Quarta-feira, 14 de Maio de 2025

Enfoque D’P: Pilar da saúde

2023-01-05 às 16:20
Foto: Reprodução

Com mais de 150 empresas em Ponta Grossa, o setor farmacêutico movimenta a economia, gera postos de trabalho em regiões descentralizadas e disponibiliza acesso à saúde em locais onde não há a devida atenção do poder público

por Michelle de Geus

A farmácia é uma das profissões mais antigas da humanidade e geralmente é o primeiro lugar para onde vamos quando sentimos algum incômodo. Na época em que as primeiras boticas foram criadas, no século X, na Espanha e França, as profissões de farmacêutico e médico quase se confundiam em uma só. Os antigos boticários, como eram chamados esses profissionais, eram especialistas na utilização de remédios e na criação de novos fármacos. Muitas vezes, eles substituíam os poucos médicos existentes e garantiam a saúde dos que não tinham acesso a hospitais.

O hábito de recorrer aos farmacêuticos para tratar sintomas leves permanece e até hoje esses profissionais continuam sendo um dos pilares para a saúde de forma geral. Em Ponta Grossa não é diferente. Segundo levantamento da Associação Ponta-Grossense de Farmacêuticos, divulgado no dia 25 do último mês de setembro, o município conta atualmente com 159 empresas do segmento farmacêutico, entre farmácias de manipulação e sem manipulação ou drogarias. Considerando a população de 355 mil habitantes, isso equivale a uma farmácia para cada 2.235 pessoas. Apesar de parecer alto, o número ainda é menor do que a média paranaense, que, segundo dados do Plano de Fiscalização 2022, do Conselho Regional de Farmácia do Paraná (CRF-PR), tem uma farmácia para cada 1.688 habitantes.

O presidente da Associação Ponta-Grossense de Farmacêuticos, José dos Passos Neto, afirma que o interesse da população ponta-grossense pelo setor se dá por várias razões. “Pelas três escolas de Farmácia, que formam bons profissionais de saúde e que permanecem trabalhando na cidade; pela economia gerada no município e renda per capita dos habitantes; e pelo poder ‘mágico’ do medicamento, que traz a cura desde uma dor de cabeça até valores intangíveis, como felicidade, alegria, energia”, opina.

Acesso à saúde

Das 159 farmácias que há na cidade, 12 são de manipulação e 17 são públicas. E, dos 130 estabelecimentos privados, 64% são de pequeno porte, de propriedade de farmacêuticos e localizados principalmente nos bairros. Segundo Passos Neto, essas empresas empregam pessoas que moram próximo delas e movimentam a economia local, além de disponibilizarem acesso à saúde em locais onde não há a devida atenção do poder público. “Onde o poder público não oferece serviços, lá está o farmacêutico identificando casos leves ou graves, atenuando os sintomas e encaminhando a serviços de saúde”, observa. “São estabelecimentos onde o farmacêutico oferece uma consulta farmacêutica e medicamentos isentos de prescrição, acompanha o paciente, corrige dispensações e oferece aconselhamentos em saúde”, completa.

Os demais 36% das farmácias pertencem a grandes redes de porte regional ou nacional. Entre os 159 estabelecimentos, Ponta Grossa conta ainda com 12 farmácias hospitalares e outras duas de manipulação veterinária.

Profissional próximo

Conforme a entidade, o município também conta com 799 farmacêuticos, sendo que 72% deles são do sexo feminino. “Desde a década de 80, a presença efetiva do farmacêutico nas farmácias ponta-grossenses traz à população um profissional de saúde muito próximo para avaliar e auxiliar em diversos problemas de saúde”, observa Passos Neto, ressaltando que o município sempre teve “profissionais de grande destaque”, conhecidos pelo atendimento criterioso e dedicado.

Os dados apontam ainda que Ponta Grossa tem, ao todo, 258 estabelecimentos – entre farmácias, laboratórios de análises clínicas, postos de coleta e agências transfusionais – sob responsabilidade de farmacêuticos. De acordo com Passos Neto, esse profissional também desempenha papel importante em distribuidoras, transportadoras, indústrias, hemonúcleos, dedetizadoras, clínicas de estética, clínicas de vacinação, no magistério e na vigilância em saúde.

Grande marco

Passos Neto avalia que a promulgação da Lei 13.021/14, que definiu a farmácia como um estabelecimento de saúde e não apenas de comércio de medicamentos, foi um grande marco na atuação desses profissionais. “A legislação mudou a visão de gestores públicos e privados, que descobriram no farmacêutico um profissional que oferece não só a garantia da qualidade do medicamento, mas também uma dispensação qualificada, informações sobre o uso correto do fármaco e consulta farmacêutica baseada nas interações medicamentosas”, pontua.

Com isso, as farmácias passaram a oferecer outros serviços, como medição de temperatura, pressão arterial, exames de glicemia, aplicação de vacinação, testes rápidos de HIV e, recentemente, testes de COVID-19. Entretanto, na opinião de Passos Neto, é possível avançar ainda mais. “O setor público já sinaliza com regras para que o farmacêutico exerça diversas funções, mas ainda temos dificuldade no financiamento federal, que não contempla o pagamento desse profissional ou de seus serviços. Essa é uma mudança que aguardamos respaldada no marco da farmácia como estabelecimento de saúde”, aponta.

Papel na pandemia

Passos Neto ressalta ainda que os farmacêuticos tiveram papel fundamental no combate à pandemia de COVID-19 e foram de grande importância para a saúde pública. “Graças à sua capacidade de adaptação e conhecimento, o farmacêutico foi um dos primeiros profissionais de saúde que identificaram sintomas, dispensaram medicamentos, realizaram exames e encaminharam aos médicos e estabelecimentos de saúde os casos mais graves”, explica.

Passos Neto acrescenta que, durante a pandemia, os farmacêuticos que atuam em laboratórios de análises clínicas se destacaram pela preocupação em desenvolver sistemas de coletas mais viáveis e eficientes para o teste de COVID-19. “São os farmacêuticos analistas clínicos que aliam a moderna tecnologia de aparelhos, instrumentos e exames para um diagnóstico mais conclusivo ou excludente de doenças”, observa, citando testes de sangue, secreção nasal e outros exames que foram disponibilizados para a população durante esse período. “São profissionais que, apesar dos baixos valores de exames, continuam prestando um serviço profissional e sério ao SUS [Sistema Único de Saúde]”, reforça.

Por mais avanços

Na avaliação do farmacêutico, Ponta Grossa dispõe de uma boa assistência farmacêutica, baseada na distribuição de estabelecimentos que favorece o acesso da população dentro e fora do horário comercial. “O segmento pode crescer através dos serviços prestados pelos farmacêuticos, como consulta, acompanhamento farmacoterapêutico, vacinação e práticas integrativas e complementares, oferecendo informações sobre cosméticos e suplementos nutricionais”, exemplifica. “No setor público também pode ocorrer um avanço, oferecendo mais serviços farmacêuticos nas unidades de saúde através do aumento de farmacêuticos”, avalia.

Para o farmacêutico, o futuro da farmácia – enquanto profissão e segmento comercial – está marcado por desafios, como evitar uma proposta de comercialização de medicamentos em supermercados, a falta de remédios, a carência de incentivo ao programa Farmácia Popular e a concorrência de outras profissões nas análises clínicas. “Mesmo com ações contrárias à profissão e aos direitos da população de receber atenção qualificada, a Farmácia é uma profissão em que a atuação profissional se mantém digna, agindo com ética e responsabilidade perante o paciente”, conclui.

Conteúdo publicado originalmente na Revista D’Ponta #293 Novembro/Dezembro de 2022.