar da igreja, do grupo de idosos, dançar. Ter uma inserção nessa comunidade. Essa interação, essa reunião, essa congregação é o momento onde ele compartilha, divide, onde se sente vivo e onde ele não se vê excluído”, aponta.
“É importante para o idoso ter um propósito de vida, dar um sentido para a vida, não achar que porque se aposentou, não tem mais nada para fazer a não ser esperar. Costumo brincar que todos temos um carimbo de prazo de validade, só que ninguém sabe onde está. Nem é bom descobrir”, afirma o geriatra.
Esse envolvimento em atividades sociais, segundo Viana, contribui para a criação de uma rede de apoio em torno de idoso. Ele considera esse elemento essencial para um bom processo de envelhecimento. “Uma hora ou outra, os filhos e os demais familiares podem estar morando mais distantes e o idoso ter apenas o cônjuge por perto”, ilustra.
“Quando o idoso se envolve em atividades sociais e interage, sai, conversa, tem um grupo de atividades em comum e forma essa rede, ela vai prestar o apoio necessário quando precisar”, complementa.
Confira a entrevista com o geriatra Cláudio Viana Silveira Filho na íntegra: