A ginecologista e especialista em saúde da mulher, Adriana Lopes, aborda a importância do Outubro Rosa no estímulo para que a mulher procure atendimento médico, em entrevista ao programa Manhã Total, apresentado por João Barbiero, na Rádio Lagoa Dourada FM (105,9 para Ponta Grossa e região e 90,9 para Telêmaco Borba), nesta terça (18). Segundo ela, em outubro, mesmo após anos de campanha, o consultório registra aumento de procura de mulheres para fazer exames de rotina.
A especialista em ginecologia e obstetrícia se formou pela Faculdade Evangélica do Paraná (Fepar) e atua desde 1992. Com cursos na área de estética íntima e genital, também realizou perícia médica ortomolecular e atuou na direção do Hospital Santa Tereza, em Guarapuava. Em Ponta Grossa, a médica curitibana atende com foco nas especialidades em que é formada, mas também realiza tratamentos voltados à saúde, autoestima, bem-estar e estética íntima feminina.
Adriana frisa que a saúde da mulher é de interesse geral, porque todos têm filhas, mães, irmãs ou esposas e esse cuidado para com a mulher é extremamente importante. “Outubro foi direcionado para o mês do cuidado com a mulher e ainda hoje, com tantos anos, percebemos, no consultório, nitidamente, uma procura muito grande da mulher neste mês para fazer sua rotina. A mulher ainda acaba deixando de lado, deixa para um segundo momento o cuidado, o autocuidado”, comenta.
Segundo a ginecologista, existe uma procura ao longe de todo o ano, mas é em outubro que a agenda fica completamente lotada – fato que atesta a eficácia da campanha Outubro Rosa. “Todos os meses do ano são importantes para que possamos fazer nosso cuidado. Mas outubro chama justamente isso, parece que dá um ‘gatilho’ em que a mulher percebe: ‘esse mês, eu preciso cuidar de mim'”, afirma.
Adriana aponta que o Outubro Rosa, de início, procurava estimular a mulher ao autoexame para a detecção precoce de câncer de mama, que é o mais frequente entre mulheres. Entretanto, outro câncer que acomete muitas mulheres é o de colo do útero. “Ainda ocupa um ranking bem alto de estatísticas. Se pensarmos, em torno do 3º ou 4º lugar entre os mais frequentes”, comenta.
De acordo com o Instituto Nacional do Câncer, o de colo de útero foi o terceiro câncer que mais atingiu mulheres no ano de 2020, atrás do câncer de mama e de cólon e reto. Foram 16.710 novos casos naquele ano, o que correspondeu a 7,5% dos diagnósticos. O câncer de corpo de útero correspondeu a 2,9% dos diagnósticos, com 6.540 casos novos em 2020, data da pesquisa mais recente. Ainda segundo o INCA, o câncer de colo de útero ocasionou 6.627 mortes entre mulheres e equivale ao quarto tipo de câncer que mais matou mulheres naquele ano.
“A diferença entre o câncer de mama e o câncer de colo de útero é que o câncer de colo de útero não precisaria existir, porque nós conseguimos intervir antes de ele acontecer”, diz. Segundo a ginecoloogista, o câncer de colo de útero é detectado num exame preventivo muito simples – o papanicolau, que deve ser feito anualmente.
De acordo com Adriana, no exame preventivo, o ginecologista pode notar pequenas alterações, que são retiradas e a mulher não vai desenvolver o câncer. “Por isso, ficamos tão frustrados, porque esse câncer é evitável, que se previne com o cuidado da mulher”, diz.
A depender das diretrizes de saúde, é recomendado que a mulher faça esse exame a partir dos 24 anos, mas nada impede que ela o faça mais cedo, logo que iniciar a atividade sexual, especialmente se não tiver sido vacinada contra o HPV. O papilomavirus humano (HPV) é o agente causador do câncer de colo de útero (99% dos casos) e pode ser transmitido por via sexual, tanto do homem para a mulher quanto da mulher para o homem. No entanto, no homem, o vírus não causa sintomas.
“Neste ano, tive três pacientes jovens, entre 30 e 35 anos, com diagnóstico de câncer de colo de útero adiantado. O profissional de saúde se sente frustrado numa situação dessas”, diz. Sobre a recuperação, a ginecologista observa que pode variar de acordo com a gravidade da lesão. “Existem algumas lesões que são extremamente agressivas, mas a maioria não e consegue fazer o tratamento”, complementa.
Vacina contra o HPV
A vacina contra o HPV, desde setembro, é aplicada a meninos e meninas com 9 a 14 anos. Antes, era aplicada somente aos 11 anos, mas a medida busca aumentar a cobertura vacinal. Como existem mais de 60 tipos de HPV que podem infectar a região genital e serem transmitidos. A vacina tetravalente protege contra os tipos mais comuns e, portanto, ainda existe o risco de transmissão, mesmo vacinado.
A mulher que foi vacinada deve ser examinada anualmente, de igual maneira. “O fato de ter feito a vacina não faz com que a mulher não precise nunca mais fazer o exame. Mas ela tem uma liberdade maior de espaço entre um exame e outro. Normalmente, o exame é anual, mas a mulher que fez as três doses da vacina ou duas doses, pelo SUS, pode fazer a cada dois ou até três anos”, orienta.
Adriana reforça o alerta para que as mães ou responsáveis levem os filhos para vacinar. “O recado é: cuide da sua filha. Cuide, porque quando você tem esse carinho com ela, com sua filha, com sua sobrinha, com alguma conhecida que não tenha feito a vacina, você está dando a possibilidade de ela ter uma saúde ginecológica por muito tempo. Não temos o direito de não fazer isso”, diz.
Mulheres que optaram por iniciar a atividade sexual mais tarde também podem tomar a vacina depois dos 14 anos. “O benefício da vacina é tomá-la antes de ter tido a possibilidade do contato com o vírus, que é sexualmente transmissível. Quando essa mulher não teve relação, ela ainda vai ser beneficiada”, explica.
No caso de mulheres já sexualmente ativas que ainda não foram vacinadas, a médica observa que ela pode, também, ser imunizada. No entanto, nesses casos, a ênfase maior é a orientação ao uso do preservativo – “que ainda é muito deixado de lado”, salienta. “Existe uma faixa etária em que a mulher se beneficia da vacina e até mulheres hoje, que têm o diagnóstico de HPV no preventivo, fazem a vacina para fazer uma melhoria na sua imunidade, para evitar que esse vírus continue evoluindo e que ele possa retroceder. Existem casos específicos em que indicamos fazer a vacina mesmo quando a mulher já tem o diagnóstico de um contato com o HPV”, afirma.
Rotina
A “rotina”, na linguagem médica, corresponde aos exames preventivos ginecológicos, feitos com uma periodicidade pré-determinada. “É quando a mulher vai anualmente ao ginecologista, seu médico de confiança e ela não tem queixas e vai fazer um exame de rotina. Ela vai fazer uma prevenção das mamas, uma prevenção do colo do útero, do ovário e, normalmente, acaba fazendo um check-up de exames de laboratório. O ginecologista acaba sendo um médico muito próximo e quando a mulher faz essa rotina, ou seja, não tem uma queixa específica, fazemos, de A a Z, para ela precisar ir uma vez só no médico e ficar bem cuidada e atenta a todos os detalhes que são necessários”, explica.
Segundo Adriana, ainda há muitas mulheres que deixam de fazer o exame ginecológico por vergonha ou porque se sentem invadidas. Em alguns casos, de acordo com a médica, pode ser reflexo de terem sido vítimas de abuso. “São mulheres que ficam mais expostas ao desenvolvimento da lesão”, comenta.
A ginecologista observa que, gradativamente, tem reduzido a resistência das mulheres a irem ao médico por vergonha. Entretanto, afirma que persistem tabus, especialmente quando há em casa um marido machista, que não aceita que a mulher seja examinada por um homem. Essa ideia prevalece mais ao interior, onde, nem sempre, há médicas ginecologistas disponíveis. Nesses locais, a política do SUS é que a enfermeira faça a coleta do exame preventivo de colo do útero.
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Confira a entrevista de Adriana Lopes na íntegra: