O episódio envolvendo uma professora do Colégio Sagrada Família que realizou uma suposta saudação nazista dentro de uma sala de aula e foi filmada por estudantes tem repercutido nacionalmente e revelado posicionamentos nocivos, conforme profissionais entrevistados pelo D’Ponta News. Para o psicanalista Daniel Frances, a situação demonstra um perigo latente. “Lamentavelmente nós temos a situação do gesto, se ele realmente se configurar como nazista, num momento em que grupos neonazistas, principalmente no sul do Brasil, têm se fortalecido de uma forma gigantesca. Nós temos em Curitiba grupos neonazistas extremamente fortes e poderosos. O nazismo é uma ideia e como ideia ele se propaga, se difunde e passa a ser perigoso. Constitucionalmente e judicialmente, é um crime previsto como algo a ser sentenciado a um inquérito judicial”, pondera.
O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) da Subseção de Ponta Grossa, Vitor Hugo Bueno Fogaça, considera o fato como de extrema gravidade, especialmente no momento de polarização política no país e que, caso se comprove o gesto como nazista, ele deve ser considerado crime com pena de reclusão de dois a cinco anos. “Isso tem que ser avaliado com muito cuidado, não se pode normalizar situações como essa, porque uma vez normalizado se abre um campo precedente para que outras práticas aconteçam e isso é ainda mais agravado quando vem de uma profissional que deveria trazer para os alunos um contexto de repúdio a qualquer fato, imagem, símbolo que remeta a questões nazistas”, avalia.
O posicionamento é compartilhado por Daniel, que acredita que o ambiente em que o ato foi realizado pode ser considerado um agravante. “Em tempos de polarização, conflitos ideológicos, políticos e sexuais que nós estamos vivendo no país, o cuidado que nós temos que ter com o que falamos e manifestamos é gigantesco. Nenhuma escola pode permitir que um professor vá com buttons de partido político, que se utilize de seu espaço como de manifestação de sua política. Eu posso até expressar minhas ideias, mas não posso me vestir de esquerda ou de direita”, explica.
Questionado sobre a repercussão do caso, Daniel acredita que o colégio aplicará as medidas cabíveis. “Eu não creio que isso possa ser acobertado, até porque saiu da dimensão municipal para uma dimensão nacional”, diz. Já Fogaça reforça que “cabe sim à instituição de ensino deixar claro quais são as posturas que serão adotadas, e que haja também, por parte da profissional, uma explicação sobre essa prática que foi lamentável”. “Nós da Comissão de Direitos Humanos da OAB repudiamos totalmente essa prática e esperamos de fato que a escola possa dar uma resposta, não só aos pais dos alunos, como os próprios estudantes e também a toda sociedade que está assistindo essa situação”, afirma.