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Assessoria

Viver Sem Medo: evento da Itaipu reforça urgência do combate à violência contra a mulher
Atividade integra os 21 Dias de Ativismo e reuniu especialistas, autoridades e organizações para discutir enfrentamento às violências
O auditório do Centro de Recepção de Visitantes da Itaipu ficou lotado na tarde de quarta-feira (10), durante o encontro Viver Sem Medo: Pelo Fim da Violência Contra a Mulher. Promovido pelo Comitê de Gênero, Raça, Diversidade e Inclusão da Binacional, o evento reuniu mais de 150 pessoas, entre empregadas(os), terceirizadas(os), jovens aprendizes e mulheres atendidas por instituições e projetos parceiros.
A iniciativa da empresa integra a Campanha dos 21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência Contra a Mulher, cujo objetivo é chamar a atenção da sociedade para a urgência de proteger as mulheres e seus direitos. A campanha reúne ações culturais, de comunicação e de mobilização social, além de intervenções em espaços públicos, incorporando datas estratégicas que dialogam com a realidade das brasileiras, como o Dia da Consciência Negra (20/11) e o Dia Internacional dos Direitos Humanos (10/12).
A coordenadora do Comitê, Jéssica Maris Maciel, percebeu a grande presença de público como demonstração do interesse coletivo em discutir a proteção e a vulnerabilidade das mulheres diante da violência. “Iniciar o diálogo é um passo importante que damos rumo a uma sociedade mais justa, porque não tem como ter uma sociedade justa se as mulheres vivem com medo”, afirmou.
O diretor administrativo da Itaipu, Iggor Gomes Rocha, falou que a data da atividade, embora decidida há meses, tornou-se “ainda mais necessária” devido aos crimes recentes contra mulheres no Brasil. Ele mencionou que eventos como o Viver Sem Medo ajudam a ampliar a discussão pública do tema, inclusive na imprensa e no Congresso Nacional, e são fundamentais para que as autoridades tomem medidas.
Apesar da satisfação com o auditório lotado, o diretor apontou a gravidade da situação das mulheres, afirmando que “o momento impede qualquer tipo de felicidade” e que as medidas tomadas até agora pela sociedade têm impactado menos do que o esperado, já que os números de violência seguem crescendo. Ele concluiu que a questão é “muito mais profunda, de caráter cultural” e que é preciso dialogar sobre o problema com homens e meninos, pois “o que estamos vivendo é um apocalipse”, comparou.
O diretor-geral brasileiro da Itaipu, Enio Verri, gravou um vídeo apresentado no encontro, reforçando o compromisso da empresa com a promoção da diversidade e o enfrentamento à violência contra a mulher.
Verri disse que o evento integra um esforço permanente da Itaipu para ampliar o debate sobre a questão e salientou o papel dos homens no enfrentamento à violência de gênero. “O combate a qualquer tipo de violência contra a mulher precisa mobilizar principalmente nós, os homens. Se estivermos juntos, construiremos um ambiente que apoie e transforme”, destacou.
A delegada-chefe da Delegacia da Mulher de Foz do Iguaçu, Giovanna Antonucci, ao ministrar a Palestra Magna do encontro, abordou a alarmante realidade da violência contra a mulher na cidade, destacando que Foz do Iguaçu registrou o maior número de feminicídios do Paraná em 2023, superando inclusive a capital, Curitiba, e outras cidades maiores. “Foram sete feminicídios consumados e sete tentados. Um total de 14 casos, em contraste com apenas um homicídio tentado de um homem por uma mulher no mesmo período. Portanto, violência de gênero não é ‘mimimi’ ou exagero, mas uma questão séria que exige reflexão e combate”, disse Antonucci, ressaltando que a Lei Maria da Penha não visa prejudicar o agressor, mas proteger as vítimas.
Durante a palestra, ela lembrou que a nova Delegacia da Mulher de Foz do Iguaçu foi construída com apoio da Itaipu e tem todas as condições para atender as vítimas de violência de forma individualizada, humanizada e confortável.
A delegada também detalhou a origem da Lei Maria da Penha, que, segundo ela, é a terceira mais protetiva do mundo, atrás apenas das legislações específicas da Espanha e do Chile. “A Lei Maria da Penha aplica-se em casos de violência doméstica, familiar e em relações íntimas de afeto, independentemente da orientação sexual da vítima, desde que se identifique com o gênero feminino.” Antonucci ainda desmistificou a ideia de que a lei é usada de má-fé pelas mulheres, afirmando que são raros os casos de falsas denúncias.
Por fim, descreveu as diferentes formas de violência contra as mulheres (física, psicológica, sexual, patrimonial e moral) e explicou que o ciclo da violência inclui o tensionamento, o ato violento e o arrependimento do agressor. A delegada enfatizou que, embora as medidas protetivas de urgência sejam eficazes - com 90% de cumprimento e nenhum feminicídio registrado na cidade, desde 2017, entre mulheres com medida protetiva vigente - o combate à violência de gênero exige políticas públicas e a desconstrução da cultura machista.
A segunda e última etapa do encontro Viver Sem Medo contou com o painel sobre “Direitos e políticas públicas para a mulher em situação de violências”. Em formato de roda de conversa, as participantes explicaram sobre as organizações e iniciativas das quais fazem parte. O debate foi mediado por Victoria Pedro Correa, coordenadora da política de gênero da Itaipu Binacional.
Participaram Cândida Leopoldino, advogada e docente do IFPR no campus de Coronel Vivida; Giani Carla Ito, doutora em Computação Aplicada e professora da UTFPR no campus de Santa Helena; Isadora Minotto Schwer, doutora em Direito, professora da Unioeste e coordenadora dos Núcleos de Práticas Jurídicas da instituição e o projeto Numape (Núcleo Maria da Penha; Maristela Bail, inspetora da Guarda Municipal e coordenadora da Patrulha Maria da Penha de Foz do Iguaçu; e Rafaela Zago, professora da Cesufoz, mestre em Saúde Pública e psicóloga do Centro de Referência em Atendimento à Mulher em Situação de violência (CRAM).
Evelin Somavilla Guerra, estudante de 16 anos e jovem aprendiz no comércio de Foz do Iguaçu por meio do CIEE (Centro de Integração Empresa-Escola), contou que a participação no evento a fez refletir sobre a dimensão cultural da violência contra a mulher. Ela também disse que saiu do encontro mais consciente da importância de buscar ajuda já no primeiro sinal de agressão. “Hoje a gente tem apoio, tem para quem ligar. E o principal que aprendi é que, ao primeiro sinal, você deve procurar uma instituição, a polícia ou um centro de apoio. É a denúncia que te ajuda a saber o que fazer e a superar”, completou.
Paralelamente à programação, o encontro Viver Sem Medo contou com uma Feira de Artesanato, trazendo peças únicas produzidas pelas artesãs da Associação dos Clubes de Mães de Foz do Iguaçu. Cada criação carrega histórias de força, cuidado e tradição, valores que dialogam com a essência do evento: empoderamento e união feminina.
O evento terminou com um coffee break animado ao som do trio de forró Comadre Sebastiana.