Domingo, 25 de Maio de 2025

Família de jovem desaparecido no Paraguai sustenta que ele foi capturado depois de defender mulher agredida

2022-10-24 às 11:41

O drama da família Streski, do estudante de Medicina desaparecido no Paraguai, completa 19 dias. Durante entrevista ao programa Manhã Total, apresentado por João Barbiero, na Rádio Lagoa Dourada FM (105,9 para Ponta Grossa e região e 90,9 para Telêmaco Borba), nesta segunda (24), a tia do estudante desparecido, Julia Streski, informa novos detalhes apurados nas investigações.

“Está absurdamente difícil, porque hoje já sabemos que não tem, como já foi divulgado, envolvimento com entorpecentes, nem envolvimento de nada criminoso, mas que, sim, ele é vítima de algo que ainda, não sabemos, mas, muito possivelmente, algo passional, porque foi defender alguma mulher que foi vítima de agressão”, diz.

Segundo Julia, “pessoas muito poderosas” estão envolvidas no sumiço do jovem ponta-grossense, o que dificulta o trabalho da polícia. “Todas as pistas que foram chegando desde o início das investigações eram falsas”, relata.

De acordo com a tia do estudante, a situação “beira ao desespero, a um pesadelo”. Ela e a mãe do rapaz estavam na manhã desta segunda (24) no gabinete do Departamento Antissequestro da Polícia Nacional do Paraguai. “Meu sobrinho está desaparecido há quase 20 dias. Fez, hoje, 19 dias. Estamos aqui acompanhando as investigações que, agora, estão a cargo da Polícia Antissequestro”, conta.

Investigações

Julia comenta que foi ao Consulado Brasileiro tão logo chegou ao Paraguai. Depois que a irmã dela veio dos Estados Unidos, onde mora, estudantes da Universidade Maria Auxiliadora (Umax), onde Antônio Augusto cursa o último ano de Medicina, iniciaram manifestações para exigir mais ajuda das autoridades. Um agente da Polícia Federal brasileira acompanha o trabalho desempenhado pela polícia paraguaia.

Quem, de fato, se ocupa das investigações é o Departamento Antissequestro da Polícia Nacional do Paraguai e a própria família, que tem corrido atrás das pistas, algumas desencontradas, que chegam até ela. Julia acredita que o aparato e o preparo da polícia brasileira, “uma das mais bem equipadas e mais bem treinadas de toda a América do Sul”, deve servir de grande auxílio para os paraguaios no resgate, numa operação conjunta.

Pistas indicam que Antônio está vivo

A perícia encontrou resquícios de sangue no apartamento de Antônio, em pequena quantidade. “Ficou provado que o apartamento foi limpo e, depois, foi feita a perícia. Notou-se que tinha um pouco de sangue lá. Sabemos que ele está vivo, porque já foi visto ele sendo transportado de um lugar para outro e até porque o corpo não apareceu, nem foi pedido resgate. Temos estas informações e temos a certeza de que ele está vivo e esperamos resgatá-lo com vida”, afirma.

A repercussão do caso na imprensa brasileira e internacional comoveu mães do mundo inteiro. De acordo com Julia, mães do Brasil, do Canadá, dos Estados Unidos e da Irlanda, por exemplo, manifestaram solidariedade.

Organizações criminosas

Julia acredita que não se trata de um sequestro por dinheiro ou por troca de qualquer possível vantagem ou benefício aos sequestradores. “Aconteceu uma situação absurdamente curiosa, que inclusive as organizações criminosas vieram para cá, para nos dizer que ele não tem nenhum envolvimento com nenhuma organização criminosa”, destaca.

O destaque dado pela imprensa ao desaparecimento do estudante estaria “atrapalhado os negócios criminosos dessas organizações”, que teriam manifestado interesse na resolução breve do caso, porque desperta a atenção da polícia para a região da fronteira.

“No sábado (22), representante de uma dessas organizações, na madrugada, nos chamou para nos dizer que não tem nenhum envolvimento com eles e que eles, inclusive, vão começar a trabalhar para ajudar a encontrar meu sobrinho, porque isso precisa parar, porque os negócios precisam seguir”, aponta.

“É o absurdo do absurdo que o crime venha dizer isso, enquanto as autoridades brasileiras não estão fazendo nada. Estamos num país estrangeiro, neste momento, estou no gabinete da Polícia Antissequestro, conversando com um oficial. Eles estão trabalhando para trazer meu sobrinho e a polícia brasileira não nos mandou nenhuma ajuda para que a polícia paraguaia possa seguir fazendo seu trabalho e possa ajudar a trazer meu sobrinho de volta”, protesta.

Aflição de uma mãe

Julia relata que, mesmo aflita e abatida, Isabel tem se ocupado pessoalmente na busca de pistas que levem ao paradeiro do filho. “Minha irmã está trabalhando como uma investigadora mesmo, apesar de toda a dor de uma mãe. Ela está passando a dor e correndo atrás das investigações para trazer o filho de volta”, conta.

Isabel acredita que seu filho está vivo. “Meu coração de mãe está dizendo que ele está vivo e que tudo isso tem um propósito. Tenho orgulho do filho que criei, é um filho que não se deixa levar pela violência, que defende quem está sendo massacrado, defende quem está sendo violentado e tenho muito orgulho dele”, afirma.

Mesmo abatida, a mãe se mantém firme no propósito de reencontrar o filho e tem se apoiado na fé. “Se não fossem as orações e ter me apegado com Deus, creio que não teria suportado. Hoje, há grupos pelo Brasil inteiro que estão em vigília 24 horas. Estou participando de alguns para acompanhar. Desde o Paraná até o Mato Grosso, Bahia, todos os lugares, fora do Brasil também. São essas orações que estão me mantendo em pé. Tem horas que vem o desespero, mas creio que as orações são mais fortes, aí me converto a detetive e a espiã de novo e vou atrás de mais informações”, comenta.

A tia de Antônio apela à imprensa e às pessoas influentes que possam fazer chegar a quem é de direito, que concentrem esforços e autoridades prestem o auxílio necessário para resgatar Antônio Augusto. ” Precisamos de auxílio com meios, agentes, tecnologia, tudo o que possa vir para encontrar o Antônio Augusto, para que realmente o Itamaraty, o governo brasileiro, façam alguma coisa para que possamos trazer meu sobrinho com vida”, salienta Julia.

Apoio de autoridades locais

Segundo Julia, foi por intermédio da deputada federal Aline Sleutjes (PROS-PR) que o Itamaraty fez uma chamada de telefone para Isabel, afirmando que, nesta segunda (24), deve fazer uma reunião com o Consulado e com a Embaixada do Brasil no Paraguai.

Os deputados estaduais Mabel Canto (PSDB) e Plauto Miró Guimarães (União) também fizeram uma manifestação na Assembleia Legislativa. “Hoje, estamos pedindo para que eles façam novamente, porque precisamos da manifestação dos políticos locais para que o poder público se mova; até porque, nesse momento político, só estão pensando em eleição”, frisa.

Interpol

A Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol) deu entrada no caso na manhã desta segunda (24). “Agora, pela manhã, me chamou o delegado da Polícia Federal e, a partir de agora de manhã, a Interpol está envolvida. Mas não por determinação do Itamaraty, mas por relações pessoais nossas”, conta.

“Hoje, sou eu que estou aqui. Amanhã, pode ser qualquer outra mãe procurando seu filho, como já foram mais de 20 mães, que tiveram que buscar seus filhos em situações similares e outras, em situações piores, que tiveram que buscar seus filhos dentro de caixão. Alguma coisa precisa ser feita”, implora.

Destacado e exemplar

A tia de Antônio pontua que, diferente de muitos alunos brasileiros, ir estudar Medicina no Paraguai, para ele, foi uma opção e não uma necessidade por não conseguir passar num vestibular no Brasil, que é sempre muito concorrido. “O Antônio tem uma inteligência muito acima da média, ele dava aula para outros alunos, era um estudante exemplar da faculdade, um aluno que sempre foi o 1º lugar na faculdade, em todos os anos que esteve aqui [no Paraguai]. Veio estudar aqui porque queria sair direto para a residência nos Estados Unidos e a faculdade onde ele está estudando tem esse convênio e essa possibilidade, tanto que todo o curso dele ele estudava em inglês”, explica.

Ainda conforme Julia, Antônio é um estudante “absolutamente preparado” e um dos poucos brasileiros da turma que já falava, inclusive, o guarani. “Para nós, está sendo uma loucura tudo isso que está acontecendo e minha irmã está tendo que ter forças muito mais do que só de uma mãe. Ela está tendo que ser uma verdadeira heroína, porque ela virou o símbolo de todas as mães que estão no Brasil, pelos brasileiros que estão aqui. São mais de 100 mil brasileiros que estudam Medicina aqui e que, pelos quais, o governo brasileiro sequer sabia o número de estudantes brasileiros que tem aqui”, diz.

Julia conta que Antônio nasceu em Pinhão (PR), mas que cresceu em Ponta Grossa, onde viveu a vida toda. A tia destaca que ele serviu ao Exército no 13º BIB, onde foi condecorado e conquistou todos os reconhecimentos no quartel. “Ele tem uma característica que, em tudo que ele entra para fazer, ele faz muito bem”, ressalta.

Confira a entrevista de Julia Streski na íntegra: