O empresário da comunicação João Barbiero lança, brevemente, Morri pela metade, renasci por inteiro, livro em que conta detalhes a respeito de sua prisão por ocasião da Operação Saturno, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do Paraná. Confira a seguir trechos do prefácio da obra assinado por Fernando Antonio Gonçalves Celestino Saraiva.
Com as injustiças da vida, os fracos sucumbem e os fortes evoluem
Esse livro é um claro exemplo da força de João Barbiero, que, vitimado por uma equivocada interpretação de ligações telefônicas privadas e uma exagerada ação do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO) de Ponta Grossa, em vez de cair em profunda depressão, resolveu nos brindar com essa obra que esmiúça os momentos terríveis de um preso. A narrativa inicia a partir do instante em que seu lar foi invadido por policiais e pelo promotor de justiça, ainda no raiar de um dia.
Tudo isso testemunhado pela amada esposa e por duas crianças perplexas que veem no pai a figura de um herói e que, naquele instante, o percebem achincalhado pelos homens do mal, claro, na mente dessas inocentes criaturas, que, certamente, terão imagens que lhes acompanharão por toda a vida, servindo de origem para os mais diversos traumas.
Na sequência da frenética e fracassada busca, a frase que até hoje ecoa como um pesadelo: O Sr. está preso!
A dor maior não era a advinda da força nefasta daquela frase, mas do olhar perplexo da filha mais velha, Giovanna, que, ao ouvir a ordem emanada do promotor, se perguntava, por que, por que, por que…
Como tudo estava ocorrendo de forma surpreendente e na aurora do dia, o raciocínio ainda não se coadunava com o porvir. Primeiro, um interrogatório com o delegado titular, depois o exame vexatório e até mesmo atentatório à dignidade humana no IML, posteriormente, um ambiente nefasto, insalubre e deprimente denominado penitenciária.
Curiosidade mórbida do que se passa por trás das grades, este livro narra em minúcias o pavor de um homem de bem, conhecido e reconhecido por toda a sociedade paranaense, orgulhoso por suas conquistas, que, de uma hora para outra, se desliga do calor de seu lar para se ligar ao frio e à escuridão de algo tão distante de sua realidade.
O tratamento rigoroso, os banhos escassos, a comida que mais parecia ração animal, a preocupação de quanto aquela injustiça poderia perdurar, a tão esperada conversa com seu advogado e sua esposa.
Depois de alguns dias, uma pequena esperança nasce em seu peito, fruto da promessa de encaminhamento para um cárcere mais confortável em Piraquara. Logo esse fio de esperança transforma-se em mais uma profunda e triste decepção, pois o presídio era muito pior. Mais narrativas do pavor advindo de gritos de outros presos que lá já habitavam.
Uma noite inteira acordado imaginando o tratamento que aqueles perigosos presos lhe dariam no dia seguinte, estupro, surras, tortura, e assim a imaginação do medo desenhava em sua mente momentos de mais terror.
Enfim uma notícia para abrandar o choro diário, a concessão de um habeas corpus pelo Superior Tribunal de Justiça. A imaginação já desenhava um Natal que se avizinhava em família, a luz do dia substituindo a negritude da cadeia, o amor de sua família, tudo bem próximo. Também cita a ansiedade da soltura, pois o cumprimento da ordem judicial ainda se arrastou por dias e dias.
A chegada em casa, o aconselhamento de seu amigo e advogado, que todo dia comparecia ao menos durante uma hora para lhe ouvir e lhe acalmar, mostrando a convicção de que o pior já havia passado.
Enfim, uma obra de sucesso que vai manter atento o leitor, que se deliciará, para ele, com uma obra de ficção, temperada por uma narrativa real.