Ponta Grossa registrou a primeira morte pelo novo coronavírus no final da tarde desta terça-feira (09) na Santa Casa de Misericórdia. Valdevino de Jesus Rocha, de 68 anos, enfrentava um câncer na bexiga e não resistiu às complicações causadas pela Covid-19. Sem velório, o corpo foi sepultado às 19h30 no Cemitério Jardim Paraíso. Na manhã desta quarta-feira (10), Tamiris Veiga, de 27 anos, neta da vítima, conversou com exclusividade com o portal D’Ponta News. Ela e outros oito membros da família também foram infectados pelo vírus.
Valdevino estava aposentado há pouco tempo. Ele era granilheiro e, por último, trabalhou como caminhoneiro de uma fazenda em Ponta Grossa. O idoso teve que ser internado na semana passada com suspeita de pneumonia. “Tudo aconteceu muito rápido. Na quinta-feira (04) a Saúde ligou confirmando que o teste para Covid-19 havia dado positivo e que nós deveríamos fazer o teste também. Minha mãe e eu também atestamos positivo e estamos em isolamento”, relata Tamiris.
Desde o momento do internamento, Valdevino não pôde receber visita e o único contato com a família era através do celular. “Na sexta-feira a minha mãe ligou pra ele contando que nós tínhamos feito o exame, que logo sairia o resultado e queria saber como ele está. Ele disse que não era para a gente se preocupar, porque graças a Deus ele estava no recurso e que logo ele ia voltar pra casa e que os médicos só haviam segurado ele porque haviam encontrado um pouco de sangue na urina”, conta.
Tamiris relatou que de um dia para o outro o estado de saúde do avô foi ficando cada vez mais delicado. “No sábado (06) ele já estava precisando do oxigênio para respirar. No dia seguinte ele já foi entubado”. Dois dias depois de entrar em coma induzido, Valdevino não resistiu e morreu vítima da Covid-19.
SINTOMAS
Valdevino e outros oito familiares acabaram infectados pelo coronavírus. “Eu achava que era psicológico. A gente assiste muito jornal, lê muita notícia e acha que é tudo psicológico e o que estava sentindo era apenas alguma gripe. A minha mãe sentia muita dor no rim. Ela já tinha tido pedra no rim. A sensação é que essa doença vem e ataca onde já tem uma debilidade”, disse Tamiris. “Eu senti muita dor de cabeça, não tive febre, era como se tivesse dando uma gripe muito forte. Os mesmos sintomas que o vô reclamou”, descreve.
Todos os casos positivados da família de Valdevino estão em isolamento domiciliar, inclusive a esposa, Sebastiana Rocha, de 64 anos. “A vó já estava na cama por causa da doença, mas ficou ainda mais nervosa depois que meu avô foi entubado. Parece que ela já sabia que ele não ia voltar pra casa”, conta a neta.
A MORTE
O idoso morreu menos de uma semana depois de ser diagnosticado com a Covid-19. “A minha mãe tinha ido na casa da minha avó e eu liguei na Santa Casa para saber notícias. A assistente social pediu para eu ficar calma que logo ela me passaria informações sobre o estado de saúde dele. Por volta das 15h30 a assistente social me ligou dizendo que ele estava recebendo alta da UTI e que logo iria para o quarto. Eu não acreditei, porque era a notícia que gostaríamos de receber. Ela falou para a mãe também, nisso começamos a ligar para a família inteira. Ficamos muito felizes”, ressalta. “Quando contamos para meu tio, ele não acreditou e ligou novamente no Hospital. Em seguida ele nos ligou perguntando se o vô tinha plano funerário porque ele não estava vivo mais”, desabafa.
O Hospital e o Serviço Funerário Municipal seguiram os protocolos estabelecidos pelo Ministério da Saúde. Valdevino não pôde ser velado. O corpo foi levado, sem ter contato com ninguém, para o Cemitério Jardim Paraíso. A filha da vítima gravou um vídeo mostrando como foi o sepultamento. (vídeo abaixo). “Eu não conversei com minha avó depois de tudo isso. Ontem (09) eu liguei pra falar com ela um pouco, mas a gente começou a chorar demais e acabamos desligando o telefone. A minha avó só queria que eu pegasse algumas fotos do vô que eu tinha no celular para mandar pra ela”, conta.
Tamiris faz um apelo para que as pessoas se cuidem e evitem contrair a doença. “Depois disso tudo eu percebi que tenho medo da solidão. É muito triste um homem morrer sem poder ouvir a voz dos familiares, sem ter uma despedida digna. Sem poder ter contato com a família. Se cuidem, porque tudo isso parece um pesadelo”, finaliza.
O prefeito de Ponta Grossa, Marcelo Rangel, lamentou a primeira morte confirmada de coronavírus no município. “Resistimos 84 dias, mas a doença foi mais forte e nos tirou um pai de família, um avô, uma pessoa com história. Solidariedade à família. Nossos sentimentos”, escreveu nas redes sociais.
Texto: Igor Rosa | Foto: Arquivo da família.
Veja o vídeo do sepultamento gravado por Regina Veiga, filha de Valdevino.
Assista na íntegra a entrevista com Tamiris Veiga, neta de Valdevino.