“É importante vencermos o estigma colocado em cima do câncer de que câncer não tem cura”, adverte a voluntária da Rede Feminina, Alaine Guimarães, em entrevista ao programa Manhã Total, apresentado por João Barbiero, na Rádio Lagoa Dourada FM (105,9 para Ponta Grossa e região e 90,9 para Telêmaco Borba), nesta terça (18). Conforme a voluntária, a medicina atual comprova que hoje as coisas não funcionam mais assim.
Alaine é voluntária na Rede Feminina de Combate ao Câncer (RFCC) desde 2019 e integra o conselho diretor da entidade. Seu trabalho voluntário é voltado para a divulgação e gerenciamento das redes sociais. As voluntárias, em geral, contribuem com a Rede em tudo o que for necessário: campanhas, ações de prevenção e arrecadações, por exemplo.
A voluntária opina que as pessoas precisam adotar certo cuidado ao mencionarem que a mulher deve fazer o autoexame para “evitar” o câncer. “Na verdade, fazemos o autoexame para fazer uma detecção precoce do tumor. Se ela fizer o autoexame e não tiver nada, ótimo; mas se ela sentir alguma coisa, ela sente em tempo hábil de tratar aquele tumor e se recuperar”, diz.
De acordo com ela, nada impede que um novo tumor surja, anos mais tarde, o que não significa que aquele tumor não possa ser curado, desde que detectado a tempo de não se tornar metástase, quando começa a se espalhar para outros órgãos.
A atitude faz toda a diferença, em sua análise. A campanha Outubro Rosa, em que se reforça a divulgação acerca da prevenção ao câncer de mama, leva a um aumento perceptível na busca de exames preventivos, como o papanicolau, que previne o câncer de colo de útero. Alaine aponta que há estudos que indicam que há relação entre o câncer de mama e o de colo de útero.
“Nossa preocupação é que passe o Outubro Rosa e as coisas se acomodam. Aproveitamos essa oportunidade para colocar que o preventivo e esses cuidados devem ser tomados o ano todo, porque o câncer não vai escolher outubro para aparecer ou não. É ótimo que exista o Outubro Rosa para se falar mais sobre isso, mas é importante que a mulher – e o homem – se cuide o ano todo”, analisa.
Ainda que a hereditariedade, no caso do câncer de mama, seja um fator preocupante, não é decisivo. É preciso se alertar, também, para fatores ambientais – isto é, causas externas. “Para o câncer de mama, temos duas linhas que podem identificar uma relação hereditária. Se a pessoa não tiver essa alteração no DNA, são duas alterações conhecidas e inúmeras desconhecidas. Nós mais desconhecemos a hereditariedade do câncer do que conhecemos. Tanto que há médicos que, às vezes, falam que não é tão relevante fazer os exames genéticos para saber se vai ter o câncer ou não, porque nem sempre a família vai trazer essa carga hereditária”, aponta.
A ginecologista Adriana Lopes menciona o caso da atriz Angelina Jolie, que optou por fazer a mastectomia por ter um grande risco de vir a desenvolver o tumor, depois que detectou essa alteração genética em exames. “Existem critérios para fazermos os exames. Por exemplo, uma mulher que quer fazer reposição hormonal, é uma segurança saber. ‘Bom, minha mãe teve, eu posso vir a ter, mas não tenho a carga genética'”, exemplifica a médica. Fatores ambientais como cigarro, álcool, atividade física (ou falta dela) e alimentação podem influenciar mais que genética.
“Não se deve criar uma polêmica, porque os exames não são acessíveis a todos, mas há de saber que existem condições de você identificar essas equações”, reforça a ginecologista.
Feminina, mas para todos
Alaine explica que, embora se chame Rede Feminina de Combate ao Câncer, o atendimento da entidade não se restringe a mulheres. A instituição atende também a homens e a crianças. “Hoje, temos cerca de 300 famílias que são assistidas por nós. São diferentes serviços e assistências que a Rede faz. Uma delas é a casa de apoio: se a pessoa não é de Ponta Grossa e vem fazer o tratamento, principalmente radioterapia, que são executadas diariamente, ao longo de 20 a 25 dias, pode ficar o paciente com um acompanhante”, conta.
Além de pouso e cinco refeições diárias, a casa de apoio também oferece um motorista para transportar o paciente até o local do tratamento. A casa de apoio também presta assistência psicológica ao paciente em tratamento contra o câncer. Todo o serviço é gratuito.
A RFCC também oferece assistência na área de saúde, com a Clínica Solidária, inaugurada em maio. “Nessa clínica, temos o atendimento de vários profissionais, como psicólogo, advogado, nutricionista, fisioterapeuta, médico oncologista, mastologista, dentista. Tudo isso é voltado ao paciente oncológico cadastrado e à família do paciente”, explica.
Alaine observa que, como efeito do isolamento pandêmico, muitas pessoas deixaram de ser examinadas e detectaram os tumores um pouco mais tarde do que se esperava. Ao mesmo tempo, enquanto outros órgãos fecharam, a RFCC continuou prestando atendimento, de alguma forma. “Para nós, durante a pandemia, aumentou o número de pessoas cadastradas. Tínhamos cerca de 200, 220 famílias e hoje temos 300 famílias cadastradas, que recebem, mensalmente, medicamentos, cesta básica, alimentação especial, todo o apoio que elas precisam”, diz.
A Rede Feminina possui frentes de arrecadação de recursos. “A Rede não tem nenhum vínculo político, nem com nenhuma instituição pública. Temos mecanismos de arrecadação, como o brechó de roupas novas e seminovas; temos o bazar de roupas usadas”, conta.
A entidade promove, ocasionalmente, outras ações, como a Pizza da Rede, que ocorre todo mês de julho. No Dia da Pizza (10 de julho), a Rede vende entre 1 mil a 1,2 mil pizzas. Outras ações pontuais são voltadas à arrecadação de material de higiene, de limpeza e alimentos, junto aos supermercados. “O Muffato e o Tozetto são parceiros nossos. Inclusive, em setembro, estivemos arrecadando no Muffato. Temos os meses certos e anualmente fazemos isso”, explica. Outra iniciativa de arrecadação de recursos é o “Amigos da Rede”, que são pessoas da sociedade civil que contribuem.
Os bazares que a Receita Federal promove, com materiais de apreensão, também têm sua arrecadação destinada à Rede Feminina. “Dentro desses bazares da Receita Federal, a instituição precisa ter um projeto para execução do valor arrecadado. Por exemplo, a Clínica Solidária, que inauguramos agora, foi feita com recurso da Receita Federal”, frisa.
Voluntariado
Quem tem interesse em se tornar voluntária da Rede Feminina precisa apenas ligar e manifestar essa vontade de ajudar. “Temos diferentes tipos de voluntariado: da pessoa que vai fazer visitas domiciliares, junto com a assistente social, à família do paciente oncológico; o voluntariado, como é meu caso, que faz a parte de divulgação e educativa; o voluntariado em que a pessoa atua nos brechós. Tem diferentes formas”, comenta Alaine.
Ela conta que resolveu se tornar voluntária da iniciativa depois de perder o pai para o câncer, aos 57 anos, e uma irmã, de 49 anos, que morreu em função de um câncer no estômago e, por fim, ela própria enfrentou um câncer de mama em 2018. “Tive uma relação muito forte com a doença e, quando detectei o câncer de mama, conversei com meu médico, dr. Alfredo, de São Paulo, e disse que a coisa que mais assusta uma mulher que descobre um tumor maligno é o medo dos filhos. Antes de a mulher pensar que vai mexer na mama, que vai perder mama, ela pensa nos filhos”, comenta.
Alaine diz que o diagnóstico implantou “um monstro, um fantasma” na cabeça, por saber que já tinha perdido duas pessoas queridas para a doença. “Fiz os exames genéticos e não tenho a alteração genética para o tumor de mama e o tive. Descobri o tumor na apalpação. Fiz o autoexame. Fui sentindo a mama no banho e percebi que tinha alguma coisa que me incomodou”, relata.
“Felizmente, tendo condições, no dia 17 de abril detectei o tumor e um mês depois estava fazendo o tratamento. Quando passei pelo tratamento, que envolveu quimioterapia, perder o cabelo, cirurgia, radioterapia, vi o quanto é difícil passar por tudo isso. Pensei nas pessoas que não têm as condições econômicas, sociais, de família, para enfrentar tudo isso e decidi que ia entrar para a Rede Feminina de Combate ao Câncer porque, durante as sessões de quimioterapia, na Ispon, tinha voluntárias da Rede, que iam lá conversar com a gente, prestar um apoio”, acrescenta.
Em abril de 2019, uma vez em remissão, assim que terminou o tratamento, Alaine se voluntariou. “Fui para lá e até hoje estou lá e sou feliz por isso, porque vira uma missão para a gente”, conclui.
O telefone da Rede Feminina é o (42) 3224-7014.
Mais informações nas redes sociais: @redefemininapg.
Confira a entrevista de Alaine Guimarães na íntegra: