Quinta-feira, 25 de Abril de 2024

Enfoque D’P: Por que temos tanto medo do futuro?

2021-11-21 às 10:53
Conteúdo exclusivo publicado na Revista D’Ponta #287 Outubro/2021

Era 30 de outubro de 1938, um domingo no período da noite, quando o âncora da CBS anuncia nos microfones que o planeta Terra está sendo invadido, e que isso seria o final dos tempos, com a extinção da raça humana. A sequência de fatos causou uma histeria coletiva nos ouvintes da emissora de rádio em Nova York, que, na sequência dos fatos, ficaram mais aterrorizados. Pois bem, o episódio, na verdade, era uma adaptação da obra A Guerra dos Mundos, de H.G Wells, executada por Orson Welles. Trabalhar com assunto que mexe com o imaginário popular fez com que Welles entrasse para a história do rádio. Mas por que esse assunto mexe tanto com as pessoas?

O interesse pelo assunto faz com que cada pessoa tenha sua interpretação ou opinião do que poderá acontecer. Uma delas representa a visão hoje da maioria da população, a exemplo do servidor público Paulo Simões, que acredita no fim do mundo através de algum desastre climático. “Geralmente, como em muitos filmes, sempre falam em um fenômeno como a era glacial, mas observando o desmatamento, assim como o processo de desertificação em algumas partes do país, me faz acreditar em algo que termine com fogo”, justifica.

Em contrapartida, o professor de história Luan Azevedo não acredita em um cenário de fim do mundo, ou de extinção da raça humana. Para ele, a Terra está em constante processo de evolução, e que quaisquer desastres climáticos são, na verdade, sinais que o planeta emite para nos dar uma mensagem. “Os desastres são um processo de evolução, assim como se fosse uma febre do mundo, que tentam diminuir as bactérias que somos todos nós, e por extensão todo o nosso sistema de produção industrial”, afirma.

Mas o que livros sagrados, como a Bíblia Cristã, têm a dizer a respeito da nossa situação climática atual, e também sobre a pandemia que assolou o mundo nos últimos tempos?

Quem explica um pouco da visão da Bíblia sobre esses assuntos se apresenta como porta-voz das Testemunhas de Jeová para a Região Sul, Gilson Strechar, que considera a inquietação a respeito do futuro como algo colocado em nós pelo Criador. “De acordo com Eclesiastes 3:11, ‘Deus fez tudo belo ao seu tempo e pôs eternidade em nossos corações’. Com base nesse texto, fomos criados com o desejo de viver. Por isso, sentimos medo e receio de alguma coisa que tenha o potencial de causar nossa destruição”, considera.

Depois de mais de um ano da decretação oficial da pandemia do coronavírus, Strechar afirma que, de acordo com a visão bíblica, a doença pode ser apontada como um sinal do fim, mas que não seria o maior e sim um deles. “A Bíblia prediz que os problemas do mundo atingirão seu clímax e descreve um padrão de eventos e atitudes que compõem o “sinal”, que ocorreria durante um período chamado de últimos dias. 2 Timóteo 3:1 a 5 diz que ‘nos últimos dias, haverá tempos críticos, difíceis de suportar’.”, expõe.

Em tempos econômicos complicados, com escassez de empregos, a fome e a insegurança alimentar passaram a fazer parte do cotidiano de muitas famílias no Brasil, e segundo o porta-voz, esse também seria um dos sinais apontados pela Bíblia. “Mateus 24:4 a 12 e Lucas 21:11 descrevem esse período marcado por guerras, fome, terremotos num lugar após outro e epidemias. E além do esgotamento da Terra pela má administração humana dos recursos naturais, teríamos de lidar com a decadência dos valores humanos, pois as pessoas seriam traiçoeiras, amantes de si mesmas e amantes do dinheiro. Esses dias seriam marcados pela ganância e falta de amor ao próximo.”, pondera.

Além desses sinais, Strechar conta que a Bíblia possui vários livros que fazem revelações daquilo que aconteceria no fim dos tempos. No entanto, ele considera que isso não deve ser um tema que cause terror nas pessoas, mas sim uma segurança de que tudo acabará bem. “O próprio nome já revela: “últimos dias”. Isso quer dizer que, em breve, todos esses eventos que causam medo nos humanos terminarão. Deus promete acabar com tudo que nos faz sofrer, nos dando a maravilhosa esperança descrita em Apocalipse 21:4: “Ele enxugará dos seus olhos toda lágrima, e não haverá mais morte, nem haverá mais tristeza, nem choro, nem dor. As coisas anteriores já passaram.”, conclui.

SINAIS DO TEMPO

Presidente da Igreja Tehillah (nome hebraico que significa louvor que traz libertação), o pastor João Montes ressalta que, para os cristãos, a Bíblia é um livro que possui autoridade máxima sobre qualquer assunto. Dessa forma, ele explica que o cânone narra várias passagens a respeito do tema, entre elas  a epístola de Pedro: “nos dias do fim, muitos deixariam de acreditar que nosso mundo teria um fim.”

Nesse sentido, João esclarece que a religião possui uma área chamada de Escatologia, que seria a ciência bíblica responsável por estudar esses eventos e dar sentido a eles. “A maioria deles tem origem no dispensacionalismo, que anuncia o arrebatamento dos cristãos seguido de uma grande tribulação, bastante temida por muitos”, comenta.

O pastor João Montes lembra também que essa tribulação não se trata  da única vertente, ao falar a respeito de uma visão que interpreta os acontecimentos de maneira “menos fatalista”. “Existem ainda outras correntes escatológicas, entre elas a do doutor Hector Torres, chamada de Escatologia Triunfante. Neste caso, o futuro da humanidade será menos fatalista, mas sim um avanço do Reino de Deus em toda Terra, a partir de grandes avivamentos”, acrescenta.

Assim como Gilson Strechar, Montes utiliza o verso bíblico de Mateus 24, que fala abertamente sobre os “sinais do tempo do fim”, para ilustrar sua visão a respeito dos últimos dias. Para ele, a passagem não revela, de fato, que o que temos vivido é o fim, mas que deveria servir como um sinal de alerta. “Jesus responde aos discípulos orientando que não devemos nos deixar enganar. Em seguida, pontua sinais que antecederão a sua volta, a propósito de guerras, rumores de conflitos, fome mundial, pestes, terremotos em vários lugares e perseguição aos cristãos. Porém, deixa antever que esses eventos representam somente o princípio das dores”, enfatiza.

Apesar da assertividade da mensagem, que pode causar algum tipo de espanto para alguns, o pastor João pondera que essa mensagem de Jesus Cristo não deve causar uma histeria coletiva, mas sim criar, na verdade, algum tipo de reflexão a respeito de como temos vivido. “A consequência desses sinais dolorosos deve ser uma reflexão para a humanidade a respeito de sua fé e comportamento”, completa.

Indagado a respeito da pandemia, João Montes acredita que ela também pode ser considerada como um sinal, mas que, além de uma preocupação com o fim, deveríamos pensar em como seríamos encontrados, quando de fato tudo terminar. “A humanidade ao observar essas coisas (…). Nada melhor do que, quando o fim chegar, sejamos encontrados vigilantes, amando uns aos outros”, pondera.

Pastor João Montes, Presidente da Igreja Tehillah